A era das redes sociais matou o "mistério" que havia por trás do rockstar?
Por Bruce William
Postado em 19 de agosto de 2025
Em artigo publicado pela Far Out Magazine, o autor Dale Maplethorpe defende que a figura do rockstar, tal como se consagrou nas décadas de ouro do rock, não existe mais. Para ele, nomes como Bob Dylan, Jimi Hendrix ou Joan Baez carregavam um tipo de aura que se perdeu na era em que fama e exposição estão atreladas ao imediatismo das redes sociais.
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Maplethorpe reconhece que as plataformas digitais têm méritos inegáveis. No âmbito pessoal, elas aproximam pessoas em diferentes partes do mundo; para artistas, são uma ferramenta poderosa, permitindo que bandas independentes divulguem sua música sem a necessidade de grandes gravadoras ou campanhas de marketing milionárias. Um algoritmo e uma hashtag podem fazer o trabalho que antes exigia orçamento robusto.
No entanto, é justamente nessa nova dinâmica que, segundo ele, reside o problema: o contato direto entre artista e público destruiu a aura de mistério. O rockstar, que antes parecia intocável, passou a ser acessível, corriqueiro, quase banal. "Cool" deixou de ser algo associado a distância e inacessibilidade para se tornar lives no TikTok, enquetes no Instagram e sessões de perguntas abertas no Twitter.

Para ilustrar o contraste, Maplethorpe lembra do tempo em que circulavam boatos de que o Led Zeppelin só poderia tocar como tocava porque era possuído pelo demônio. Fábulas de turnê falavam de rituais, sangue e pactos obscuros - histórias improváveis que, de alguma forma, ampliavam a sensação de que a banda vinha de outro mundo. "Quando as pessoas viam o Zeppelin no palco, acreditavam estar diante de algo sobrenatural", aponta.
No cenário atual, sustenta ele, isso seria inviável. Se Led Zeppelin existisse hoje, provavelmente teria de responder a entrevistas leves para blogs de backstage, participar de trends nas redes e mostrar Robert Plant lendo sobre samurais em stories, ou John Paul Jones passando o tempo no celular. Toda a mística desapareceria diante da banalização do cotidiano.

Na mesma linha, quando o Kiss desembarcou no Brasil pela primeira vez, parte da imprensa e do público estava convencida de que a banda encenava rituais macabros em seus shows. Corria até o boato de que Gene Simmons esmagava pintinhos com as botas no palco, acompanhado de outros "rituais bizarros". Era justamente esse tipo de exagero que alimentava o imaginário: não importava se era verdade ou invenção, mas a aura de perigo e mistério tornava a experiência mais intensa para quem ouvia os discos ou assistia ao espetáculo.
Para Maplethorpe, não se trata de condenar a proximidade entre ídolos e fãs, mas de constatar uma perda: a ilusão do rockstar, construída sobre distância e inacessibilidade, dificilmente voltará a existir. Prince, David Bowie e outros nomes que cultivaram essa aura parecem impossíveis na era da transparência digital. "O rockstar sobreviveu a várias transformações de estilo e de linguagem, mas o iPhone foi um passo longe demais", conclui Maplethorpe.

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