Cinco músicas com letras sobre lendas e mitos regionais brasileiros no Heavy Metal
Por Hell Yeah Music Company
Postado em 28 de maio de 2025
O Rock e o Heavy Metal sempre foram espaços criativos onde histórias ganham vida — transformando mitos, lendas e símbolos em canções carregadas de aventura, mistério e emoção. Mais do que entretenimento, a música se torna também um veículo para transmitir a riqueza cultural de um povo. No Brasil, essa vocação narrativa encontrou um solo fértil ao se conectar com a diversidade das lendas regionais espalhadas por todo o território nacional. Do Norte ao Sul, o folclore brasileiro inspira bandas de diferentes vertentes do rock e do metal, mostrando que nossa cultura não apenas resiste no imaginário popular, mas se reinventa através da música.

Nesta matéria, listamos cinco músicas que abordam lendas e mitos regionais brasileiros, criadas por bandas das mais diversas vertentes do Rock e do Heavy Metal nacional — uma amostra da pluralidade e da profundidade com que o gênero dialoga com a cultura do país.
Confira abaixo as músicas na playlist enquanto acompanha a riqueza de suas temáticas na matéria a seguir.
Banda: Braia
Música: "Sabarabuçu"
Gênero: MPB, Música Celta, Rock Progressivo, Música Regional Brasileira
Origem: Minas Gerais

Braia é o projeto solo de Bruno Maia, compositor e multi-instrumentista especialmente conhecido por seu trabalho à frente da banda de Folk Metal Tuatha de Danann. No Braia, Bruno mergulha fundo em suas influências de música celta e brasileira, sem abandonar completamente as raízes no Rock e no Metal. Em seu segundo álbum de estúdio, "... E O Mundo De Cá", ele nos apresenta um Braia "desapalavrado" — um trabalho totalmente instrumental, onde belíssimas histórias são contadas sem uma única palavra, apenas através da sua impressionante habilidade de compor e executar arranjos com uma diversidade de instrumentos. O resultado é uma jornada sonora sensível e única, que reforça o talento de Bruno como um dos músicos mais criativos do cenário nacional.


Sabarabuçu era o nome que os índios davam a uma suposta montanha repleta de esmeraldas, que se tornaria uma obsessão entre os sertanistas nos fins do século XVII, especialmente Fernão Dias. No imaginário bandeirante, a serra era formada por ouro e prata e, quando avistaram a Serra da Piedade (Caeté/MG) com seu pico reluzente graças ao minério de ferro, julgaram ter encontrado a tal Sabarabuçu, pois pensavam que aquele brilho era ouro. O mito de Sabarabuçu se associa às descobertas das minas de ouro nos sertões montanhosos que vieram a ser Minas Gerais.

Banda: Vocifer
Música: "The Voice of the Light"
Gênero: Heavy/Power Metal
Origem: Tocantins
A banda tocantinense Vocifer constrói toda a sua obra em torno da mitologia amazônica. Seus dois álbuns lançados até o momento, "Boiuna" e "Jurupary", são discos conceituais que mergulham profundamente em lendas do Norte do Brasil. Escolhemos a faixa "The Voice of the Light" por ser uma das mais representativas do grupo — não apenas pela força da composição, mas também pelo videoclipe animado que a acompanha. A animação aprofunda ainda mais o conceito do álbum e oferece uma experiência visual que engrandece a proposta artística da banda.
Orientados pelos relatos coletados pelo folclorista e explorador Ermanno Stradelli, a Lenda de Jurupari foi adaptada pela Vocifer, traçando paralelos com o nosso tempo acerca de questões cruciais para a humanidade.

Na lenda de Jurupari, conta-se que a indígena Ceuci comeu o mapati, uma fruta proibida para mulheres quando se encontravam no período fértil. O suco da fruta escorreu pelo seu corpo até suas partes íntimas e assim foi concebido um menino. Como punição, Ceuci foi expulsa da aldeia. Na realidade, o pai da criança era o próprio Sol, conhecido entre os indígenas como Guaraci. Quando chegou a hora do nascimento, seu filho revelou ser uma criatura sábia que viria ao mundo trazer novos costumes e leis para os homens, assim como a dança e a música. Este menino era Jurupari.
Em "The Voice of the Light", após a humanidade ser assolada por uma praga que a deixou à beira da extinção, restaram apenas alguns anciões e mulheres que, apesar de jovens, não conseguiam criar novas linhagens, tão velhos eram os homens. Comovido com o fim da humanidade, o Sol concedeu um pouco de sua luz a um herdeiro, que nasceria da reencarnação de sua amada Seucy, a Mãe das Estrelas, que deu a luz a Jurupary, personagem central desta grandiosa trama.

Banda: Gypsy Tears
Música: "Carcará"
Gênero: Hard Rock
Origem: Minas Gerais
Demonstrando uma pluralidade temática pouco comum no Hard Rock, a banda mineira Gypsy Tears encontra espaço em suas composições para contar excelentes histórias. É o caso de "Carcará", uma das raras faixas do grupo cantadas em português — ao lado de "O Rio da Vida". A escolha do idioma reforça ainda mais o vínculo com elementos da cultura brasileira, dando voz a narrativas que fogem do lugar-comum do gênero.
Em "Carcará", a Gypsy Tears mergulha em uma lenda do interior de Minas Gerais, mais especificamente da região da Canastra, de onde vem a banda. A canção se inspira na figura do carcará, ave de rapina comum no cerrado e na caatinga, que nesta narrativa popular assume o papel de agente de julgamento moral. Segundo a lenda, o carcará aparece para bicar a nuca de quem espalha fofocas, revela segredos alheios ou insiste em falar mal dos outros. Quando essa ave surge, é sinal de que a pessoa ultrapassou os limites — continuando a propagar boatos mesmo quando todos ao redor já se calaram. A presença do carcará, nesse contexto, simboliza a superficialidade e a arrogância de quem acredita sempre ter razão, mesmo em prejuízo dos outros.

Musicalmente, "Carcará" se apoia na escala húngara menor, uma das chamadas escalas ciganas, que confere à música uma atmosfera tensa, dramática e exótica, reforçando a intensidade da narrativa e a preocupação da banda em alinhar o tema à sua sonoridade.
Banda: Soturn
Música: "Ana Jansen"
Gênero: Prog/Death Metal
Origem: Minas Gerais
Apesar de sua origem mineira, em "Ana Jansen", a banda de Progressive Death Metal, Soturn, nos conta a respeito de uma lenda maranhense. "Ana Jansen" traça um paralelo sombrio com a história e a lenda de Ana Jansen, uma figura infame e cruel conhecida como a "Senhora dos Açoites" da antiga São Luís-MA.
A letra descreve de forma vívida e aterradora uma alma atormentada, marcada por um passado de crueldade extrema, que cavalga pela noite em uma carruagem fantasmagórica. Sua fama em vida é marcada por uma violência brutal e sistemática contra seus escravos. A música enfatiza o caráter opressor e sádico de Jansen, simbolizando o terror e o sofrimento indescritível que ela infligiu, retratando-a como uma personificação do abuso e da tirania, cujas ações perversas deixaram uma marca irreversível na história e no imaginário coletivo maranhense.

Banda: Arandu Arakuaa
Música: "Aruanãs"
Gênero: Folk/Heavy Metal
Origem: Brasília-DF
O Arandu Arakuaa é uma das bandas mais relevantes do cenário brasileiro quando se trata da valorização e difusão da cultura nacional — especialmente no que diz respeito às histórias, lendas e mitos dos povos indígenas. Suas letras são profundamente inspiradas nas cosmovisões, ritos e lutas indígenas, buscando contribuir ativamente para a preservação e divulgação dessas manifestações culturais. As músicas são cantadas em línguas originárias como o Tupi, Xerente e Xavante, destacando o compromisso da banda com a ancestralidade e a resistência desses povos.
Para esta lista, escolhemos a faixa "Huku Hêmba", mas a verdade é que qualquer música da discografia do Arandu Arakuaa poderia estar aqui. Em todas, há um elo com as tradições e saberes dos povos originários do Brasil. Em "Huku Hêmba", o foco está no Espírito da Onça-Pintada, exaltado como símbolo de força e representatividade. A música é marcada por mantras e rezas que invocam espíritos e forças da natureza, criando uma atmosfera intensa e espiritual, fiel ao profundo respeito com que a banda trata cada elemento da cultura indígena.

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