Slipknot: Comentários sobre Vol. 3 The Subliminal Verses
Postado em 14 de maio de 2006
Eliton Tomasi, Rodrigo Helfenstein, Vinicius Mariano, Amyr Cantusio Jr e Marcos Franke, juntamente com os convidados especiais Vitor Rodrigues e Amílcar Christofaro (Torture Squad) discutem o CD "Vol. 3: The Subliminal Verses", do Slipknot.
Participantes:
Eliton Tomasi, Rodrigo Helfenstein, Vinicius Mariano, Amyr Cantusio Jr e Marcos Franke
Convidados Especiais:
Vitor Rodrigues e Amílcar Christofaro (Torture Squad)
Faixa 1 – Prelude 3.0
ET: Antes de começar, gostaria de saber qual é a opinião de vocês em relação à banda. Eu, particularmente, não gostava dos discos anteriores, mas esse disco eu achei bem legal.
AC: Para falar a verdade eu não curto, mas respeito o som pelo fato dos caras tocarem bem, mesmo não sendo o estilo de som que eu pego para ter uma referência.
RH: Eu acho que dessas bandas que se encaixam no rótulo new metal, eles são uma das melhores.
AC: Eles têm uma atitude mais agressiva. Se você for colocar ao lado de Korn, Limp Bizkit, você vai ver que essas bandas são totalmente mais comerciais. Eu não sei ao certo, mas rolam vários boatos que o batera do Slipknot tocava no Anal Blast. E o solo do batera é um absurdo! Dois bumbos pra todo quanto é lado.
MF: Esse álbum foi gravado numa casa mal assombrada, em Hollywood, onde morava Houdini. Eles montaram o estúdio lá dentro e gravaram junto com o Rick Rubin.
VR: Essa introdução é totalmente proposital. Pro ouvido já estar acostumado quando começar a porradaria.
Faixa 2 – The Blister Exists
AC: Posso estar falando besteira por não conhecer tanto, mas parece que o Iowa é um pouco melhor gravado. Mas é claro que ainda é uma baita gravação.
MF: Esse álbum foi gravado num local aberto, enquanto que o Iowa num estúdio.
VR: Quiseram passar a idéia da música feita num confinamento, dando essa impressão sufocante.
ET: A galera não gosta muito de dizer que o Slipknot é uma banda de metal, mas é um som bem pesado. Como você pode classificar uma banda dessas? Isso não é apenas rock...
AC: Por outro lado, você não poderia dizer também que é uma banda de thrash.
ET: Isso é mais pesado que muita banda que se diz metal por aí.
AC: Acho que o lance do new metal vem mais pelo swing, o lance do visual novo, etc. Os caras vêm com um macacão, máscaras com espeto de churrasco na cabeça (risos gerais). E outra coisa que eu percebo constante no som do Slipknot é que é um som muito psicodélico, caótico.
VR: Mas acho que é esse desespero mesmo que eles querem passar.
Faixa 3 – Three Nil
ET: Essa base é death metal.
VM: Parece até com alguma coisa do Morbid Angel.
VR: Parece o "morbidão" mesmo. Só falta entrar o vocal do Tucker daqui a pouco (risos).
ET: O público em geral acaba pré-julgando a coisa antes de ouvir. Depois, quando o cara ouve, acaba se impressionando.
VR: É um vocal gritado, desesperado. Escola do Tom Araya.
AC: Aquele Iowa tem muita coisa de Sepultura do Chaos AD, Roots, e se não me engano, os próprios caras falam que gostam muito dessa fase do Sepultura.
VR: Olha o batera quebrando. Quebra, acelera, quebra, acelera.
AC: Então é verdade que o cara veio do death metal. Não é qualquer batera que faz isso.
VR: Esse vocal limpo até dá uma personalidade ao Slipknot. Eles conseguiram se diferenciar por isso.
ET: E também dá uma abertura mais comercial, pra que outro público possa ouvir o disco na boa.
VM: Pra nós que estamos acostumados a ouvir o som pesado, tudo passa normal. Mas pra galera que ouve rádio, se a música fosse inteira na porradaria que começou, as pessoas ficariam assustadas.
VR: Eles colocam essas passagens limpas porque são mais assimiláveis ao ouvido desse público.
RH: Foi falado aqui que o que caracteriza o new metal é um som um pouco mais swingado, mas o Slipknot não tem muito disso. Tem alguma coisa, mas no geral, é mais porradaria mesmo.
AC: Você vê que tem um swingão, mas o vocal não tem aquele lance rimado que dá o aspecto de rap tipo o Biohazard.
ACJ: Até agora não consegui compreender a mensagem e a estrutura desse som. Achei ruim pra cacete!
Faixa 4 – Duality
RH: Apesar de essa ser a música mais comercial, foi a que eu mais gostei do CD.
AC: Pra tocar na rádio é até um pouco pesado. Eu, como um bom headbanger, quando saiu o Slipknot eu já virei a cara (risos). Depois, a gente vai pegando, ouve aqui e ali e acaba tendo a opinião pessoal mesmo sobre a banda. Eu não curto, mas respeito.
VR: Acabamos analisando como músicos mesmo. Mas como fã de heavy metal (risos), aí a coisa complica.
AC: Nem sempre também. A maior prova de que você não pode ver assim está num AC/DC ou num ZZ Top, que é puro feeling e não tem como você não curtir.
ACJ: O rock perdeu aquele aspecto dançante, não tem mais a mesma pegada.
AC: Pra gente talvez não tenha esse feeling. Mas pro cara que está compondo, pode ser a melhor coisa que está rolando.
ACJ: Coisa ridícula é o pessoal não assumir a posição satânica. Colocar pentagramas ou espetos na boca não significa nada. O Crowley era velho, careca, gordão e era demoníaco pra cacete. Isso aqui é mediocridade.
Faixa 5 – Opium Of The People
VR: O som dos caras dá a mesma impressão de quando você entra numa pinacoteca e aí vê aqueles quadros todos rabiscados e fala: "Cadê a arte disso?" (risos gerais).
MF: Vejam essa parte: entra algo new metal, mas olha a quebradeira que vem depois.
AC: Isso não é um tempo 4x4 ou algo mais tradicional.
ET: Eu também prefiro as coisas mais tradicionais, só que eu acho válido ter bandas assim para dar uma reciclada. Imagina se estivéssemos hoje ouvindo a mesma coisa que os caras faziam nos anos 60?
ACJ: Também concordo e não estou falando que cópia é legal. O que não pode é fugir muito da proposta original.
Faixa 6 – Circle
AC: Os caras querem fazer o caos.
ET: Essa faixa é uma balada.
AC: Isso aí é uma imposição da gravadora.
ET: Não só essa balada, mas muita coisa que rolou no disco.
AC: Tem muito marketing por trás da banda. Cada banda tenta buscar o seu diferencial e o deles é esse lance de fazer uma coisa agressiva e moderna com o lance das roupas e fantasias, que é, dada as suas devidas proporções, um Kiss moderno. E mesmo o Kiss quando surgiu na década de 70 com todas aquelas roupas, com certeza neguinho falou: "Meu, vai pro Juquiri" (risos gerais).
ET: Interessante é que poderiam ter lançado essa música como single, já que é mais acessível.
AC: Mas ai muito neguinho ia ir atrás do álbum pensando que a banda era de outro jeito. E daí o cara compra o álbum e leva um blasting beats na cara (risos).
Faixa 7 – Welcome
ACJ: Desde os anos 70 as bandas vêm usando máscaras. Até quando isso vai funcionar? Está desgastado.
RH: Mas esse lance das máscaras aqui é bem legal. Esse mistério que cria é bem bacana.
ACJ: O rock tem que ser reacionário. Se consumirmos tudo quanto é porcaria que aparece, é melhor então desaparecermos.
Faixa 8 – Vermilion
VR: A idéia desses caras é chocar. Pra eles, quanto mais choque, melhor. E, querendo ou não, os caras conseguiram algo com isso. A prova são as opiniões contrárias que estamos tendo aqui.
MF: As letras desse álbum são poéticas de forma que podem ser interpretadas da forma que você quiser. A forma agressiva que eles transmitem essa mensagem dá margem para qualquer tipo de interpretação.
ACJ: Falando em metáforas, acaba não assumindo uma postura.
AC: A coisa vai mesmo da interpretação de cada um.
Faixa 9 – Pulse Of The Maggots
RH: Acho também que não podemos falar que a molecada está errada por curtir esse som. Eles tão vivendo o momento deles. Cada um tem seu momento diferente. Não existe certo e errado nesse sentido.
AC: O cara que está adentrando no metal ou um cara de 30 anos que gosta de ouvir coisas novas pode ouvir esse álbum e, de repente, marcar ele. Não importa que sejam eles ou qualquer banda nessa linha. Independente da época, é a música que vai marcar.
Faixa 10 – Before I Forget
VR: Tenho que citar o mestre Chuck (Death): Depois que colocaram uma palavra na frente do metal, ele começou a se deteriorar. Uma vez, quando trabalhava numa das lojas da galeria do rock, nós vendíamos umas fitas K7 de gravações e uma vez um cara chegou na loja e pediu: "Ei, você não tem aí um black metal assim meio white?" (risos gerais). Que paradoxo, cara.
RH: Voltando ao CD, essa música é bem comercial também. Deve ser a próxima a sair como single.
VR: Esse refrão aí é puro para pegar a galera. Pra fazer a galera pular nos shows.
RH: É aquela parte que a galera vai esperar nos shows pra agitar. A parte que o público vai reconhecer.
AC: O poder que eles têm com o público é impressionante. Um deles pula na galera e o vocal fala pra todo mundo sentar no chão, e todo mundo senta e depois ele pede pra galera agitar e todo mundo levanta do chão. Independente do som que eu não gosto, achei interessante esse lance com o público.
VR: Não foi o cara dos espetos que pulou na galera, foi? (risos gerais)
ET: Acho que uma banda quando sobe no palco é a dona do espetáculo. A banda tem que chegar com atitude e comandar o público.
Faixa 11 – Vermilion Pt.2
ET: Eu comecei ouvindo metal, mas quis conhecer as raízes e acabei chegando nas bandas do rock clássico e progressivo. O duro é pra molecada começar a ouvir isso hoje e chegar lá, onde estão as bandas de rock clássico.
RH: Eu acho que isso não tem nada haver. O cara não precisa chegar às raízes. O cara ouve o que ele quiser. Ninguém é obrigado a chegar até essas bandas.
AC: É valido conhecer essas bandas se o cara quiser mesmo adentrar e conhecer a fundo as raízes.
RH: Não é qualquer um que assimila bandas de rock progressivo. Eu mesmo não tenho saco para ouvir.
ACJ: Agora eu pergunto: você vai ouvir um som desses para criar uma nova estrutura mundial? Você não vai conseguir nada, além da destruição. Isso é o genocídio total. Com esse som você vai estimular o crime, a violência, estupro.
Faixa 12 – The Nameless
AC: Não sei até que ponto você tem razão, porque se fosse assim, o Slayer teria que ser inúmeras vezes processado. Eles lançam um disco dizendo que "Deus odeia todos nós", com uma bíblia pregada na capa. E tem outra: um cara pode ser um psicopata e pode vir aqui e escutar Beethoven. O Judas foi processado porque um moleque disse que assassinou algumas pessoas ouvindo "Beyond The Realms Of Death", que é uma baladaça. Então acho que nesse ponto não tem ligação.
ACJ: Mas isso foi um fato solitário, não representa uma regra no geral. Esse som é caótico, confunde os neurônios. Nós temos uma capacidade de discernimento, mas a maioria não.
RH: Dá pra ouvir isso e até relaxar. O cara está nervoso, ouve isso e coloca tudo pra fora.
AC: Eu discordo e concordo ao mesmo tempo, porque também consigo colocar o Serpents Of The Light (Deicide) pra dormir (risos). Talvez esse tipo de atitude influencie mais o adolescente americano ou o inglês que entende o que os caras estão falando como se no nosso caso, estivéssemos ouvindo um Titãs ou Ultraje a Rigor. Aqui já fica mais difícil pra galera entender.
Faixa 13 – The Virus Of Life
ET: Essas caidonas da guitarra lembram bem o Morbid Angel.
AC: O Morbid fez escola mesmo. Mas voltando ao lance do satanismo, na minha opinião, a maioria das bandas fazem isso por puro marketing. Levam o lance em cima do palco como um teatro, descem e voltam a ser seres humanos normais. Teve uma banda que veio ao Brasil e rolou o seguinte: os fãs começaram a gritar "satan, satan" e a banda chegou para o produtor e disse: "Meu, pede para os caras pararem com isso. Não agüento mais satan pra lá, satan pra cá. Por que os caras estão falando isso?" E o produtor falou: "Meu, olha pra vocês. Como vocês querem que eu peça isso se vocês transmitem essa imagem?"
Faixa 14 – Danger: Keep Away
AC: Eu não sei se é porque viemos de outra época, mas acho que o Slipknot não é uma banda que veio para ficar. O Slipknot deve por no bolso as vendagens de todas as bandas de death metal, mas daqui uns dez anos, ninguém vai chegar e falar: "Meu, você lembra do Slipknot?"; assim como falamos do Slayer ou Morbid Angel.
RH: No geral sim. Mas acho que não será assim totalmente esquecido. Tem muita molecada que gosta do som dos caras.
AC: Mas é exatamente pra essa molecada que o som é descartável. Eles estão naquela febre e acabam consumindo.
RH: Os caras não vão ser tão lembrados quanto essas bandas, mas ainda terá uma parcela de pessoas que vão se lembrar deles. Não é assim também.
VR: O Slipknot é uma banda pesada, agressiva e tudo, mas não aquela coisa que pega na veia. É uma coisa que passa e você fica na mesma. Não é uma coisa que eu vou ouvir e ficar assobiando a base de uma guitarra que eu tenha ouvido.
ET: O som é porrada e tudo mais, mas falta mesmo esse feeling do metal.
VR: O som do Slayer é porrada, agressivo e você ouve e consegue lembrar no ato das guitarras e tudo mais. Coisa que não acontece aqui.
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