Milton Nascimento e a banda de rock nacional que "vende imagem, mas não é bobagem"
Por Gustavo Maiato
Postado em 28 de abril de 2025
Durante os anos 1980, enquanto o rock nacional ganhava força no rádio, na TV e nas capas de revistas, muitos nomes consagrados da MPB ainda viam o movimento com certa desconfiança — às vezes, até com desprezo. Não era o caso de Milton Nascimento.
Em entrevista à revista Bizz, publicada em junho de 1987, Milton surpreendeu ao demonstrar não apenas respeito, mas um interesse genuíno pela produção dos grupos de rock que despontavam no Brasil. "Ouço, eu ouço bastante", começou, ao ser perguntado se acompanhava o novo som das guitarras nacionais.
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Milton foi além: citou o RPM, banda que então dominava as paradas com seu rock dançante, letras politizadas e imagem calculada. Mas, segundo o cantor mineiro, ali havia mais do que marketing. "Se você lê o que os caras estão dizendo nas letras, se você presta atenção na música… tá legal, tá forte, não é apenas uma extravagância, não é bobagem", afirmou. Ele reconhecia o peso da imagem, mas defendia a substância artística por trás do sucesso.
Ainda na mesma conversa, Milton revelava estar descobrindo, aos poucos, muitos grupos que o surpreendiam. E falava sobre sua própria reconexão com o cenário brasileiro após anos fora do País: "Quando cheguei, tinha um bando de gente que eu não conhecia. Gente demais. Cheguei até a me perguntar: ‘Meu Deus, o que é que está acontecendo com esse Brasil?’".

Milton Nascimento e o metal: mais próximo do que parece
Em 2004, Milton Nascimento gravou a faixa "Late Redemption" com a banda Angra, um dos maiores nomes do metal brasileiro no exterior. A canção, lançada no disco "Temple of Shadows", mistura peso e melancolia com um refrão cantado por Milton que emociona até hoje. Sua voz, suave e intensa, encaixou perfeitamente na proposta da música — um hino sobre redenção, dor e espiritualidade.
E essa conexão com o universo do som pesado não é isolada. Em entrevista ao podcast Amplifica, o guitarrista Jairo Guedz, primeiro integrante do Sepultura, contou que a banda nasceu em Santa Tereza, bairro de Belo Horizonte conhecido por ser o berço do Clube da Esquina. Segundo Jairo, os irmãos Max e Iggor Cavalera moravam a poucos metros da casa de Lô Borges, e o ambiente era carregado da influência dos grandes nomes da MPB mineira.

"Já vi o Milton Nascimento e o Tavinho Moura várias vezes", contou. "Íamos no Bar do Bolão, que era o mesmo lugar que eles frequentavam". Ainda assim, o Sepultura seguiu um caminho radicalmente diferente, como resposta, consciente ou não, à calmaria e ao conservadorismo cultural do bairro. "Fomos uma resposta a isso tudo, mesmo sem saber".
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