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Sepultura: Um ponto de ruptura perfeito com o novo álbum

Resenha - Mediator Between Head and Hands Must Be The Heart - Sepultura

Por Thiago El Cid Cardim
Postado em 08 de novembro de 2013

Este momento teria que chegar. E finalmente chegou. Com "The Mediator Between Head and Hands Must Be The Heart", seu novo disco, o Sepultura cria um ponto de ruptura perfeito. Aquele momento em que as viúvas dos Cavalera enfim vão abandonar o grupo. Aqui, eles nunca estiveram tão distantes de Max e Iggor, goste você disso ou não. Ainda bem, aliás. Quem gosta desta formação do grupo, vai ser brindado com um presentaço, um disco memorável. Já quem não consegue se acostumar, lamento, vai ficar cada vez mais difícil, caso a carreira da banda se baseie neste disco daqui pra frente. Com um quilométrico título inspirado em uma frase do lendário filme "Metrópolis" (1927), de Fritz Lang, somos brindados com uma bolacha sombria, obscura, sinistra. Mas muito pesada. Porrada pura. Isso, obviamente, sem deixar de lado a vontade de inovar, de experimentar, de mesclar novas sonoridades. Aqui tem o Sepultura de "Chaos A.D.". Mas também tem o Sepultura de "Roots". E muito mais.

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O disco anterior, "Kairos", era o Sepultura provando que ainda podia soar Sepultura. Era uma celebração ao passado, talvez uma tentativa velada (e bem-sucedida) de calar a boca dos reclamões de plantão. Já "The Mediator Between Head and Hands Must Be The Heart" é o Sepultura provando que pode ser mais do que o Sepultura do presente. Depois de uma breve introdução instrumental dissonante, que nada mais é do que a mistura de todas as músicas do disco tocando ao mesmo tempo, o espetáculo começa de fato com "Trauma of War", uma escolha mais do que apropriada para abrir a obra. Rápida e brutal, ela já mostra a que veio o novo baterista, o jovem e talentoso Eloy Casagrande, que detona o seu kit sem dó nem piedade. O talento do rapaz pode ser claramente sentido ainda no verdadeiro terremoto sonoro de pedais duplos de "Manipulation of Tragedy" e no "duelo" de batera com o lendário Dave Lombardo (ex-Slayer), cuja participação se dá como um interlúdio de luxo em "Obsessed". Batismo de fogo para Eloy. Se alguém tinha qualquer dúvida sobre a escolha de Eloy para erguer as baquetas que um dia foram de Iggor, elas se encerram no resumo destas três faixas.

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"The Age of the Atheist", discutindo a dificuldade que as pessoas de hoje têm para acreditar em qualquer coisa, é tipicamente Sepultura, 100% de acordo com o DNA clássico da banda. Mas tem mais, muito mais. Apesar do peso, "Impending Doom" é um daqueles momentos em que a banda arrisca mais nos grooves, oferecendo uma levada slow-tempo, de afinação mais baixa e grave, enquanto a letra discute as heranças que uma geração vai deixando para a outra em um mundo que muda cada vez mais rápido. Já "The Bliss of Ignorants", uma espécie de herdeira direta de "Roots", apresenta o Sepultura novamente sem medo de explorar a sua herança brasileira, com uma percussão tribal típica da nossa sonoridade e aplicada com precisão por ninguém menos do que Fred Ortiz, baterista original dos Beastie Boys e que vem tocando com Derrick em seu projeto eletrônico Maximum Hedrum. Ao explorar esta faceta, com total influência do produtor Ross Robinson (o mesmo de "Roots", leia-se), fica claro porque a banda escolheu "Da Lama ao Caos" como uma opção de cover, cantada em português pelo próprio Andreas, que deixa as guitarras já pesadas de Lúcio Maia, da Nação Zumbi, ainda mais corpulentas e venenosas.

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Os dois grandes momentos do disco, no entanto, são aqueles conceitualmente mais provocativos. Na climática "The Vatican", a banda entrega aquela que talvez seja a sua música mais macabra e maligna, enveredando pelo death metal enquanto conta a história de sangue, corrupção e sexo que moldou o Vaticano. E em "Grief", o Sepultura presta sua homenagem aos mais de 200 mortos no terrível incidente da boate Kiss, no começo do ano, que chocou e parou o país. A guitarra calma e cristalina que permeia a canção é algo que parece que Kisser nunca experimentou na vida, ao mesmo tempo em que Green entoa uma voz de coral quase religiosa, sem urros, sem guturais. E quando a violência de fato começa, quando o peso metálico entra em cena, ele tem o gosto de um grito de dor, ele transmite uma sensação de sofrimento, de angústia, de uma alma torturada. É de arrepiar.

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Sem sombra de dúvidas, estamos diante do melhor álbum da banda desde que Derrick Green assumiu o posto de vocalista. E isso não é pouco. É muito, na verdade. Porque estamos diante do que deve ser o nascimento de um novo Sepultura. Um Sepultura que finalmente parece se libertar das cobranças de um passado glorioso para encarar os desafios de um futuro potencialmente tão glorioso quanto. Basta querer.

Line-up:
Derrick Green − Vocais
Andreas Kisser − Guitarra
Paulo Jr. − Baixo
Eloy Casagrande − Bateria

Tracklist:
1. Trauma of War
2. The Vatican
3. Impending Doom
4. Manipulation of Tragedy
5. Tsunami
6. The Bliss of Ignorants
7. Grief
8. The Age of the Atheist
9. Obsessed (com participação de Dave Lombardo)
10. Da Lama ao Caos (Cover de Chico Science & Nação Zumbi)

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Sobre Thiago El Cid Cardim

Thiago Cardim é publicitário e jornalista. Nerd convicto, louco por cinema, séries de TV e histórias em quadrinhos. Vegetariano por opção, banger de coração, marvete de carteirinha. É apaixonado por Queen e Blind Guardian. Mas também adora Iron Maiden, Judas Priest, Aerosmith, Kiss, Anthrax, Stratovarius, Edguy, Kamelot, Manowar, Rhapsody, Mötley Crüe, Europe, Scorpions, Sebastian Bach, Michael Kiske, Jeff Scott Soto, System of a Down, The Darkness e mais uma porrada de coisas. Dentre os nacionais, curte Velhas Virgens, Ultraje a Rigor, Camisa de Vênus, Matanza, Sepultura, Tuatha de Danaan, Tubaína, Ira! e Premê. Escreve seus desatinos sobre música, cinema e quadrinhos no www.observatorionerd.com.br e no Twitter.
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