O artista universal que John Lennon sabia que jamais alcançaria
Por Bruce William
Postado em 17 de maio de 2025
John Lennon pode ter sido um dos maiores nomes da história da música popular, mas isso não o impedia de duvidar do próprio valor. Como tantos outros artistas que chegaram ao topo, ele também enfrentava a sensação incômoda de não estar à altura de tudo aquilo. E, quando olhava para certos nomes do passado, preferia reconhecer seus próprios limites.
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Em uma entrevista vintage publicada no Beatles Bible, e replicada pela Far Out, Lennon foi direto: "Tenho grandes esperanças para o que faço, meu trabalho. E também tenho um grande desespero de que tudo seja inútil e uma merda... como você vai superar Beethoven, ou seja lá quem for?"
A comparação não era irônica nem forçada. Para ele, por mais que tivesse criado músicas marcantes, ainda havia uma distância intransponível entre sua obra e a de certos compositores clássicos. Mesmo quando músicas como "Give Peace a Chance" viraram hinos, Lennon se via como alguém que ainda tentava alcançar um ideal inalcançável. Ao lembrar de um momento em que viu pessoas cantando a canção em coro, disse: "Esse era o propósito da música. Porque eu sou tímido e agressivo." Era uma tentativa de tocar as pessoas, mas que para ele ainda estava longe do impacto de algo como "Ode à Alegria".

O mais curioso é que, tecnicamente, os Beatles nunca foram músicos formais. Nenhum deles sabia ler partitura, e Lennon dizia com orgulho que não fazia ideia do que estava "quebrando" quando fugia das regras da harmonia tradicional. Foi justamente essa liberdade — aliada ao talento de George Martin — que permitiu criar estruturas como as de "She Loves You", onde ele subverte acordes de forma intuitiva e eficiente.
Ainda assim, Lennon era autocrítico. Mesmo reconhecendo o poder de simplificar onde outros complicavam, sentia que seu trabalho era pequeno diante de compositores como Beethoven. E embora muitos fãs vejam em músicas como "Because", "Eleanor Rigby" e "A Day in the Life" um nível de sofisticação comparável à música erudita, ele mesmo não parecia convencido disso.

É claro que parte disso vinha da personalidade contraditória de Lennon — entre a arrogância e o sentimento de inadequação. Ele era capaz de se vangloriar em um momento e, no seguinte, dizer que tudo era "besteira". Nesse ponto, "Give Peace a Chance" é emblemática: um sucesso espontâneo que, aos olhos dele, ainda soava inferior ao que os "verdadeiros mestres" haviam feito séculos antes.
Se Lennon exagerava em sua modéstia ou não, é uma discussão que o tempo já resolveu. A música clássica levou décadas ou séculos para ser reconhecida como patrimônio da humanidade. No caso dos Beatles, foram necessários apenas alguns anos — e mesmo que ele duvidasse do valor de suas criações, o mundo não duvidou.

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