Eric Bibb: um grande registro de uma época confusa e tensa
Resenha - Migration Blues - Eric Bibb
Por André Espínola
Postado em 10 de abril de 2017
É impossível não politizar um álbum que nos dias de hoje leve o nome de Migration Blues. Eis o novo álbum do cantor e compositor Eric Bibb, que lança o novo disco em meio ao governo turbulento e xenófobo do novo presidente norte-americano, Donald Trump, com propostas cada vez mais mirabolantes para tratar da questão da imigração no país anglo-saxão. O próprio Bibb não poderia deixar sua posição passar de forma indireta. Dessa forma, ele mesmo afirma que Migration Blues é seu álbum mais politizado até hoje: "The way I see it, prejudice towards our brothers and sisters who are currently called 'refugees' is the problem. Fear and ignorance are the problems. Refugees are not 'problems'—they are courageous fellow human beings escaping dire circumstances.", diz Bibb na capa do próprio álbum. É um trabalho que as mentes facilmente suscetíveis a frases de efeito e pensamentos rasos colocariam uma etiqueta: "politicamente correto".
Eric Bibb é um cantor que já possui uma sólida carreira construída, calcada na música americana de raiz. Portanto, Bibb nos entrega mais uma mixórdia de blues, folk, country, baladas, só que agora ele acrescenta esse ingrediente que permeia todo o disco, tornando-o mesmo um álbum conceitual. Esse ingrediente é o respeito à pessoa humana, principalmente àqueles que para sobreviver tem que superar obstáculos inimagináveis. Assim, ele mesmo, um afro-americano, recorre à sua própria história e à história de andanças e sofrimento de seu povo nos Estados Unidos para compreender melhor e, acima de tudo, combater as intransigências e intolerâncias do mundo contemporâneo. Afinal, como o próprio Bibb diz no seu site oficial, "While pondering the current refugee crisis I found myself thinking about the Great Migration […]. Whether you're looking at a former sharecropper, hitchhiking from Clarksdale to Chicago in 1923, or an orphan from Aleppo, in a boat full of refugees in 2016 — it's migration blues.".
A própria escolha das músicas evidencia essa intenção de valorizar as pessoas, combater sentimentos de ódio e violência em torno das pessoas. Totalmente acústico, Bibb mescla cássicos do folk, como "This Land Is Your Land", de Woody Gutrie e "Master of War", de Bob Dylan, com composições originais focadas no country blues e no gospel, como a tocante "Prayin’ for the Shore", uma balada gospel sobre a crise de refugiados na Síria: "In a ol' leaky boat/Somewhere on the sea/Tryin' to get away from the war/Welcome or not, we got to land soon/Oh, Lord—prayin' for shore." . Já na faixa Refugee Moan, Bibb nos acerta no coração quando se coloca na pele de um desses refugiados e canta: "a road to a peaceful country / Where the people have pity on a homeless man".
Delta Getaway trata de uma migração bastante conhecida da população afro-americana: a Grande Migração para o norte na primeira metade do século passado, em que a população negra fugia do sangrento sul da Ku-Klux-Klan, do Jim Crow, para as cidades industriais do norte com a promessa de uma vida mais segura e livre. Na letra, o narrador sobre para Chicago para escapar de um linchamento. Essa vida do sul foi retratada na letra de "Blacktop": "everyday seems like muder here", que já foi imortalizada pelo blues do lendário Charley Patton. Outra que trata da Grande Migração é "We Had To Move". Não são apenas os migrantes negros dos Estados Unidos ou os contemporâneos que são lembrados por Bibb. "Diego’s Blues" conta a histórias dos mexicanos que migraram para substituir a mão de obra negra no Delta depois da Grande Migração.
Migration Blues é rico musicalmente, socialmente e politicamente. É, enfim, um grande registro de uma época confusa e tensa, que, no futuro, se constituirá num ótimo disco-manifesto dessa época.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Fabio Lione anuncia turnê pelo Brasil com 25 shows
A performance vocal de Freddie Mercury que Brian May diz que pouca gente valoriza
Turnê atual do Dream Theater será encerrada no Brasil, de acordo com Jordan Rudess
Ritchie Blackmore aponta os piores músicos para trabalhar; "sempre alto demais"
O fenômeno do rock nacional dos anos 1970 que cometeu erros nos anos 1980
O álbum clássico do Iron Maiden inspirado em morte de médium britânica
A música que surgiu da frustração e se tornou um dos maiores clássicos do power metal
O rockstar que Brian May sempre quis conhecer, mas não deu tempo: "alma parecida com a minha"
A canção emocionante do Alice in Chains que Jerry Cantrell ainda tem dificuldade de ouvir
A canção que Sandy & Junior recusaram e acabou virando hino do rock nacional nos anos 2000
A banda de rock favorita do Regis Tadeu; "não tem nenhuma música ruim"
Site americano aponta curiosa semelhança entre Sepultura e Opeth que poucos notaram
O melhor álbum do Led Zeppelin segundo Dave Grohl (e talvez só ele pense assim)
A banda fenômeno do rock americano que fez história e depois todos passaram a se odiar
O artista da nova geração que faz Rob Halford se lembrar de Ozzy Osbourne
A banda de rock dos anos 1980 que vendeu 4700 ingressos em SP e só 219 no RJ
A reação de Cássia Eller após seu filho dizer que Marisa Monte é quem canta de verdade
O que João Gordo, Nando Reis e outros músicos brasileiros pensavam dos Mamonas Assassinas

Edguy - O Retorno de "Rocket Ride" e a "The Singles" questionam - fim da linha ou fim da pausa?
Com muito peso e groove, Malevolence estreia no Brasil com seu novo disco
"Opus Mortis", do Outlaw, é um dos melhores discos de black metal lançados este ano
Antrvm: reivindicando sua posição de destaque no cenário nacional
"Fuck The System", último disco de inéditas do Exploited relançado no Brasil
Giant - A reafirmação grandiosa de um nome histórico do melodic rock
"Live And Electric", do veterano Diamond Head, é um discaço ao vivo
Slaves of Time - Um estoque de ideias insaturáveis.
Com seu segundo disco, The Damnnation vira nome referência do metal feminino nacional



