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Sepultura: Uma reflexão tardia sobre Quadra

Resenha - Quadra - Sepultura

Por Jean Carlo B. Santi
Postado em 28 de maio de 2020

Comecemos assim, simples e direto: nunca dei muita bola para o tudo o que Sepultura lançou pós "Era Max". E antes que os famigerados corneteiros de tocaia possam vociferar "viúva do Max", ou algo pior inerente à costumeira deselegância e hostilidade daqueles que não sabem conviver com opiniões distintas às suas, eu mesmo reassumirei: fui mesmo! E também de todos os outros integrantes, porque na verdade, acredito ser mais coerente ser citado como viúva do Sepultura, pois de igual forma, também não dispensei maiores atenções para os inúmeros projetos do Max.

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De fato, não consegui superar a decepção de ver o Sepultura, a banda brasuca de maior prestígio no cenário rock internacional, e que acabara de lançar um álbum tão aclamado pela crítica mundial como o "Roots", sendo considerado por muitos como um divisor de águas para novas vertentes do metal, como o new metal (ainda que me incomode citar rótulos, mas nesse caso, um mal necessário...), sendo inspiração de várias bandas de prestígio, enfim, ver a forma patética como a banda se separou, no auge da sua carreira, isso tudo foi demais pra mim. Hoje já quarentão, e naquela época ainda um adolescente, pude acompanhar de perto toda essa novela. Não quero entrar no mérito da discussão de quem estava com a razão, se Max ou Andreas e Cia, isso é totalmente desnecessário. É muito difícil, e seria até leviano, fazer qualquer julgamento a menos que você tenha vivido aquela situação dentro da banda. O que pude depreender por meio de tudo o que foi dito por todos esses anos, é que infelizmente, a banda terminou por pura falta de comunicação e empatia entre as partes, talvez exponenciadas pelos egos inflados, diante o sucesso que chegara ainda com mais força naqueles dias (convenhamos, o Sepultura não foi a primeira e nem a última banda a se desmembrar pelos mesmos motivos torpes...). Cheguei a comentar em outro artigo aqui publicado, que se o Sepultura não tivesse passado por essa dissolução, talvez não tivéssemos um Big Four, mas sim um "Big Five" do metal, ao lado do Metallica, Slayer, Megadeth e Anthrax. Pra quem tem menos idade, ou talvez não se recorde do tamanho que o Sepultura atingiu, destaco a agitação no cenário metal para as audições do novo substituto de Max, que contou com a ambição de vocalistas de bandas de peso como o Testament e Machine Head, entre outros, mas que acabou vencida pelo Derrick. Enfim, apesar deste prólogo nada sucinto, o assunto é mesmo o mais novo álbum do Sepultura: "Quadra".

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Com tudo de ruim que possa ter resultado de toda essa pandemia vivida no mundo, e com mais tempo para ficar em casa, ao menos readquiri um velho hábito e um dos meus maiores prazeres, que é poder parar tudo ao meu redor, colocar um fone de ouvido e me dedicar apenas a ouvir música, de preferência um álbum inteiro, do começo ao fim, sem interrupções, sem maiores preocupações ou distrações, apenas saboreando o som. Parece uma coisa banal, mas a vida que levamos nessa "selva de pedra", toda essa correria desenfreada, essa luta extenuante a que a maioria de nós nos submetemos dentro dessa sociedade combalida, onde sofremos maior pressão para podermos continuar apegados a futilidades que nós mesmos nos impomos, essas oportunidades de contemplação são cada vez mais raras. Talvez seja por isso que a maioria das pessoas continuam preferindo consumir o que é mais imediato para elas, ou seja, as músicas mais clássicas das bandas clássicas do rock, ao invés de se dedicarem a ouvir algo novo. O cansaço e apatia que se tornou o retrato de quem vive nas grandes cidades. Enfim, mas isso é pano de fundo para uma outra discussão, voltemos ao Sepultura, e ao "Quadra". O álbum foi lançado, e de cara, foi muito bem recebido por toda crítica especializada, pelos fãs e todo admirador de música pesada. Ainda assim, não consegui me sensibilizar para ouvir o álbum na ocasião de seu lançamento, imaginando que seria mais um entre os álbuns já lançados pós Max e igualmente elogiados. Contudo, com aquela história do "tempo ocioso", resolvi escutar alguma novidade, e, no já citado ritual, entrei no quarto, apaguei a luz, me acomodei em uma poltrona confortável, coloquei o fone de ouvido e dei play na primeira faixa, "Isolation". Fiquei inquieto na poltrona. Em poucos minutos, já era possível perceber uma nítida diferença no som. Na faixa seguinte, a porradaria continuou forte, e minhas impressões iniciais iam se solidificando. O álbum seguiu rolando, e faixa a faixa, pude constatar um Sepultura renovado, com agressividade, cadência e harmonia na dose exata. Se pudesse resumir em uma palavra, seria "excelência", pois raramente na história do rock, e especialmente do metal, ocorre de um disco inteiro não ter sequer uma faixa ruim, quiçá regular. Ao final do álbum, assim como ocorre com os grandes materiais lançados, deu vontade de escutar tudo de novo. E para não cometer o pecado do julgamento premeditado, levado pela empolgação da novidade, ouvi novamente nos dias seguintes, e ficava cada vez melhor a cada audição. Percebi que finalmente, Derrick encontrou seu lugar na banda. Ele chegou sob muita desconfiança, um nome desconhecido, e teve que viver à sombra de todo o legado deixado por Max. Nos trabalhos até então, não pude perceber nada além do que uma tentativa desesperada de superar o antigo vocalista, buscando ser ainda mais gutural, pungente, mas nada original. Desta feita, Derrick se superou, deu a volta por cima, e talvez até pela bem-vinda maturidade, ficou muito mais à vontade em seu posto, e imprimiu personalidade e versatilidade há tanto esperadas. Medalha de honra conferida, com méritos. Entre tantos pontos altos, o disco é realmente de um cara: Andreas Kisser. Imagino que não deve ter sido fácil todos esses anos a fio trabalhando intensamente para manter vivo e com dignidade o nome do Sepultura, e a cada trabalho lançado, ter que ouvir: "o disco é legal, mas, quanto a uma provável reunião com os Cavalera, vai acontecer um dia?". Toda essa frustração acumulada pareceu ter criado um monstro que pesava cada vez mais nas costas do Andreas. Acabou se tornando um carma, algo com que ele não podia lidar. E o que parece é que finalmente ele venceu este monstro, expurgou seus demônios, e esteve em paz consigo mesmo para conceber este disco, sem se preocupar mais com comparações, ou se sentir pressionado de alguma forma. As qualidades como guitarrista, reconhecidas em todo mundo, ninguém nunca questionou. Mas era estranho como ele não conseguia antes conectar e converter todo esse talento para fazer algo do quilate de "Quadra". Entendo que agora ele concebeu um trabalho que ele sempre quis fazer, algo com o qual ele próprio esteja totalmente satisfeito. Um único "senão" pode ficar por conta do "sobre-humano" Eloy Casagrande. Antes de mais nada, quero reiterar o orgulho desse garoto brasileiro ser atualmente um dos maiores bateristas do mundo, com tão pouca idade. É inacreditável o que ele consegue com um par de baquetas. Mas, acho que faltou um pouquinho da característica criatividade da batera sepultanesca. Está tudo lá: a técnica, a pegada, a velocidade, mas faltou aquele "tempero", aquele diferencial, a exemplo do que o Igor Cavalera imprimia nos tempos áureos, e que também o destacara com um dos bateras mais admirados do planeta (já posso até ouvir um "viúva do Igor", rsrs). Sem querer forçar comparações, pois na maioria das vezes elas acabam sendo injustas, pois não levam em conta a questão temporal (ou seja, comparar hoje o Eloy ao Igor chega a ser covardia, o moleque tá voando, enquanto o tio Igor está na transição do talento para o "estar lento"), mas o fato é que na época do auge do Sepultura, não tinha pra ninguém, o Igor era sim um dos maiores bateristas atuando no cenário, e se destacou principalmente pela criatividade das levadas e das percussões tribais. Ele preparou o terreno para os bateristas vindouros, como o Eloy. Em resumo: o Igor era "o baterista" naquele momento, assim como Eloy o é hoje. Quanto ao Paulo, ele nunca chegou a ser destaque em seu instrumento, até por suas próprias limitações, mas também merece o crédito por ter que se superar tecnicamente para poder acompanhar o restante do time nesse álbum.

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Com uma certa estrada no rock, ouso afirmar que se trata do melhor álbum de thrash metal lançado nos últimos 25 anos, à altura de "Roots", "Chaos A.D" e "Arise", e que poderia ainda se sentar à mesma mesa junto a álbuns consagrados de bandas como Pantera, Megadeth e Metallica. Quem, assim como eu, ainda resguardava qualquer desconfiança em ouvir algum material novo do Sepultura, ou ainda, aos amantes do metal que não tiveram oportunidade de escutar, recomendo ouvirem sem moderação! O trem da história se encarregará de tornar "Quadra" um dos grandes clássicos do metal.

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Sobre Jean Carlo B. Santi

Jean Carlo B. Santi é Administrador de Empresas e Pós-Graduado em Marketing. Músico amador, atua também como baterista numa banda que toca covers de classic rock. Ainda criança, pôde conhecer através de um tio bandas como Queen, Pink Floyd, Gênesis, Nazareth, U2, Bon Jovi, Guns'n'Roses... Mais tarde, descobriria por conta própria que havia muito mais no rock, e desde então, nunca mais encontraria o caminho de volta do limbo de onde vivem todos estes seres fantásticos e surreais, habitantes deste mundo à parte chamado rock'n'roll.
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