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Pink Floyd: The Final Cut, o álbum "esquecido" da banda

Resenha - Final Cut - Pink Floyd

Por Ricardo Bellucci
Postado em 22 de janeiro de 2020

Esta não é uma resenha técnica, tradicional, feita por um especialista em rock progressivo, seria pretensioso demais de minha parte. Na verdade, assim como você que está lendo estas poucas linhas, sou um fã do Pink Floyd. Aprendi a amar esta banda com o LP Atom Heart Mother, o lendário LP da "vaquinha". Naveguei pelas faixas do The Wall, pela viagem em The Dark Side of The Moon, enfim, ao longo do tempo fui degustando e aprendendo a amar cada pedacinho da obra do Floyd. Não sei se já aconteceu com você, mas em muitos papos de fãs do Floyd, um LP sempre escapava à discussão acalorada sobre a obra dessa lendária banda. Esse LP era The Final Cut. Sempre tive essa impressão, a cerca The Final Cut., este era o LP esquecido do Floyd.

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A razão para tal esquecimento nunca foi clara, para mim. The Final Cut foi o derradeiro álbum do Pink Floyd com membros da formação clássica, à exceção de Richard Wright. O álbum foi lançado em março de 1983, pela Harvest Records, do Reino Unido, e nos Estados Unidos, pouco tempo depois, pela Columbia Records. Ele foi concebido e pensado praticamente sozinho por Roger Waters como um álbum conceitual, uma obra em homenagem a seu Pai, Eric Fletcher Waters, falecido durante um combate na Segunda Guerra Mundial. Praticamente essa obra não teve a participação direta de nenhum outro membro na sua concepção. A obra talvez tenha sido a gota d’água final na já conturbada relação entre os membros da banda, principalmente entre Waters e Gilmour. A questão talvez repouse exatamente aí, para muitos dos fás e mesmo dos críticos especializados, The Final Cut não é uma obra "propriamente dita" do Pink Floyd, mas um disco solo de Waters, uma espécie prenuncio de sua carreira solo.

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O tom sombrio, soturno e profundamente reflexivo da obra marca cada umas das faixas do disco, refletindo a profunda dor da perda de Roger em relação a seu pai, morto em combate na Segunda Guerra Mundial, fato esse que marcou profundamente sua vida, explicando, em boa medida, seu forte engajamento político e pacifista na fase solo de sua carreira e de sua vida enquanto ativista político.

O álbum forma um verdadeiro amálgama de sentimentos e reflexões de Waters diante dos dilemas de sua vida e do homem moderno diante dos fatos incontroláveis da existência.

Não pretendo aqui, neste curto espaço, comentar faixa por faixa, não, na verdade pretendo apenas transmitir meu sentimento e minha opinião em relação a obra como um todo. Algumas das faixas sintetizam, para mim o espírito de The Final Cut.

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Dentre as faixas do álbum que se destacam como verdadeiros marcos de The Final Cut destaco The Gunner's Dream, cuja triste melodia marca o tom dramático dado por Waters nos vocais, aliado a um maravilhoso solo de sax, ressaltando o caráter profundamente introspectivo da faixa, enfatizando os horrores da guerra e as ausências por elas causado.

The Fletcher Memorial Home é outra faixa que expressa todo o forte desprezo e a revolta profunda de Waters em relação aos líderes políticos tradicionais da época, envolvidos em uma série de guerras locais, guerras "por procuração", levando centenas de pessoas a morte e ao desespero, líderes que desprezam o respeito a vida, a história de vida de cada indivíduo, líderes insanos do ponto de vista de Waters, líderes como Ronald Reagan, Margaret Thathcer, Leonid Brejnev e Richard Nixon, dentre outros.

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No entanto, no meu entendimento, a faixa síntese do álbum é The Final Cut. A música remete, em boa medida, a profunda dor sentida por Waters em decorrência da ausência da figura paterna em sua infância e adolescência, ausência essa que o levou a solidão, a uma espécie de limbo afetivo. The Final Cut ainda se destaca pela melodia suave, quase serena, mas profundamente sentida e expressiva de Waters, e marcada, também, por um solo curto, mas não menos antológico e genial de David Gilmour:

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Outro ponto alto de The Final Cut é Not Now John. Ao contrário de muitas das outras faixas do disco, a música analisa e expõe os dramas e contradições da vida moderna, um mundo marcado pelas aparências, pela superficialidade e pela competitividade como tônicas da vida atual.

Ao ouvir The Final Cut novamente me dei conta da atualidade da obra diante da realidade do mundo atual. Embora The Final Cut não seja um dos pontos altos da obra do Pink Floyd, não podemos negar que o álbum tem seus pontos fortes e uma certa coerência com alguns outros momentos da obra da banda, como o álbum Animals (baseado na obra A Revolução dos Bichos, de George Orwell, um lp profundamente político). Creio que vale a pena revisitar esse momento da carreira do Pink Floyd despido de noções prévias, deixando apenas nos levar pela melodia do Pink Floyd!

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The Final Cut:

01. "The Post War Dream" - 3:02
02. "Your Possible Pasts" - 4:22
03. "One of the Few" - 1:23
04. "The Hero's Return" - 2:56
05. "The Gunner's Dream" - 5:07
06. "Paranoid Eyes" - 3:40
07. "Get Your Filthy Hands Off My Desert" - 1:19
08. "The Fletcher Memorial Home" - 4:11
09. "Southampton Dock" - 2:13
10. "The Final Cut" - 4:46
11. "Not Now John" - 5:01
12. "Two Suns in the Sunset" - 5:14

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Sobre Ricardo Bellucci

Pedagogo, curador educacional, pesquisador, historiador amador, economista por acaso e sobretudo um vocalista frustrado. Um construtor de Utopias.
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