O dia em que Max Cavalera foi preso após mal-entendido envolvendo a bandeira do Brasil
Por Mateus Ribeiro
Postado em 30 de maio de 2025
Em 1994, o Sepultura vivia um de seus momentos mais marcantes. Naquele período, o grupo formado pelos irmãos Max (guitarra/vocal) e Iggor Cavalera (bateria) promovia o influente álbum "Chaos A.D.", lançado em setembro do ano anterior. Com uma sonoridade pesada e inovadora, o disco mistura groove metal, hardcore e outros estilos.
Sepultura - Mais Novidades
A turnê do "Chaos A.D." passou pelo Brasil nos dias 15 e 22 de janeiro de 1994. Max e seus colegas de banda se apresentaram no festival Hollywood Rock, com shows em São Paulo e no Rio de Janeiro. A primeira performance, no estádio do Morumbi, gerou uma situação polêmica para o vocalista.
"Foi um grande mal-entendido"
Durante o show em São Paulo, Max recebeu uma bandeira brasileira da plateia. A partir dali, surgiram problemas, como ele contou em entrevista à Revolver Magazine.
"Foi um grande mal-entendido. Tocamos em um grande festival e alguém jogou uma bandeira no palco, então eu a segurei para o público. Fui preso por isso porque alguém no local do show disse que eu pisei na bandeira como um protesto contra o Brasil. Eu achava que todo esse tipo de perseguição policial já tinha passado e, de repente, 20 policiais entram no meu camarim e eu sou levado para a cadeia. Eu estava sendo acusado de ser antibrasileiro."
Na mesma entrevista, Max relatou que a situação ganhou proporções absurdas. Ele foi alvo de boatos e até mesmo de críticas em programas de televisão:
"A história continuou crescendo. As pessoas começaram a dizer que eu tinha cuspido na bandeira, depois que tinha mijado na bandeira e, finalmente, estavam dizendo que eu tinha c*gado na bandeira. Foi ridículo. Todos esses programas de entrevistas no Brasil tinham caras dizendo que eu deveria ser linchado. Um cara disse que eu deveria receber a pena de morte. Eu dizia: ‘Você está brincando comigo, cara? Que porra é essa?’. Liguei para minha avó e ela disse: ‘Por que você tinha que fazer isso com a bandeira do Brasil?’. E eu respondi: ‘Vovó, eu não fiz nada com a bandeira. Eu só segurei a bandeira. Todo o resto foi inventado!’."
Prisão e conversa sobre futebol
Max passou cerca de quatro horas detido. Apesar do susto, conseguiu trocar uma ideia com um dos oficiais envolvidos:
"Fui para a cadeia e fiquei lá por quatro horas. Gloria [esposa e empresária de Max] foi comigo. Foi assustador quando fui retirado do camarim, porque eles saíram como uma força policial bruta e me algemaram. Foi muito assustador (...).
Mas quando cheguei à delegacia, o capitão disse: ‘Não se preocupe com isso. Vai ficar tudo bem. Você vai ficar aqui um pouco e depois, quando sair, dê algumas entrevistas e diga que eu o tratei muito bem e fui legal’. Eu falei: ‘Não me importo. Só quero dar o fora daqui’. E acabou que ele gostava dos mesmos times de futebol que eu, então acabamos nos tornando um pouco amigos enquanto eu estava lá."
Desabafo, Elis Regina e até presidente
O episódio também foi comentado em entrevista de Max a João Gordo, publicada na Folha de S. Paulo. O ícone do metal citou um dos maiores nomes da música brasileira e deu uma cutucada em uma famosa banda:
"Quando a Elis Regina morreu, por exemplo, mudaram a frase da bandeira que estava sobre o caixão dela, mas não aconteceu nada. Só porque era a Elis Regina. E o Sepultura é mais famoso que a Elis Regina fora do Brasil, mas é Sepultura, é barulheira, é cabeludo, é tatuado. O logo da MTV é colocado no meio da bandeira nacional e não tem problema. Os ‘goiabas’ do Hawaii fazem um monte de discos com a bandeira do Brasil e ninguém pega no pé."
Em seguida, João Gordo citou que um grupo brasiliense queria processar o Sepultura por conta do nome. Ao comentar o imbróglio, Max relatou que chegou a cogitar uma conversa com Itamar Franco, que presidiu o Brasil entre 1992 e 1995.
"De novo, né? Quando li o jornal comecei a rir. Acho que a gente até devia colocar os caras pra abrirem nosso show pra ver o que acontece.
Se esse negócio começar a ficar muito chato, até pensei em pedir uma audiência com o presidente. Eu ia sentar com ele e dizer: ‘Olha mano, é o seguinte, não tenho nada contra a bandeira, nem pisei nela. Fiz um gesto muito legal ao levantar a bandeira. O que você acha disso tudo?’. Queria trocar uma ideia com ele lá em Brasília. Dizer, sem entrar naqueles nacionalismos idiotas, que sou brasileiro, gosto pra caramba do meu país e promovemos bem o nome do país lá fora. Nós sempre tocamos na gringolândia e somos uma das únicas coisas saídas do Brasil que não é catástrofe, que não tem mau nome. Apesar de eu ser tatuado e cabeludo."
Felizmente, Max superou essa treta. Fora do Sepultura desde dezembro de 1996, ele segue levando o peso do metal brasileiro ao mundo com as bandas Soulfly, Cavalera Conspiracy, Go Ahead and Die e Killer Be Killed — mantendo viva a essência rebelde que sempre o acompanhou.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



A farsa da falta de público: por que a indústria musical insiste em abandonar o Nordeste
Brian May escolhe os 5 maiores bateristas e inclui um nome que poucos lembram
Disco do Pink Floyd atinge o topo das paradas do Reino Unido 50 anos após lançamento
Show do System of a Down em São Paulo entre os maiores momentos do ano para revista inglesa
O guitarrista que Neil Young colocou no mesmo nível de Hendrix, e citou uma música como "prova"
Com shows marcados no Brasil em 2026, Nazareth anuncia novo vocalista
Novo boletim de saúde revela o que realmente aconteceu com Clemente
A banda que John Paul Jones considerava num patamar acima do Led Zeppelin
A opinião de Robb Flynn (Machine Head) sobre o Sleep Token
Anthrax grava clipe do primeiro single do novo álbum: "Um grande dia para todos nós"
O megavocalista que Axl Rose teve como seu maior professor; "eu não sei onde eu estaria"
15 rockstars que são judeus e você talvez não sabia, segundo a Loudwire
A banda muito pesada que Sandy está sendo obrigada a ouvir por causa do filho de 9 anos
Flea acha que todo fã ama música? Nem sempre - e isso ajuda a entender Regis Tadeu
A música "esquecida" do Dream Theater que fala sobre pilantragem

Max Cavalera tentou repetir a fórmula de "Roots Bloody Roots" em clássico do Soulfly
O disco que o incansável Max Cavalera mais se divertiu gravando
Max Cavalera acha que escrever letras de músicas é uma tarefa entediante
Cinco músicos brasileiros que integram bandas gringas
De Tony Iommi a Jim Martin, os guitarristas que Max Cavalera admira
O clipe do Sepultura inspirado em uma das guerras mais complexas da história
Max Cavalera achou que seria substituído no Sepultura por alguém como Robb Flynn
Sepultura confirma datas da última turnê europeia da carreira
Jairo Guedz traduz com analogia absurdamente triste a saída de Max Cavalera do Sepultura


