2019: resenha de 10 bons discos lançados em Março
Por Tiago Froks
Postado em 23 de maio de 2019
Essa lista refere-se a um apanhado de álbuns que foram lançados em março (ou próximos a esse período) e tem como fio condutor apenas o fato de pertencerem ao espectro do rock, considerando qualquer uma de suas diversas vertentes. Essa lista particularmente contemplou bandas menos conhecidas, mas isso não é um critério estabelecido. As 2 listas anteriores tinham nomes mais clássicos, mas tratou-se apenas de uma coincidência de lançamentos dessas bandas. Abaixo estão o link das listas de janeiro e fevereiro:
TÝR
Hel
(progressive folk metal) ILHAS FÉROE
Vindos de um arquipélago com uma população pouco superior a 50.000 mil habitantes, o TÝR provavelmente é o nome vinculado à música mais famoso do país (é um território pertencente à Dinamarca). Conheço a banda já há alguns anos. Por ter intimidade com sua discografia, fico confortável ao dizer que o álbum está entre os mais diversificados de sua carreira. A sonoridade está ainda mais melódica do que a de seus antecessores. Os guitarristas Terji Skibenæs e Heri Joensen fizeram um trabalho realmente inspirado. Além do timbre, que desde sempre é uma marca registrada em suas composições, ainda temos solos trabalhados e felizmente mais extensos – um dos melhores deles está na faixa de abertura "Gates of Hel". A tradição de cantar em sua língua natal mantém-se em duas faixas "Ragnars kvæði" e "Álvur kongur". A mitologia nórdica continua sendo o mote das letras. Temas como "Empire of the North", "Far from the Worries of the World" e "Against the Gods" são bons exemplos. O progressivo na sonoridade da banda não é do tipo escancarado. O mais certo seria dizer que a banda tem uma postura progressiva em algumas composições. O mesmo serve para o termo folk, que instrumentalmente, é pouco perceptível. A influência realmente fica evidente quanto à parte lírica e ao visual: tanto o dos integrantes quanto à arte das capas. Dito isso, quero ressaltar o quanto a banda é singular no meio ao qual pertence: não existe nada análogo ao som do TÝR! Mesmo sem excessos, eles conseguiram gerar uma identidade absurda. Sobre os destaques do disco: a primeira que me chamou atenção foi a "Sunset Shore". Pensei em muito sobre o que dizer dessa faixa, mas nada melhor do que o seguinte: é a "Fade to Black" do TÝR. Se o METALLICA tivesse surgido em Tórshavn e não em São Francisco, a música soaria exatamente assim! Já na faixa "Ragnars kvæði" temos a banda fazendo aquele coro típico, como se estivessem entoando uma prece. O fato de cantarem na língua feroesa intensifica ainda mais o apelo folk da canção. Na introdução de "Songs of War" um susto: sem cerimônia alguma, a banda rumou para o power metal - os solos são praticamente de neoclássico! O disco todo é muito equilibrado: não há nenhuma faixa descartável. Boas composições, instrumental refinado e linhas melódicas forjadas no capricho.
BETTER OBLIVION COMMUNITY CENTER
Better Oblivion Community Center
(indie / folk) USA
Essa banda na verdade trata-se de um duo. Antes do lançamento do álbum, Conor Oberst e Phoebe Bridgers já eram músicos com certa trajetória. O primeiro participara de diversas bandas, sendo a mais notável delas a indie BRIGHT EYES. Bridgers, por sua vez, lançou seu primeiro registro em 2015. Foi um EP chamado Killer e continha apenas 3 faixas. Fora lançado pelo selo do artista alternativo RYAN ADAMS. Em conjunto com a banda LORD HURON, teve também uma participação relevante com o tema "The Night We Met" trilha da série 13 Reasons Why, da Netflix. Acabei ouvindo o disco por acaso, afinal não tinha nenhuma referência sobre ele – mas felizmente aconteceu de eu gostar bastante do que escutei. A combinação dos dois artistas foi satisfatória em todos os sentidos! O folk de Bridgers casou perfeitamente com o indie de Oberst. E o inverso também é verdadeiro. O tema "Dylan Thomas" é uma prova convincente dessa simbiose. As vozes de ambos combinadas, desde os primeiros versos da introdução, passando inclusive pelo refrão, atesta uma afinidade surpreendente. O tema é um folk rock convencional, dando proeminência à guitarra apenas nos instantes finais. "Sleepwalkin" já ruma mais para o rock alternativo e dá ênfase ao vocal de Obesrt, ao menos na primeira parte da música – na segunda metade, Bridgers nos apresenta uma linda voz carregada de feeling. É um dos melhores temas do disco! O lado mais folk do álbum aparece na canção "Chesapeake". Envolta numa atmosfera nostálgica, a composição foi feita para emocionar e ativar antigas memórias – acredito que seja essa a minha preferida! O disco todo remete, até certo ponto, à bandas como o LOW. Nessa linha, temos o slowcore de "Big Black Heart" e "Service Road". Esse é um disco introspectivo e até certo ponto ingênuo. Facilmente podemos imaginá-lo como sendo trilha de algum filme ou série cool norte americana.
SPIDERGAWD
V
(hard rock / stoner) NORUEGA
Seria um exagero dizer que a banda é formada por célebres músicos da Noruega. Mas exagero ainda maior seria desconsiderar a trajetória de pelo menos dois de seus integrantes. Kenneth Kapstad é um baterista bem experimentado que já atuou em diversas bandas, sendo a mais proeminente delas o MOTORPSYCHO. Seu estilo de tocar varia bastante, indo do doom ao jazz. Já o vocalista e guitarrista Per Borten, atuou em nomes menos conhecidos e bem diversos, como o MOVING OSS e o CADILLAC. Acabei descobrindo a banda num blog de doom, mas não vejo como classificá-la nesse segmento – apesar de perceber algumas influências do estilo. Nesse novo álbum, intitulado apenas V, a banda aprofundou levemente a sua sonoridade. Até então, eles tocavam um hard blues, numa linha revival, com alguns ecos de KISS. Já as novas composições receberam uma dose maior de peso e se encaixam com certa folga sob o rótulo de NWOBHM. Ouça os riffs da faixa "Knights of C.G.R" e veja se ela não parece emergir da primeira metade dos anos 80. A faixa de abertura "All and Everything" pode causar certa estranheza. O tema inicia com um solo de saxofone! O instrumento atípico aparece durante quase todo o disco, geralmente como coadjuvante, quase sempre acompanhando a guitarra. O refrão desse tema remete sensivelmente a "Wasted Years" do IRON MAIDEN – e também possui um grande trabalho de bateria. As demais faixas do álbum acompanham a fórmula: riffs variando do stoner para o hard rock e refrãos bem construídos. Há também interessantes solos de guitarra, como o da última faixa "Do I Need a Doctor...?".
MÄGO DE OZ
Ira Dei
(folk metal) ESPANHA
Sou muito suspeito para falar da banda. Para dar uma pálida ideia do quanto, eu a coloco no meu TOP 5 de preferidas (sim, eu tenho um TOP 5). Ouvi o disco todo no dia do lançamento. Mas por se tratar de um disco duplo, quis ouvi-lo amiúde e assim ter mais propriedade para esmiuçá-lo. A impressão geral, é a de que o álbum cumpre aquilo que os fãs esperam. A parte lírica aborda os temas de sempre: referências bíblicas com o singular ponto de vista crítico do Txus; analogias com histórias fantasiosas; diversão e bebidas; e é claro, muito sentimentalismo. Esse é o terceiro álbum de inéditas com o Zeta, vocalista que substituiu o grandioso José Andrëa. Dos três lançamentos, coloco o presente disco abaixo do Hechizos, Pócimas y Brujería de 2012 (que achei realmente muito bom) e muito acima do Ilussia de 2014 (que disparado, considero o mais fraco da banda). Como é praxe nos álbuns duplos da banda, a primeira faixa é uma introdução. "Jerusalem D.C." é um tema curto que antecede uma melodia que será trabalhada com muito mais elementos na última faixa do disco. "In Eternum", também segue uma espécie de tradição: todas as segundas faixas dos álbuns duplos da banda são longas e atuam como uma síntese de todo o disco. A primeira vez que ocorreu foi em "Satania" do clássico Finisterra". Outra particularidade dessas faixas é a veia power metal – todas elas guardam esse aspecto. Como são muitas faixas que constituem o disco, 18 no total, vou me aprofundar naquelas que considerei as principais. "Tequila Tanto Por Vivir" cumpre o papel de ser a referência bêbada da lista. Sempre há espaço para "la cerveza" nos lançamentos da banda. O acento folk dela é bem acentuado e possui aquela atmosfera descontraída que é marca registrada. "La Cantiga de las Brujas" foi escolhida como single e foi comentada por mim numa lista passada onde resenhei algumas das melhores músicas já lançadas em 2019. Apesar da letra ser um pouco clichê e o tema "bruja" ser meio batido, temos uma boa composição. A flauta da introdução evoca bem as raízes folclóricas da banda. E ainda temos um refrão de impacto "Es el baile de los malditos / Es la danza de Lucifer / Maleficios sobre una hoguera / Negra noche de poder". O Mägo de Oz sempre reserva espaço para alguma balada – e dessa vez não foi diferente. "Espera en el Cielo" traz todo o melodrama da língua castelhana que, juntamente com os vocais mais-que-emotivos do Zeta, completam um cenário de fazer chorar: seja de melancolia ou de cafonice mesmo. Só ouvindo para entender...Ainda temos a cômica "La Triste Historia de Jimmy Tiro en el Pie" com um atípico riff de violão e as animadas passagens de violino. Finalmente, temos o ponto máximo do disco com "Ira Dei" uma suíte com mais de 17 minutos. Mesmo esse tema aparentemente incomum, também é parte de uma tradição da banda de encerrar seus álbuns com faixas bastante longas. O tema retoma uma melodia que aparece na introdução do álbum e essa é uma ótima sacada. Ao reaparecer no meio da composição, a sensação de "deja vu" é muito vívida. Há diversas mudanças de andamentos, variados solos, de guitarra e teclado, e ainda o melhor refrão do disco: "¿Dónde está Dios? / ¿En un altar o en la risa de un niño? / ¿Cuál es tu Dios? / ¿El que castiga O el que vive en tu forma de amar?". Na parte mais calma, temos também o melhor trecho vocal do Zeta – com um feeling realmente impressionante. Apesar de muitas composições previsíveis, o álbum está longe de ser ruim. É verdade que eu sempre espero muito da banda, afinal eles já lançaram discos maravilhosos! Talvez com o tempo eu passe a gostar mais dele... Em suma, disco mediano da maior banda espanhola de todos os tempos! O BARÓN ROJO é a segunda! E o MEZQUITA a terceira! E a lista é enorme...
SUPERSISTER
Supersister Projekt 2019: Retsis Repus
(rock progressivo) HOLANDA
Robert Jan Stips é uma lenda do teclado e o grande mentor do SUPERSISTER. Antes de entrar na resenha do disco, vale falar um pouco sobre a banda. No início da década de setenta eles lançaram cinco álbuns! O primeiro deles, Present from Nancy, de 1970 foi um divisor de águas! Até então, o termo rock progressivo era novidade e de certa forma, o estilo só se estabelecera um ano antes, com o lançamento de In The Court of the Crimson King, do KING CRIMSON. A sonoridade desse primeiro álbum era de vanguarda e sofisticação inéditas. Os grandes trunfos ficavam a cargo dos inusitados timbres de teclados e da performance incrível da bateria. Distante quase 50 anos do seu debut, me deparo com esse lançamento e sem pensar duas vezes corri para escutá-lo. O disco começa com "Memories are New IV". Há toda uma elegância na composição: seja com o violino discreto ou com as vocalizações suaves. As inserções de sintetizadores são precisas e, mesmo quando ferem a harmonia da faixa, fazem-no com maestria. "I am you are Me / Transmitter" recupera muito dos primórdios da banda. A levada jazzística na bateria e o teclado fazendo contraponto, são de uma beleza ímpar! Novamente os timbres explorados pelo sintetizador de Stips são de tirar o fôlego! Depois de um breve interlúdio, inicia a "For You and for Nobody Else". Novamente o flerte com o jazz surge e, dessa vez, num contexto ainda mais rico. Um trombone colabora com a melodia na primeira parte da composição e o violino contrasta num segundo momento com passagens bem melancólicas. Belíssima interação! O álbum todo não tem guitarras - mas as mutações de teclado chegam a emular o instrumento, como em "Yellow Days". Apesar de eu me considerar um entusiasta do presente, não deixo nunca de celebrar alguma banda do passado quando lançam discos realmente bons. Nesse caso, o disco é ótimo!
PERIPHERY
Periphery IV: Hail Stan
(djent / progressive metal) USA
Para quem desconhece o termo "djent", cabem algumas breves explicações: o estilo é uma evolução do metalcore. Para ser um pouco mais preciso, pode-se dizer que é uma etapa para além do math metal. Essa vertente do metal é relativamente nova e inclusive passa pelo envolvimento de um dos guitarristas da banda. Misha Mansoor foi um dos primeiros entusiastas e divulgadores do termo. De forma muito resumida, as composições do djent são definidas por riffs sincopados e com altas doses de distorção. O math metal também possui essas características, porém no djent, há outros elementos. A melodia é muito mais explorada e geralmente há revezamento entre vocais guturais e outros bastante emotivos (dizer emo não seria exagero). Para valer-me de exemplos apenas nesse disco, notem o contraste absoluto em faixas como "Blood Eagle" e "It’s Only Smiles". Enquanto a primeira é extremamente pesada e abusa da distorção e dos vocais guturais, a segunda já possui riffs mais limpos e uma atmosfera que aproxima a sua sonoridade da de bandas como o COHEED AND CAMBRIA. Outra característica marcante do djent é a complexidade. Tempos incomuns e polirritmias são constantes em suas composições. Além do já descrito, é possível também identificar influência de nu metal e ainda de progressivo. Ouçam a faixa "Crush" e não será difícil rememorar o LINKIN PARK. Para exemplificar a proximidade com o progressivo, peguem a primeira faixa "Reptile". A megalomania está bem presente nos seus mais de 16 minutos de duração. A abertura emula a música clássica e dentro em pouco os pesados riffs sincopados aparecem. As mudanças de andamento acontecem com frequência e a imprevisibilidade reina. O comum não é bem-vindo por aqui.
DEVIN TOWNSEND
Empath
(progressive metal / experimental) CANADÁ
Não adianta só botar para rodar. Esse disco necessita de sua total atenção. Tentei por 2 vezes escutá-lo para verificar se ele é realmente tudo aquilo que estão dizendo. A princípio, não consegui ver nem sombra de todo o furor com que os fãs aclamaram o disco. Acontece que hoje pela manhã, com um bom fone de ouvido e com toda a atenção que pude reunir, consegui vislumbrar ao menos parte dessa empolgação. De cara, posso dizer que o álbum teve um cuidado todo especial com a parte vocal. A voz do Townsend, além de característica, é muito versátil. Há também alguns participantes especiais, como a Aneeke, para citar o nome mais proeminente. As melodias vocais são bem trabalhadas e muitas vezes, complexas. Pode-se facilmente afirmar que esse é o aspecto mais valioso das composições. Outro detalhe que fortalece essa percepção é o apelo ópera rock da maioria das faixas. Passando por uma breve introdução, temos o princípio das coisas, numa interessante cosmogonia townsendiana. Além da luz e da Lua, Devin aproveitou o seu sopro criador e deu vida à dor, a monstros e também a nós (você leitor e eu). Esse refrão é sem dúvida uma bela criação! E o mesmo se arrasta por toda a composição. "Genesis" é o ponto central do álbum, e vou além, é um microcosmo de Empath. Vários elementos do disco se encontram resumidos aqui. Para não estender demais os comentários sobre o tema, quero só salientar a breve participação da cantora Ché Aimee Dorval, sua companheira de CASUALTIES OF COOL. Em "Spirits Will Collide" temos ênfase no trabalho vocal. Os coros são bem explorados e pouco a pouco a melodia vai fixando na cabeça. Outro bom momento do disco. "Evermore" inicia como uma balada. Depois, seguindo a profusão de ideias do álbum, recebe mais elementos e novamente temos uma expressiva performance de vozes. Além do que já foi falado, é importante ressaltar o aspecto moderno que permeia todas as composições. Além da guitarra, Townsend também dedica parte do seu talento a explorar o teclado e suas infinitas possibilidades. Sem dúvida um belo disco, mas que exigirá muito dos ouvintes.
ENFORCER
Zenith
(heavy metal) SUÉCIA
O álbum anterior de estúdio, From Beyond, lançado em 2015, esteve na minha lista de melhores daquele ano. Fato esse que me fez esperar muito de Zenith. E o resultado é o seguinte: gostei, mas não tanto quanto eu imaginava. As composições continuam embebidas nos anos 80, desde os timbres de guitarra, passando pelos vocais do Olof e até o formato das faixas. O que possivelmente freou meu entusiasmo, foram alguns direcionamentos dentro do disco. A começar pelo tema "Die for the Devil". É sem dúvida um som legal, mas foge do formato heavy metal que eu esperava e queria ouvir. A faixa é um hard rock, bem na linha na linha do hair metal, o que não é ruim, mas se comparada (malditas sejam as comparações!) com "Destroyer" do disco anterior, nota-se uma perda considerável de energia e de peso. Em "Zenith of the Black Sun" temos uma postura mais heavy, porém cadenciada, com reminiscências de Dio. A despeito da falta de riffs velozes, os solos estão caprichados. Os desse tema são talvez os melhores de todo o disco. Já em "Searching for You" a banda recupera o vigor dos lançamentos anteriores. Os riffs são forjados no mais puro speed metal e de cara foi o som que mais curti. O próximo tema é provavelmente o mais controverso do álbum. A composição é um amálgama torto de sonoridade oitentista com alma pop e refrão indie. As guitarras dobradas surgem com destaque na boa "The End of a Universe". Apesar de carecer de velocidade, a dinâmica dela lembra "From Whom the Bell Tolls" – o que é uma belíssima recordação. "Sail On" arrisca por um caminho quase progressivo. A bateria explora tempos quebrados e um furtivo teclado incorpora matizes incomuns à banda. "One Thousand Years of Darkness" seria uma canção menor, mas por conta dos solos soberbos, acaba não sendo descartável. Já para o final do disco, temos a mais acelerada "Thunder and Hell" que além dos riffs céleres, conta com um inusitado encerramento erudito tocado no violão. Não fico satisfeito comigo quando percebo que estou sendo saudosista de alguma maneira. Mas nem sempre as mudanças são apropriadas. Um amigo meu adorou o disco exatamente por fugirem do speed metal. Eu já desgostei pela falta. Gosto é gosto, certo?
JUPITER
Iosomnia
(heavy psych / stoner / progressive) FINLÂNDIA
Esse não é um disco fácil. São apenas 4 faixas, todas com mais de 8 minutos de duração. As composições transitam dentro do espectro do doom: seja o stoner ou o psicodélico. Tenho certo apreço pelo estilo, mas a constante semelhança entre a sonoridade das bandas, me faz ser um pouco seletivo. Acabei escolhendo esse álbum dentre uma enxurrada de tantos outros, por conta da sua veia progressiva. Esse aspecto mais complexo, fez com que eu enxergasse as composições com outros olhos. O primeiro instrumento que me chamou a atenção, foi a bateria. Com tempos irregulares, contratempos e viradas empolgantes, a batera acrescentou bastante sofisticação às faixas. A guitarra já tem uma natureza mais fluida e é responsável pela lisergia das composições. As percepções diversas causadas no ouvinte derivam de efeitos espaciais e caóticos. Há temas viajantes e outros bem pesados, como no tema "Return to Zero". Esse é o representante sludge do disco. Como é constante em bandas de heavy psych, é constante o formato de jam das faixas. Não há uma melodia central, tampouco refrão. A música vai se desenrolando e explorando o que vier pela frente. Por exemplo, durante os instantes iniciais de "Forgotten Twin" até rola um flerte com o post rock. Depois a faixa já ruma para um caminho stoner e viajado – com vocais bem característicos ao estilo. "Quantic Being" é a minha favorita. Começa numa levada jazzística de bateria. A guitarra pontua alguns acordes e o baixo segura a estrutura do tema. Depois desse primeiro momento, a composição se intensifica e ruma para algo mais experimental. É a faixa mais "esquisita" – e por isso mesmo, a mais interessante.
LE ORME
Sulle ali di un sogno
(rock progressivo) ITÁLIA
Não posso dizer que esse é um grande disco. Nem mesmo é possível dizer que seja original. Mas senti a necessidade, ou para ser mais verdadeiro, senti uma grande vontade de resenhá-lo. O LE ORME é um dos grandes nomes do rock progressivo italiano. E foi através dessa escola que comecei a apreciar essa variante do rock que hoje é-me tão cara. A banda está na ativa há mais de 50 anos. É uma marca assombrosa. E é claro que houve percalços diversos. Porém não é esse o foco desse texto. Minha intenção é colocar o leitor da resenha em contato com a obra riquíssima da banda. Se esse disco servir como uma porta de entrada, já estarei mais que satisfeito. A critério de informação, acho relevante comentar que apenas o baterista é remanescente da formação original. E que com exceção de 2 faixas, todas as demais são releituras de composições antigas. A despeito da falta originalidade e do fragmentado line-up, temos ainda a sutileza e o bom gosto de outrora. "Estratto de Collage" é a faixa de abertura. É uma referência direta ao tema "Collage" do disco homônimo de 1971. A melodia é recriada com elementos mais simples e com um caráter clássico. Após um breve tema intitulado "Preludio" (que conta com a ilustre participação do violinista David Cross, ex-KING CRIMSON) temos uma versão lindíssima de "Gioco di Bimba", do clássico álbum Uomo di Pezza, de 1972. O tema tem a participação da cantora pop Francesca Michielin. Eu amo a voz do Aldo Tagliapietra, mas essa participação ficou realmente encantadora. Outro momento alto do disco é na faixa "La Via della Seta". Com participação do tenor finlandês Eero Lasorla, o tema soa forte e ao mesmo tempo emocional. A próxima faixa que quero destacar já consta com o vocalista atual Alessio Trapella. Com um instrumental lacrimoso, "Verità Nascoste" tem uma beleza profunda. Sem dúvida achei-a superior a versão original do disco Amigo de Ieri, de 1997. Ademais, temos a mais roqueira, porém mediana "Canzone d'amore" e a quase progressiva "Sulle ali di un sogno". Infelizmente os dois temas inéditos me soaram fracos. Mas é apenas um detalhe. Ouçam o disco e se tiverem curiosidade, procurem a discografia da banda. É sublime!
Discos lançados em 2019
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