SobreViventes: Surdez é rockão na veia, mas sem deixar a elegância do prog
Resenha - Surdez - SobreViventes
Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 10 de julho de 2022
Se 2020 e 2021 foram anos complicados, 2022 veio com desafios ainda maiores. O texto abaixo começou a ser escrito na primeira semana deste ano, quando ele ainda era ano-novo. E só agora conseguimos finalizar a edição. E nem prometemos que as coisas melhorarão daqui por diante, apesar de que, pelo menos em termos musicais, estamos pisando num bom chão.
O primeiro disco que ouvi em 2022 foi também o primeiro a ser lançado neste ano. E, se ainda em janeiro, já estamos ansiosos para que o ano acabe, na música parece que não vamos seguir pelo mesmo caminho. 2022 começa com o pé direito, com um som fortemente calcado no mais puro rock nacional pré-geração de 80. A SOBREVIVENTES, nova banda do vocalista da cearense TREM DO FUTURO, Paulo Rossglow, ladeado por Dudu Freire (guitarra, violão, baixo, teclado) e Felipe Valentim (bateria), dá uma aula de sonoridade, enquanto o vocalista, particularmente, entrega, sem surpresa alguma, sua aula de interpretação.
Na capa, os célebres macaquinhos do dito "See no evil, hear no evil, speak no evil" (cabe dizer, a capa poderia ser mais inspirada, acho que os tons pastéis me incomodaram). E no que talvez seja o conceito do álbum, exatamente o contrário de surdez, as múltiplas capacidades que o som tem de comunicar sentimentos, angústias, alegrias, empolgação ou falta dela, as múltiplas cavidades das emoções humanas fisicamente transformadas em ondas, quase palpáveis, quase visíveis, totalmente faláveis.
A faixa título já vem de cara mostrando a que o disco veio, com a voz inconfundível de Rossglow, seu lamento pungente, encimado por um belo solo da guitarra de Dudu. Em seguida, entramos em uma viagem, "A Viagem" (lamento se não curtirem o trocadilho) que lembra distantemente o baiano Raul.
A pompa volta em "Catedrais", com mais um belo solo ao final. E, numa decisão muito acertada, o trio alterna seus momentos mais reflexivos com o bom e velho rock and roll, empoeirado como a gente gosta. Assim, é a vez das agitadas "Canibais" e "Sinal dos Ventos", que cedem o turno à melancólica "Natural". E aqui somos obrigados a ter uma frase que termine com exclamação, visto que o trabalho de guitarra de Dudu é belíssimo. Bonito, bonito mesmo!
Depois, voltamos com o rockão e assim vamos, alternando momentos, até chegar no "Velho Retrato" que arremata a obra.
O vocal característico de Rossglow é chorado, sofrido, cheio de lirismo e pode até ser que não agrade a todos, mas, estes, talvez mereçam mesmo ver o mal, ouvir o mal, falar o mal, aproveitando aqui o mote da capa. Ou quem sabe apenas a surdez. O disco, gravado em meio à pandemia nos home studios do trio, tem bons solos, à medida do rock que foi feito nos anos 70 no Brasil. Finalmente, é um belo disco, uma boa estreia, muito rock and roll. Para fãs de Raul Seixas, Camisa de Vênus, Trem do Futuro e Soul de Calçada. 2022 começa com sabor de coisa requentada, antiga, poeirenta… mas é isso mesmo que queremos.
Track List:
Surdez
A Viagem
Catedrais
Canibais
Sinal dos Ventos
Natural
A Estrada
O Livro
Caminho
Velho Retrato
Confira abaixo, mais alguns clipes que não entraram no álbum.
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