O único compositor brasileiro na história que foi gravado por Elvis Presley
Por Gustavo Maiato
Postado em 25 de abril de 2025
Em meio aos nomes celebrados da música brasileira que atravessaram fronteiras, como Tom Jobim, João Gilberto e Vinícius de Moraes, há um artista que realizou um feito singular — e muitas vezes esquecido: Luiz Bonfá foi o único compositor brasileiro a ter uma música gravada por Elvis Presley.
A história, quase inacreditável, começa na década de 1950. Bonfá, já conhecido no Brasil como "O Menino de Ouro da Rádio Guanabara", partiu para os Estados Unidos em 1957 sem dinheiro, sem falar inglês, apenas com seu violão nas costas e um sonho de mostrar sua música ao mundo.
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De acordo com informações do site Primeira Página, depois de muita insistência — e noites tocando de graça em festas nova-iorquinas — Bonfá foi descoberto por Mary Martin, estrela da Broadway, que o convidou para integrar sua orquestra. A partir dali, começou sua trajetória internacional, atuando como músico de estúdio, gravando mais de 50 discos e tocando com artistas do mundo todo.
O ponto alto dessa trajetória veio em 1968, quando Elvis preparava o filme "Live a Little, Love a Little" (no Brasil, "Viva um Pouquinho, Ame um Pouquinho"). Na busca por uma canção romântica para a trilha sonora, uma ponte improvável foi construída.

Segundo Bonfá contou à Folha de S.Paulo (via História Mundi), quem sugeriu seu nome a Elvis foi Ava Gardner, estrela de Hollywood e ex-esposa de Frank Sinatra. Ela teria dito: "Tem um garoto querendo que você faça a música de um filme dele". O "garoto" era Elvis.
Bonfá recebeu a letra da música — escrita por Randy Starr, compositor recorrente nas trilhas do cantor — e criou, em uma só tacada, a melodia que seria batizada de "Almost in Love". A canção foi lançada como single em 1968, ao lado de "A Little Less Conversation", e entrou na trilha do filme.
A composição, na verdade, já existia. Chamava-se "Luar no Rio" e foi lançada por Bonfá em 1966 no disco "A Cena Brasileira" (nos EUA, The Brazilian Scene), sob o nome de "Moonlight in Rio". A adaptação para Elvis manteve a melodia original e recebeu nova letra.

Ainda há dúvidas sobre a participação de Bonfá na gravação com Elvis. A bibliografia oficial do cantor, como a obra "Elvis Presley: A Vida na Música", de Ernst Jorgensen, não o menciona entre os músicos presentes no estúdio. É possível que o violão tenha sido gravado à parte e mixado posteriormente. Se houve ou não um encontro entre os dois artistas, permanece como um mistério.
Mesmo tendo alcançado um feito inédito, Luiz Bonfá não obteve o mesmo reconhecimento que seus contemporâneos da Bossa Nova. Sua contribuição, no entanto, foi vital para a imagem da música brasileira no exterior. Sua canção "Manhã de Carnaval", composta com Antônio Maria para o filme "Orfeu Negro" (1959), é até hoje uma das músicas brasileiras mais gravadas no mundo, com versões de Frank Sinatra, George Benson, Stan Getz e muitos outros.

Bonfá, nascido no Rio de Janeiro em 1922, autodidata até os 13 anos, ganhou aulas gratuitas do mestre uruguaio Isaías Sávio, tamanha era sua dedicação. Tocando sozinho em festas em Nova York, alcançou palcos como o do Carnegie Hall, ao lado de Tom Jobim e João Gilberto, no emblemático show de 1962 que apresentou a Bossa Nova ao mundo.
Bonfá faleceu em 2001, aos 78 anos, sem ver sua história amplamente celebrada como merecia. "Ele não teve o borogodó de alguns colegas mais midiáticos, mas teve talento de sobra", resumiu o jornalista Luiz Nassif, ao comentar a trajetória do compositor. E talento, definitivamente, não faltou.


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