O dia que Raul Seixas venceu Pelé e Xuxa e isso o inspirou a criar seu último grande sucesso
Por Gustavo Maiato
Postado em 12 de maio de 2025
Um dos maiores clássicos da fase final de Raul Seixas, a música "Cowboy Fora da Lei", carrega em sua gênese uma mistura de crítica política, inspiração pop, rejeição de gravadora e até uma inesperada eleição informal contra Pelé e Xuxa. Quem revelou todos esses bastidores foi o youtuber especializado em música brasileira Julio Ettore, em um vídeo publicado em seu canal.
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Segundo Julio, a origem da canção remonta ao ano de 1973, quando Raul já rascunhava uma música de clima country, inspirada no faroeste americano. No entanto, a ideia só começou a tomar forma em 1984, com a parceria de Sylvio Passos, fã e amigo pessoal do cantor. A versão original ganhou o título de "Anarkilópolis", uma referência a uma cidade fictícia que representava o Brasil no fim da ditadura.
"Era uma ideia baseada em faroeste americano, quase como uma história em quadrinhos. O Raul passou ao Silvio a missão de compor sobre esse personagem, um cowboy de uma cidade chamada Anarkilópolis — que é o próprio Brasil — dominada, arrebentada", explica Julio.
A letra era uma sátira ao momento político da época, em plena transição do governo militar para a redemocratização. Em 1984, o país vivia o auge da campanha das Diretas Já e Tancredo Neves despontava como figura central, embora a eleição presidencial ainda fosse indireta.
"A música fala de um personagem que recebe uma carta da prefeitura de Anarkilópolis, vai até a cidade e descobre que ela está tomada por bandidos armados. Era uma metáfora sobre o Brasil daquele momento."
O refrão de Anarkilópolis já trazia os versos conhecidos: "Não sou besta pra tirar onda de herói / Sou vacinado, sou cowboy, cowboy fora da lei". Mas a música acabou rejeitada pela gravadora por ter sido gravada por Raul bêbado, segundo relatos. Ela só seria lançada postumamente, em 2003.
A reviravolta e a reescrita com Cláudio Roberto
Dois anos depois, Raul decidiu resgatar a ideia e convidou Cláudio Roberto para ajudar na reformulação. Gravada em 1986, a nova versão, agora com o título definitivo de Cowboy Fora da Lei, entrou no disco O Baú do Raul, lançado em 1987. A estética country foi mantida com o uso de banjo e steel guitar, tocados por Rick Ferreira.
Segundo Cláudio Roberto, a nova letra foi quase toda obra de Raul. "Eu interferi muito pouco. O que a gente fez foi atualizar a história para o Brasil de 1986", declarou em entrevista ao Correio Braziliense.
"Mamãe, não quero ser prefeito"
Um detalhe curioso é a origem do verso inicial: "Mamãe, não quero ser prefeito / Pode ser que eu seja eleito / E alguém pode querer me assassinar". Julio Ettore revelou que Raul se inspirou em uma pesquisa popular feita pelo SBT em 1985, que perguntava quem o público gostaria de ver como prefeito de São Paulo. Entre os mais citados estavam Xuxa, Pelé e... Raul Seixas, que venceu a disputa.
"Essa história virou piada interna. Raul achava absurdo pensar em ser prefeito e via isso como um risco — tanto simbólico quanto literal. Daí surgiu a ideia de que ser eleito poderia levá-lo a ser ‘assassinado’, como aconteceu com figuras históricas."
De fato, Raul associou sua figura a mártires como Martin Luther King, Gandhi e até Jesus Cristo. Em entrevista à revista Bizz em 1987, ele foi direto ao ser perguntado se achava que Tancredo Neves havia sido assassinado: "Acho. Tanto que, em uma das últimas versões da letra, Raul escreveu ‘Ó coitado do Tancredo’, mas mudou para ‘O coitado foi tão cedo’ pra não criar problema."
Apesar das turbulências, "Cowboy Fora da Lei" foi lançada com um clipe exibido no Fantástico, o que ajudou a impulsionar sua popularidade. A música rendeu a Raul um disco de ouro — uma conquista simbólica num momento em que sua carreira enfrentava dificuldades comerciais.
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