Sepultura: Quadra é o melhor álbum da banda em mais de vinte anos
Resenha - Quadra - Sepultura
Por Ricardo Seelig
Postado em 12 de fevereiro de 2020
Três anos após "Machine Messiah", o Sepultura está de volta com "Quadra", seu décimo-quinto disco. O álbum foi lançado dia 7 de fevereiro e a produção é mais uma vez de Jens Bogren (Opeth, Arch Enemy, Angra), repetindo a parceria do disco de 2017. O trabalho é conceitual e baseado em numerologia, e sua inspiração veio do livro Quadrivium, obra publicada em 2010 que fala sobre as quatro artes liberais: cosmologia, geometria, matemática e música. "Quadra", o título, representa um espaço delimitado com um conjunto de regras onde as coisas acontecem, e o conceito explorado pela banda questiona o conhecimento das pessoas e por quais razões elas acreditam nisso ou naquilo.
O álbum vem com doze músicas, e elas são "separadas" em quatro grupos de três, como se fossem quatro lados de um disco de vinil duplo. Essa separação é percebida facilmente através das mudanças de características das composições. As três primeiras são mais thrash, as próximas três trazem elementos percussivos e o groove da época de "Roots" (1996), o trio seguinte é mais progressivo e a parte final vem com faixas mais cadenciadas e melodiosas.
Aqui me dou o direito de fazer um mea culpa. Quando escrevi sobre "Machine Messiah", afirmei que o disco, apesar de trazer bons momentos, teria papel insignificante na carreira da banda. Um erro, como o tempo me mostrou de maneira clara. Com o passar dos anos, "Machine Messiah" cresceu aos meus ouvidos e hoje tenho o álbum como o marco inicial de uma nova fase na carreira do Sepultura, período esse que é desenvolvido com ainda mais eficiência em "Quadra". Tenho muitas críticas à sonoridade que o Sepultura seguiu em alguns momentos de sua discografia, principalmente os discos lançados durante os anos 2000, onde a banda se aproximou do hardcore e de sonoridades mais extremas e experimentais que não caíram bem aos meus ouvidos. O ápice disso está, na minha opinião, em "The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart" (2013), um álbum que muitos celebram mas que eu não consigo ouvir, e essa sensação passa muito pela mixagem e pela forma como os vocais soam em "The Mediator". O que acabou parecendo uma espécie de retrocesso para mim, já que no disco anterior, "Kairos" (2011), a banda havia iniciado um processo de reaproximação com o thrash e que foi abruptamente interrompido no álbum de 2013.
"Quadra" afasta o Sepultura das influências hardcore, experimentais e até mesmo industriais exploradas à exaustão pela banda durante a década de 2000 e vem com uma abordagem mais voltada para o metal. Extremo, criativo, inovador, fora da caixa, como sempre foi o metal feito pelo Sepultura. A produção excelente, a execução primorosa e as ótimas músicas resultem em um disco excepcional. Além disso, "Quadra" traz Derrick Green em seu momento de maior brilho nos 22 anos em que está na banda, com uma ótima performance vocal que vai dos tradicionais guturais até momentos de voz limpa e grave que impressionam, como em "Agony of Defeat". A presença de orquestrações e coros encorpam e enriquecem a música da banda e não soam gratuitos, mas sim com propósito, e jogam a favor de canções como "Capital Enslavement". E faixas como "Raging Void", onde a banda não esconde a influência de um gigante contemporâneo como o Mastodon, mostram o quanto a música do quarteto segue andando para frente.
A variação e a criatividade alcançam seus pontos mais altos no terceiro ato de "Quadra", formado por "Guardians of Earth", "The Pentagram" e "Autem". A primeira inicia de maneira belíssima com um dedilhado de Andreas Kisser que evoluiu para um coro, devidamente seguido pelo peso monolítico característica da banda. O solo de guitarra dessa canção é um dos momentos mais inspirados de toda a trajetória de Kisser, um músico aclamado em todo o planeta e que não é reconhecido como deveria aqui no Brasil. Já na instrumental "The Pentagram" fica evidente o altíssimo nível atual da banda e o quanto a chegada de Eloy Casagrande puxou o quarteto para cima. Inventivo, agressivo e extremamente técnico, o baterista é a grande estrela de "Quadra" ao lado de Andreas, e essa sensação só se solidifica à medida em que as músicas vão chegando aos ouvidos. E "Autem" passeia pelo death metal e melodias orientais que reativam a tradição de elementos étnicos no universo sonoro do grupo.
A parte final tem início com a arrepiante música que batiza o trabalho, na verdade um interlúdio instrumental de Andreas ao violão, que introduz a densa e introspectiva "Agony of Defeat", que segue em seus quase seis minutos caminhos que o Sepultura ainda não havia explorado em mais de três décadas de história. E o encerramento com "Fear; Pain; Chaos; Suffering" revela-se um dos ápices de "Quadra". Com participação de Emmily Barreto, vocalista do Far From Alaska, é provavelmente a música mais acessível do disco, tanto pelas ótimas melodias quanto pelo contraste entre as vozes de Emmily e Derrick, que alcança o seu ápice no grudento refrão.
"Quadra" é o primeiro álbum do Sepultura em mais de duas décadas a estar em pé de igualdade com clássicos atemporais como "Beneath the Remains" (1989), "Arise" (1991), "Chaos A.D." (1993) e "Roots" (1996). E por mais que uma enorme parcela de "fãs" não admita isso, trata-se de um dos melhores discos da carreira do quarteto. Para esse povo, vale a aplicação do conceito explorado no álbum: questione o conhecimento e as razões pelas quais você segue acreditando nisso ou naquilo. A recompensa vale a pena.
Fonte:
http://www.collectorsroom.com.br/2020/02/review-sepultura-quadra-2020.html
Outras resenhas de Quadra - Sepultura
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



O clássico do rock nacional cujo refrão é cantado onze vezes em quatro minutos
Dream Theater anuncia turnê que passará por 6 cidades no Brasil em 2026
O disco que Flea considera o maior de todos os tempos; "Tem tudo o que você pode querer"
Helloween fará show em São Paulo em setembro de 2026; confira valores dos ingressos
A banda de rock que deixava Brian May com inveja: "Ficávamos bastante irritados"
O guitarrista que Geddy Lee considera imbatível: "Houve algum som de guitarra melhor?"
A opinião de Ronnie James Dio sobre Bruce Dickinson e o Iron Maiden
Os 11 melhores álbuns de rock progressivo conceituais da história, segundo a Loudwire
Como e por que Dave Mustaine decidiu encerrar o Megadeth, segundo ele mesmo
Lemmy lembra shows ruins de Jimi Hendrix; "o pior tipo de coisa que você ouviria na vida"
O álbum que define o heavy metal, segundo Andreas Kisser
Os shows que podem transformar 2026 em um dos maiores anos da história do rock no Brasil
A maior banda, música, álbum e vocalista nacional e gringo de 1985, segundo a Bizz
O clássico álbum ao vivo "At Budokan" que não foi gravado no Budokan
Os dois discos do ELP que Carl Palmer disse que deveriam virar vasos

Sepultura: Novo álbum é mais um tapa nos fãs
O clássico do Anthrax que influenciou "Schizophrenia", do Sepultura
Max Cavalera tentou se reunir com o Sepultura em 2010, mas planos deram errado
O disco do Slayer que deixou Andreas Kisser impressionado
Capa do clássico "The Number of the Beast" assustou o jovem Andreas Kisser; "Medo de Satanás"
Bibika, ex-roadie e empresário do Sepultura, conta a curiosa origem de seu apelido
Ex-roadie do Sepultura relembra retaliação ao Sodom e "greve de banho"
Será mesmo que Max Cavalera está "patinando no Roots"?
Como "Paranoid", do Black Sabbath, impactou o guitarrista Andreas Kisser
Por que a presença dos irmãos Cavalera no último show do Sepultura não faz sentido
Metallica: "72 Seasons" é tão empolgante quanto uma partida de beach tennis
Pink Floyd: The Wall, análise e curiosidades sobre o filme


