Shinki Chen: hard e psicodelia setentista japonesa
Resenha - Shinki Chen & His Friends - Shinki Chen
Por Ricardo Seelig
Postado em 11 de agosto de 2008
A cena hard/psicodélica japonesa do final dos anos sessenta até meados dos setenta produziu inúmeros artistas interessantes, repletos de histórias curiosas ao seu redor. Nomes como Apryl Fool, Blues Creation, Flied Egg, Flower Travellin´ Band, Food Brain, Murasaki, Powerhouse, Ranmadou, Strawberry Path, The Flowers e outros conquistaram admiradores no mundo todo através de sua música, tornando a terra do sol nascente uma verdadeira mina de ouro para os colecionadores, eternamente famintos por conhecimento e informações a respeito de novos artistas.
O guitarrista Shinki Shen é um dos principais e mais importantes nomes de toda essa cena. Com passagens pelo Powerhouse, Foodbrain, Flied Egg e pelo power trio Speed, Glue & Shinki, Shen é considerado o Jimi Hendrix japonês.
Nascido em 30 de maio de 1949, Shinki começou a tocar guitarra aos 14 anos, revelando-se logo um prodígio em seu instrumento. Após montar um grupo folk com alguns amigos, Shen tocou com seu brothero Keibun Hayashi em uma banda no estilo dos Beatles, e mais tarde aventurou-se em um conjunto na linha dos Ventures. Mas Shinki, um aficcionado pelos Kinks e pelos Yardbirds, queria fazer um som na linha do que estava sendo produzido na Inglaterra na segunda metade dos anos 1960, ou seja, rock influenciadíssimo pelo blues americano.
A paixão era tanta que em 1966 aceitou largar a guitarra e assumir a bateria na Midnight Express Blues Band, onde conheceu e logo se aproximou do guitarrista Masayoshi Kabe, que mais tarde seria seu companheiro no Foodbrain e no Speed, Glue & Shinki. Kabe deixou o grupo em dezembro de 66, e Shen assumiu o seu lugar na guitarra. Após algumas mudanças de formação e também de nome, a Midnight Express Blues Band agora se chamava The Bebes. A banda fez várias apresentações em clubes e discotecas, e o visual de Shinki e do vocalista Eiji "Chibo" Takamura, com longos cabelos inspirados em seus ídolos ingleses, começou a causar alguns problemas para o grupo, ao mesmo tempo em que chamava a atenção do público. A Toshiba Records não perdeu tempo e ofereceu um contrato para os Bebes, que lançaram um raríssimo single com uma versão mais lenta de "Back in the USSR" dos Beatles.
A influência dos artistas ingleses continuava a fazer a cabeça de Shen e sua turma, e, após a entrada de George Yanagi no baixo, a banda mudou novamente de nome e passou a se chamar Powerhouse. O material do grupo era baseado em covers de sucessos que estavam virando a terra da rainha de cabeça para baixo, como "Good Morning Schoolgirl" dos Yardbirds e "Spoonful", eternizada pelo Cream. O Powerhouse gravou um álbum em 1969, "A New Kind Of Blues", só com releituras de composições de outros artistas, e se dissolveu por problemas internos.
Shinki passou a atuar como músico de estúdio e conseguiu entrar na banda montada para a versão japonesa do musical "Hair", onde conheceu o vocalista Joe Yamanaka (que mais tarde faria parte da Flower Travellin´ Band) e o tecladista Hiro Yanagida (Apryl Fool). Ao lado de Hiro, Shinki forma o Food Brain, que logo chamou a atenção pela grande quantidade de improvisações entre os músicos em seus shows.
Esssa liberdade criativa inspirou Shinki Shen, que resolveu reunir alguns amigos das antigas e gravar um álbum com a sua leitura de toda aquela cena, tendo, é claro, a sua guitarra como elemento principal. Assim surgiu "Shinki Shen & His Friends", lançado em 15 de janeiro de 1971 pela Polydor japonesa. Ao lado de Shinki estavam o vocalista e baixista George Yanagi (Strawberry Path, Flied Egg), o brother Hiro Yanagida nos teclados e o baterista Shinichi Nogi. As sete faixas do álbum trazem um som psicodélico ao extremo, banhado em LSD, lisergia levada a cabo por ótimos músicos.
"The Dark Sea Dream" introduz o trabalho com um emaranhado de sons, abrindo as portas para "Requiem of Confusion". Totalmente hendrixiana, a faixa traz os vocais de Yanagi repletos de efeitos, embalados por uma estrutura que é filha direta dos clássicos hard blues setentistas. "Freedom Of A Mad Paper Lantern" traz um andamento psicótico que se assemelha a uma jam embebida em ácido. A melancólica balada "Gloomy Reflections" é a faixa mais convencional do disco, enquanto que "It Was Only Yesterday" nos transporta para dentro de uma trip lisérgica, onde o grande destaque é o teclado de Yanagida. O álbum fecha com "Farewell to Hypocrites", a minha preferida, uma odisséia sensorial com quase treze minutos e um grande solo de Chen.
"Shinki Chen & His Friends" não é um álbum fácil de ouvir. As loucuras do maluco quarteto nipônico capitaneado por Shinki Chen tem uma mixagem com agudos excessivos e poucos graves, resultando em um som com pouco peso e momentos que exigem uma atenção quase que exclusiva do ouvinte para perceber detalhes e aspectos dos arranjos das músicas. Ouvidos não tão acostumados com o estilo certamente serão incomodados, afinal não é o tipo de música para ser colocada na sala animando um alegre papo entre amigos, mas sim um som que pega o corpo de quem por ele se aventura e o leva por caminhos ainda inexplorados.
Raríssima, a edição original do álbum, lançada pela Polydor japonesa, frequentemente atinge valores acima dos mil dólares em sites de colecionadores, o que só atesta a procura e o fascínio pela obra desse mítico músico japonês.
Faixas:
1. The Dark Sea Dream
2. Requiem of Confusion
3. Freedom of a Mad Paper Lantern
4. Gloomy Reflections
5. It Was Only Yesterday
6. Corpse
7. Farewell to Hypocrites
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