O dia que Cazuza expulsou Paulo Coelho e outros de sua festa: "Por que ainda estão vestidos?"
Por Gustavo Maiato
Postado em 17 de maio de 2025
Era para ser apenas mais uma festa entre artistas e amigos no Rio de Janeiro dos anos 1980. Mas, segundo o músico Blanch Van Gogh, do Cogumelo Plutão, o que se desenrolou no apartamento de Cazuza naquela noite virou um episódio memorável — e inusitado. "Quando ele apareceu pelado pela cozinha e perguntou ‘por que vocês ainda estão vestidos?’, eu entendi que não seria uma noite comum", contou em entrevista ao canal MPB Bossa.
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A história começou após um show do guitarrista Celso Blues Boy no Circo Voador, entre 1987 e 1988. Na plateia, Blanch, que já circulava entre nomes da cena musical carioca, assistiu a uma apresentação marcante de Renato Russo. "Nunca vi o Renato cantar tanto. Foi mais do que Joe Cocker. Ele estava doidão, não queria subir no palco, mas acabou sendo levado e deu um show."
Depois da apresentação, o grupo, que incluía o músico Renato Rocha e o então futuro empresário Sérgio Borges, seguiu para uma festa no apartamento de Cazuza. Ao chegar, o cenário era improvável: cerca de cem pessoas amontoavam-se em pé na sala, embaladas por uma trilha sonora de orquestra de tubas e jazz experimental. Entre os convidados, nomes como o poeta Ferreira Gullar e o escritor Paulo Coelho. "Parecia uma festa de intelectuais da esquerda carioca, com cheiro de maconha no ar", relembrou Blanch.
No meio do ambiente desconcertante, surgiu Cazuza — completamente nu, atravessando a cozinha com um homem loiro a tiracolo. "Ele olhou para a gente e soltou: ‘Ué, vocês ainda estão vestidos?’", disse o entrevistado. A confusão só aumentou quando Blanch foi apresentado a Cazuza. A reação do anfitrião foi seca: ignorou completamente o convidado e, incomodado com a música ambiente, gritou: "Que música de merda é essa? Cadê meu disco do The Doors?"
O sumiço do LP de "L.A. Woman" motivou a ira de Cazuza, que mandou todos embora. "Expulsou geral. Ele queria o disco, achou a capa, mas não encontrou o vinil. Ficou possesso." Mesmo com o episódio caótico, Blanch não poupa admiração pelo cantor. "Cazuza era uma força da natureza. Por onde passava, juntava uma roda de gente. Era o catalisador das festas." Ele compara o artista a uma entidade viva, um símbolo de intensidade e entrega. "Ele caiu atirando."
Durante a entrevista, o músico também relembrou momentos com Renato Russo, a quem descreveu como introspectivo e genial. "O Renato que eu conheci era doce, quase erudito. O melhor da música dele ainda não tinha vindo à tona. Legião Urbana era só uma parte do que ele tinha a oferecer."
Confira a entrevista completa abaixo.
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