O álbum clássico que Jeff Beck queria apagar da história: "Não pensava assim na época"
Por Gustavo Maiato
Postado em 02 de maio de 2025
Para Jeff Beck, sucesso comercial nunca foi prioridade. Ainda que tenha conquistado a crítica e deixado sua marca na história do rock, o guitarrista britânico sempre colocou sua liberdade artística acima de listas de mais vendidos. Mas, ironicamente, foi justamente um disco que ele preferia esquecer que o levou ao topo das paradas nos Estados Unidos. As declarações foram resgatadas pela Far Out.
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Lançado em 1975, "Blow By Blow" é considerado por muitos o ápice da carreira de Beck — ao menos em termos de popularidade. O disco instrumental, fortemente influenciado pelo jazz fusion, chegou ao 4º lugar na Billboard, mesmo sem ter faixas voltadas ao rádio. No Reino Unido, curiosamente, o álbum sequer entrou nas paradas.
Apesar do sucesso e da aclamação crítica, Beck desenvolveu um desprezo duradouro pela obra. "Eu estava determinado a não entediar ninguém com jazz", disse em entrevista à Guitar Player. "Coisas como ‘Blow By Blow’ são jazz sem filtro, mas eu não pensava assim na época."
Com o tempo, ele passou a ver o álbum como um desvio de sua essência. "Eu gostaria de não ter feito "Blow By Blow". Gostaria de não ter feito nenhum deles. São erros em vinil. Eu deveria ter continuado com o rock and roll mais cru, fui sugado por outra coisa."

O guitarrista afirmou que se sentiu fora do próprio controle criativo durante o projeto. "Era como estar numa prisão, tendo que tocar junto com músicos de jazz que queriam colocar o toque deles", comentou. Incapaz de impor seu direcionamento artístico, Beck disse que apenas acompanhava a onda: "Não consegui levá-los contra o próprio estilo, então aquilo foi o que saiu."
Entre as críticas que fez ao disco, chamou o som de "fuzak" — uma fusão pejorativa entre fusion e muzak (música ambiente), termo usado pelo baterista Simon Phillips. "Quando ouvi ele dizer isso, pensei: ‘É isso’. Peguei [o disco], coloquei numa caixa e joguei no lixo."
Beck explicou que, naquele momento da carreira, buscava "alguma solidez", algo com forma, melodia e harmonia: "Não só rajadas abstratas de ruído. Queria acordes bonitos que atraíssem o ouvido do ouvinte." Mas o preço foi alto. Após "Blow By Blow", tentou seguir a mesma linha com "Wired e There & Back", sem repetir o sucesso, e, segundo ele, perdendo o rumo de sua identidade criativa.

A carreira de Beck foi marcada por ousadia, mas "Blow By Blow" se tornou, em sua visão, um símbolo de um desvio que ele preferia não ter tomado. "Foi como colocar cobertura em cima de sorvete de baunilha para esconder o sabor. Ou você gosta de baunilha ou não."
Jeff Beck e "Blow By Blow"
A guitarra Oxblood Les Paul usada por Jeff Beck na capa do clássico "Blow By Blow" (1975) foi arrematada por US$ 1.317.111,00 — cerca de R$ 7,8 milhões — em um leilão da Christie's, superando em três vezes a estimativa inicial. O instrumento também foi utilizado por Beck no bis do último show de David Bowie como Ziggy Stardust, em 1973.

Segundo a Christie's, a peça era originalmente uma Gold Top, modificada posteriormente. A venda faz parte da coleção "Jeff Beck: The Guitar Collection", com mais de 130 itens do guitarrista, incluindo a lendária "Yardburst", de 1958, usada ainda nos tempos do The Yardbirds.
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