Theo: álbum sob medida para fãs de prog setentista
Resenha - Game of Ouroboros - Theo
Por Roberto Rillo Bíscaro
Postado em 30 de novembro de 2015
Nota: 9
Jim Alfredson é um tecladista de Michigan, que curte sonoridade vintage e tem trabalhado em diversos projetos, a maioria influenciados por jazz, blues e outras vertentes da música negra norte-americana. Em janeiro, ele mostrou faceta bastante surpreendente com sua banda Theo, cuja sonoridade remete aos áureos tempos setentistas do rock progressivo com ênfase em Hammonds e quejandos, só que com produção bem moderna.
The Game of Ouroboros foi lançado pela Generation Prog Records, mas a gravação foi conseguida graças a crowdfunding. Cada vez mais comum no mundo globalizado, o financiamento coletivo consiste na obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes de financiamento, em geral pessoas físicas interessadas na empreita. O termo é muitas vezes usado para descrever especificamente ações na internet com o objetivo de arrecadar dinheiro para artistas, jornalismo cidadão, pequenos negócios, campanhas políticas, iniciativas de software livre, filantropia e ajuda a regiões atingidas por desastres, entre outros.
A independência e coletivismo da produção têm tudo a ver com a temática do álbum, que se situa num futuro onde o governo funciona como megacorporação, que controla tudo na vida individual. Ouroboros é aquela serpente ou dragão representada/o em círculo, comendo o próprio rabo e é essa visão distópica que predomina nas letras com passagens tipo "controlamos a merda que você come". Mais claro que isso, só desenhando.
Mas, o que mais importa é a quase 1 hora de música energética dividida em 6 canções. Tudo começa com a faixa-título, que inicia como carpete de teclados sob vocal simulando opções num menu telefônico, até que guitarras entram para dominar a canção, ainda que haja mudanças de andamento e clima nos mais de 9 minutos. Fãs de prog guitarreiro, de Nektar a David Gilmour, não terão do que reclamar desse introito.
The Blood That Floats My Throne entroniza os teclados, embora haja guitarras. Suntuosas, as teclas soam de eclesiásticas a sci fi, num clima bem genesiano à The Lamb Lies Down on Broadway. Creatures Of Our Comfort tem percussão inspirada pelo oitentista The Police, com sua inflexão reggae/ska.
These Are The Simple Days começa como balada ao piano para desaguar numa correnteza de Moog de orgulhar o Tony Banks de The Cinema Show. Idle Worship já começa nervosa como alguns clássicos tecladísticos do Emerson, Lake and Palmer. Há uma ponte pop prog – presente dos Beatles – e daí começa longo e virtuoso instrumental, onde mais se nota a influência jazzística de Alfredson. É um arraso e a mais longa de The Game of Ouroboros.
Pena que a maior parte de Exile seja arrastada, senão seria fecho doirado. A partir de 7:30, o tom que encerra o álbum é bombástico, mas os quase 12 minutos da canção soam anticlimáticos por mais da metade do tempo.
Não obstante esse defeito, The Game of Ouroboros prova que fãs do prog sinfônico setentista ainda não estão órfãos. Pode não ser fácil, mas de vez em quando aparece diamante nesse garimpo.
The Game of Ouroboros pode ser ouvido na íntegra no Bandcamp.
https://generationprog.bandcamp.com/album/the-game-of-ouroboros
Tracklist
1. The Game of Ouroboros 09:41
2. The Blood That Floats My Throne 08:18
3. Creatures of Our Comfort 06:51
4. These Are the Simple Days 08:05
5. Idle Worship 13:28
6. Exile 11:14
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