Sepultura: Quadra é a afirmação final
Resenha - Quadra - Sepultura
Por Thiago Barcellos
Postado em 10 de fevereiro de 2020
Nota: 9
A essa altura do campeonato, todo mundo já conhece a história da maior banda de metal do Brasil, Sepultura. Mas o foco aqui é o Quadra, então vamos deixar todo o drama dessa separação pra outro dia.
Quadra é a afirmação de que o Sepultura está aqui, e vocês vão ter que engolir. O álbum coroa a evolução dessa formação e a busca incessante por uma "identidade" que na minha opinião, era o que faltava para o grupo se desvencilhar de uma vez por todas do fantasma da reunião.
A partir do momento que Andreas & CIA desistiram de tentar ser a banda que já não eram mais o grupo cresceu vertiginosamente.
Todos na banda estão de parabéns em suas performances individuais, mas Andreas mostra aqui em Quadra porque é um dos maiores guitarristas do mundo.
A parte que lhe diz respeito no processo criativo do Sepultura está toda aqui. Logo, você vai ter muitas lembranças do Sepultura do Arise, Beneath e até do Schizophrenia por aqui. Mas não soa como uma tentativa forçada de resgatar esse feeling, mas justamente por desistir de tentar soar como antes que as coisas fluem naturalmente.
Quadra é um disco equilibrado, temos músicas fantásticas e músicas muito boas, mas o grande tesouro do disco está é nos detalhes. Um grande mérito do produtor Jens Bogren que definitivamente tem uma boa parcela de culpa no fato do Sepultura ter afirmado sua nova identidade.
Não há absolutamente nada sobrando, fora do lugar ou faltando em Quadra. É um disco pensado para ser grandioso. Mediator e Machine Messiah tem seus méritos, mas ainda faltava algo. E o que faltava está aqui em quadra.
Derrick está CANTANDO, meus amigos. Finalmente estão explorando suas capacidades vocais, usando de vocais mais melodiosos, mas ainda assim agressivos. E seus vocais agressivos estão mais agressivos que nunca. Simplesmente perfeitos.
Eloy me parece um pouco mais contido, apesar de ainda estar técnico ao máximo. Aqui ele parece ter encontrado o meio termo perfeito entre seu estilo ultra técnico e o feeling tribal que o Sepultura tem como marca registrada. Mas na hora de descer o braço o rapaz faz com maestria.
Paulo Jr está arriscando mais, ouvimos alguns fraseados de baixo durante algumas faixas que chega a surpreender, claro que se tratando de Paulo Jr.
E o Andreas, amigo...
Que arregaço, cara. Que solos! Que riffs! O cara tá simplesmente ARREBENTANDO TUDO na guitarra. Os arranjos de violão clássico são uma das coisas mais belas já feitas pelo Sepultura.
As músicas são todas muito boas, com vários detalhes que enriquecem demais o som da banda. E a cada ouvida mais e mais detalhes vão surgindo e você vai se envolvendo com as canções.
Indicar uma ou outra canção é um crime, mas me sinto ao menos no dever de citar minhas favoritas e falar um pouco sobre elas:
"Isolation", que foi inaugurada no Rock In Rio de 2019 é minha favorita. Intro foda, riff matador e refrão fodástico. Clássico imediato!
"Raging Void" é quebradona, técnica e com vocais incríveis, que chegaram a me lembrar algo de Gojira.
Agora em "Agony or Defeat" se preparem para ouvir um Derrick diferente de tudo que já ouviu dele.
Agora como nem tudo são flores, vamos a algumas críticas:
O álbum é dividido em duas partes bem distintas: A primeira mais rápida e pesada, Thrashões com riffs matadores, vocais idem, com muitas levadas de Black/Death que remetem ao princípio da banda.
E a segunda, mais experimental, mais tribal e mais elaborada também.
Ao meu ver, separar o álbum dessa forma não é uma boa, o ideal seria mesclar as músicas porque dessa forma parece que são dois álbuns distintos, com sonoridades distintas, o que não é. Mas colocar dessa forma assim o faz parecer.
Outra coisa, é que as músicas estão recheadas de orquestrações e coros (muitíssimo bem inseridos, devo dizer), além de várias camadas de guitarras que exaltam ainda mais a capacidade de Andreas. Mas e ao vivo? A banda sente demais a falta de uma outra guitarra ao vivo, já que a banda não pretende efetivar alguém, que use um músico contratado, oras. E vão ter que usar muitos samples, o que pode comprometer a natureza da performance de uma banda como o Sepultura. Fora que ao vivo ninguém entende o que o Derrick canta, e nesse álbum seu trabalho vocal é impressionante.
Mas enfim, você meu amigo que é viúva dos Cavaleras: Esqueça a banda que gravou Arise, Morbid Vision e Roots. Já era. Mesmo que Max e Igor voltassem amanhã pra banda, ela NUNCA mais soaria dessa forma. E sabe por quê?
Porque as pessoas EVOLUEM, meus amigos. A carreira de Max, Igor e Sepultura caminhou mais tempo separados que juntos a essa altura e eles não são mais ou mesmos.
Superem a separação da banda (afinal de contas, já fazem 23 anos porra!), curtam o Cavalera Conspiracy (que é foda), Curtam o Soulfly (que tem lançado álbuns fodas também) e ouçam os álbuns do Sepultura sem Max, principalmente esse Quadra.
Ao invés de lamentar que uma banda nunca mais voltará a ser como você queria, celebre que dessa cisão nasceram três boas bandas, conselho de amigo.
Você só tem a ganhar.
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