A banda que fez Robert Plant se envergonhar de ser ícone do rock
Por Bruce William
Postado em 17 de agosto de 2025
Robert Plant sempre carregou um desconforto em ser tratado como um monumento do rock. O vocalista do Led Zeppelin nunca se mostrou à vontade com a ideia de se tornar uma estátua viva de um passado glorioso. Para ele, a música era movimento, transgressão, energia, não uma moldura dourada pendurada no museu da história.
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Ainda nos anos 1960, quando o Zeppelin começou a despontar nos Estados Unidos, a banda já chamava atenção pelo peso e intensidade. "Começamos como desconhecidos em Denver, e quando chegamos a Nova York já éramos a segunda banda a tocar, antes do Iron Butterfly, e eles não quiseram subir ao palco", recordou Plant certa vez. Em poucos meses, os ingleses passaram de coadjuvantes a atração principal, deixando claro que um novo som havia chegado para mexer nas estruturas.
Esse impacto inicial ajudou a fixar o grupo como uma das bases do heavy metal, ao lado de Black Sabbath e Deep Purple. Mas a associação nunca agradou. Plant foi direto em sua rejeição ao rótulo, chegando até a ironizar: ao se deparar com um pôster do Judas Priest, comentou: "Se de alguma forma eu sou responsável por isso, eu me sinto realmente muito embaraçado." O couro, os rebites e a teatralidade do Priest, para ele, eram quase uma caricatura daquilo que o Zeppelin buscava.

Com o passar das décadas, Plant manteve essa distância crítica do metal. "Hard Rock, Heavy Metal nos dias de hoje é apenas uma maneira de se dizer 'Venha e me compre. Estou de braços dados com o Diabo - mas somente nesta foto, pois depois disso serei muito legal, e um dia vou crescer e empresariar um grupo Pop'", disparou em tom ácido. Para ele, muitos dos desdobramentos soavam como fórmulas comerciais, distantes do espírito selvagem e imprevisível que ele associava ao rock.
Nos anos 1980, a cena das hairbands reforçou essa sensação. Para Plant, aqueles grupos tentavam reproduzir a aura do Zeppelin, mas acabavam mergulhados em laquê, spandex e poses que beiravam o pastiche. Já na virada dos anos 1990, o grunge trouxe algum alívio, com bandas que, ao menos, soavam autênticas e intensas.

O choque maior veio nos anos 2000, com o sucesso mundial do nu metal. Foi aí que Plant não escondeu a perplexidade diante do fenômeno Linkin Park. Em trecho de entrevista publicada na Far Out, ele questionou abertamente: "Linkin Park... é isso mesmo que o rock se tornou?" A mistura de rap, guitarras e eletrônica parecia, para ele, uma ruptura brusca com a linhagem que vinha do blues e do hard rock.
Ainda que Plant não reconhecesse ali a continuidade do gênero, muitos apontavam outro lado: a legitimidade da dor transmitida por Chester Bennington. Em músicas como "Crawling" e "Faint", havia uma intensidade emocional que conquistava milhões de fãs. Plant podia não se enxergar naquele estilo, mas admitia que o rock sempre foi feito para quebrar regras e se reinventar, ainda que isso deixasse ícones do passado desconfortáveis.

No fim, a trajetória mostra um músico que nunca quis ser dono de um legado imutável. Do incômodo com o Judas Priest ao estranhamento com o Linkin Park, Robert Plant reafirma uma visão que acompanha toda a sua carreira: o rock não é sobre rótulos ou heranças fixas, mas sobre transformações, algumas que ele aplaudiu, outras que preferiu ver de longe.

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