O dia em que o RPM rompeu com Milton Nascimento por causa de direitos autorais
Por Gustavo Maiato
Postado em 16 de julho de 2025
Um dos encontros mais improváveis da música brasileira nos anos 1980 terminou de forma amarga. Em vídeo publicado no YouTube, o pesquisador musical Julio Ettore conta como o RPM, então no auge da fama, rompeu com Milton Nascimento após um desentendimento sobre autoria e direitos autorais.
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A parceria, que prometia unir o pop-rock do RPM com a sofisticação da MPB de Milton, acabou marcada por desavenças financeiras. "Cara, aos olhos da crítica musical, tocar com o Milton era uma petulância", narra Ettore, em tom informal.
Segundo o vídeo, tudo começou em Los Angeles, em 1986, quando o RPM estava mixando o disco "Rádio Pirata ao Vivo". Após assistirem a um show de Milton Nascimento, os integrantes o encontraram no camarim. A ideia de uma colaboração surgiu ali, mas foi articulada pelo produtor Marco Mazzola, conhecido por seu trabalho com artistas da MPB.

O resultado foi um EP com duas faixas: "Homo Sapiens", poema de Milton musicado por Paulo Ricardo, e "Feito Nós", composta por Milton e com letra de Paulo. A última tocou bastante nas rádios em 1987, mas o lançamento foi recebido com desconfiança. "O RPM já tava com uma postura meio arrogante em entrevistas e eventos", lembra Ettore. "Os críticos estavam pegando um ranço deles."
RPM e Milton Nascimento
A tensão cresceu quando surgiram os créditos das composições. Milton e Paulo Ricardo assinaram as faixas como autores de letra e melodia — o que dá direito à maior parte dos ganhos. Luiz Schiavon, tecladista da banda, ficou com os arranjos e harmonia, que rendem menos.
Segundo Ettore, Schiavon e Paulo tinham um acordo parecido com o de Lennon e McCartney: "Se só um escrevesse, o outro entrava como autor também, mesmo que não tivesse feito nada. Isso garantia que eles ganhassem sempre o mesmo."

Foi aí que veio o pedido considerado ofensivo. "O Paulo teve a coragem de virar pro Milton e pedir pra colocar o Luiz Schiavon como autor", diz Ettore. A inclusão, porém, reduziria a fatia de Milton nos direitos. "É claro que ele não aceitou."
A parceria não se repetiu. E a relação entre o RPM e Milton Nascimento nunca mais foi retomada. Para Ettore, a história revela o contraste entre prestígio e imaturidade. "Eles queriam o prestígio do Milton, mas não estavam preparados pra lidar com alguém do tamanho dele."

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