Neurocirurgião explica como cérebro reage a lesões traumáticas como a de Mingau
Por Gustavo Maiato
Postado em 10 de setembro de 2023
Desde que o baixista Mingau, do Ultraje a Rigor, foi baleado na cabeça na cidade de Paraty (RJ), os fãs e familiares do músico estão apreensivos para obter notícias positivas de sua recuperação.
O Whiplash.Net ouviu com exclusividade o neurocirurgião Francisco Torrão, do Hospital Universitário Gaffree e Guinle e Instituto Estadual do Cérebro, no Rio de Janeiro, que deu sua opinião sobre o caso de Mingau com base nas informações que foram disponibilizadas até o momento. Confira os principais apontamentos sobre o caso abaixo.
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As lesões primárias e secundárias
"Quando temos um paciente baleado no crânio, o que chamamos de ‘PAF de crânio’ (Projetil de Arma de Fogo), temos uma lesão complexa e de múltiplos mecanismos de trauma. É um tipo de patologia que foi tema da tese do meu mestrado, com impactos profundos nos neurônios, axônios e outros componentes do tecido nervoso central. Sabemos que esse tipo de projetil faz lesões por diversos mecanismos.
Temos a lesão primária, que é o dano direto. Ou seja, a passagem pelos tecidos. É uma lesão cortocontusa resultante da passagem. Além dessa lesão, que ocorre no primeiro momento, temos a lesão secundária. Ou seja, os eventos e mecanismos que acontecem até 3 ou 4 horas depois do evento. Estudos ja provaram que ocorrem reações inflamatórias, ondas de cavitação e liberação de energia cinética e térmica que atingem os tecidos no entorno".
Tentativa de frear as lesões secundárias e baixar a pressão no crânio
"É esse momento de lesão secundária que os clínicos e cirurgiões tentam evitar no tratamento hospitalar, cirúrgico e clínico, com medicações. Esse é o momento de agir e tentar reduzir os efeitos no cérebro. O crânio é uma caixa fechada e o cérebro fica nessa cavidade. Tentamos, então, diminuir a pressão. É isso que nós cirurgiões tentamos diminuir. Esse dano feito pela cascata inflamatória que acontece, com edemas e inflamações. Isso acontece dentro de um local que não tem como crescer, então a ideia é tentar diminuir essa inflamação feita pela lesão secundária, permitindo espaço para que o cérebro não sofra lesões seguintes após o trauma primário. O cérebro responde tentando expandir depois desses eventos, por conta da lesão térmica e da energia cinética liberada, afetando os neurônios e tecidos adjacentes".
O terceiro momento e a resposta ao trauma
"Agora, o terceiro momento vai de 48 a 72 horas após a lesão aguda. O cérebro começa a se estabilizar e cair o pico de resposta ao trauma. O cérebro vai se normalizando e tenta se recuperar, mesmo que de maneira não completa. As consequências possíveis dependem da região afetada".
"Ainda é cedo para falar em consequências"
"A informação que chegou é que a bala entrou pela região frontal esquerda. Imagina-se que ele entrou de frente, tendo um trajeto anteroposterior ou de frente para a região medial alta. Resumidamente, podemos esquematizar que a região frontal é responsável pelas ideias, memórias e cognições. O lobo parietal é responsável pelo córtex motor e sensitivo. Já o lobo occipital é onde temos o córtex visual e ocorre o processamento das imagens e visão.Depende de como foi a cinematica do trauma, de como foi disparado o tiro e da maneira que a bala se chocou. O lado esquerdo controla as funções motoras do lado direito do corpo e é o hemisfério dominante em mais de 90% da população. Nesse porcentual controla funções de fala e atividades mais elaboradas. Ser do lado esquerdo é algo mais grave, o lado direito costuma ser o não dominante. O desfecho desse caso vai depender muito se foi possível diminuir essa resposta secundária ao trauma. Como ele respondeu? Diminuiu o edema? Qual foi o nível de consciência dele até agora? Já conseguiu verbalizar e abrir os olhos? Isso conta para saber o diagnóstico e o quanto a lesão vai de fato melhorar ou não. Ainda é muito precoce para falar de sequelas.
"O foco agora é manter o paciente vivo"
Não é o momento de pensar nisso. É momento de manter ele vivo. Manter a vida, diminuindo a pressão para que regiões vitais, como o tronco cerebral e regiões mais internas não sejam comprimidas pela inflamação e edema. É preciso manter ele vivo. Depois dessa fase secundária, é importante tirar a sedação e vermos o que ele tem de despertar e função cognitiva. Assim será possível avaliar a resposta dele.
Francisco Torrão é neurocirurgião, Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Mestre pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação da Unirio e Fellow em Cirurgia de Nervos Periféricos.
Mingau, do Ultraje a Rigor, baleado na cabeça em Paraty
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