Pink Floyd: Em 1983, o último álbum com Roger Waters
Resenha - Final Cut - Pink Floyd
Por Tiago Abreu
Postado em 08 de maio de 2014
Nota: 8
A pior década, os piores acontecimentos… o tempo das vacas magras, em todos os sentidos para o PINK FLOYD foram os anos 80. Dez anos que geraram apenas dois projetos, tais quais mais questionados e odiados por parte dos fãs. Um, que soa como álbum solo de Roger Waters e o sucessor, que é um disco solo de Gilmour.
Em 1983, era lançado The Final Cut. A "saída" de Richard Wright, não anunciada publicamente era um dilema sobre o futuro musical da banda, já que o tecladista e pianista era o elemento marcante na musicalidade do grupo, mas estava ultrapassado para os moldes atuais do Floyd planejados pelo baixista Roger Waters, que confirmou sua grande capacidade criativa no anterior The Wall, e assim como estava a frente da banda claramente desde Animals, seria o líder conceitual para este novo projeto. David Gilmour, por outro lado sentia-se desconfortável com o monopólio das letras sob a parte instrumental, e obviamente o atrito entre os dois integrantes foi enorme. Nick Mason? O Nick ficou em segundo plano em algumas faixas, substituído por Andy Newmark e Ray Cooper.
O disco é, sem dúvida o mais depressivo da discografia do PINK FLOYD. Desde a sua capa, título e as letras que remetem à Guerra das Malvinas e, como sempre referências à morte do pai de Waters na segunda guerra mundial. O título The Final Cut, por um lado também não seria uma indicação de último suspiro da banda?
Todas as canções do projeto são assinadas por Waters, e todo o álbum soa como uma versão semi-Floydiana de sua carreira solo. Num tom mais profundo e melancólico que as obras anteriores, somos entregues aos belos arranjos de cordas de Michael Kamen, logo na faixa de abertura, "The Post War Dream". E o que pensar nas ótimas performances de Gilmour, mesmo em todo este clima de tensão? O solo em "Your Possible Pasts" é arrebatador, contrastando com a monotonia de "One of The Few". Waters, mesmo não portando uma voz ‘bonita’ como a de Gilmour ou Wright põe seu feeling inconfundível em cada canção, seja de forma triste, rasgada ou rabugenta.
Encontrada apenas na versão remasterizada em CD, "When the Tigers Broke Free" é direta na morte de Eric Waters e esteve no filme de The Wall. A seguir, o pop de "The Hero’s Return" parece tentar mudar o clima arrastado das canções anteriores. Mas um dos momentos mais fortes do projeto é a mescla da voz de Waters e o saxofone em "The Gunner’s Dream".
As letras do cantor estão no ápice do pessimismo e reflete, de alguma forma tudo o de mais denso e severo que ele apresentou, até então. O lirismo de "Paranoid Eyes" é um exemplo do que esse compositor pode fazer em contraste a sonoridade lenta, fria e acompanhada pelos pianos de Kamen. "Get Your Filthy Hands Off My Desert" é uma pequena ponte, mas apresenta um efeito binaural interessante. O ápice da melancolia está em "The Fletcher Memorial Home", ao qual claramente faz lembrança ao sobrenome de seu pai, fazendo referências a várias personalidades. Particular é a sua inclusão em coletâneas da banda, mesmo não sendo tão conhecida.
Um folk meio cantado, meio falado em "Southampton Dock" abre espaço para a faixa-título "The Final Cut", que mostra a habilidade de Kamen, e David Gilmour num de seus melhores solos na carreira da banda, em minha opinião. E o guitarrista surge como vocal em "Not Now John", um hard rock que é uma das canções mais pesadas da banda – em todos os aspectos. A voz do cantor, interrompida em alguns momentos por Waters tem toda aquela agressividade estranha que o acompanhou em seus álbuns nos anos 80 (About Face e A Momentary Lapse) que só daria espaço para a retomada de sua leveza setentista em The Division Bell. Os vocais de apoio femininos, a força na interpretação... uma faixa diferente, mas que não conta de forma alguma como ponto negativo no projeto. "Two Suns in the Sunset" fecha o trabalho, muito bem, com saxofone tenor de Raphael Ravenscroft.
Após tudo isso, se alguém tinha dúvidas quanto à supremacia de Waters no lirismo da banda, não é necessária nenhuma outra prova. Por outro lado, o descontentamento de Gilmour é interessante: até quando vale ir tão fundo assim? Diferenças que, creio eu nunca serão resolvidas. Por outro lado, Richard Wright batia a cabeça atuando no horrível Zee. O lado psicodélico, viajante e modesto do tecladista deu lugar a ironia e acidez de Roger. A banda se desintegrou e Gilmour apresenta "A Momentary Lapse of The Reason", uma espécie de versão oposta de Final Cut, mas isso é assunto para outra resenha.
Diante de tudo isso, resta uma pergunta: The Final Cut, sem contribuições relevantes dos demais integrantes é um álbum genuíno do PINK FLOYD ou apenas traz o nome da banda por um apelo comercial de um disco solo de Roger?
Track-list:
1. The Post War Dream
2. Your Possible Pasts
3. One of the Few
4. When the Tigers Broke Free
5. The Hero's Return
6. The Gunner's Dream
7. Paranoid Eyes
8. Get Your Filthy Hands Off My Desert
9. The Fletcher Memorial Home
10. Southampton Dock
11. The Final Cut
12. Not Now John
13. Two Suns in the Sunset
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