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Dream Theater: Surpreendente e assombroso

Resenha - Astonishing - Dream Theater

Por Ricardo Pagliaro Thomaz
Postado em 04 de março de 2016

Nota: 8 starstarstarstarstarstarstarstar

Por muitos anos, eu esperei para, finalmente, ver um álbum novo do Dream Theater nesses moldes, e exclamar aos quatro ventos que a banda conseguiu fazer algo grande novamente. Aliás, não só grande: astonishing. Ou, em português, "surpreendente", "assombroso", como diz o próprio título da ópera rock do quinteto americano, que segue os passos de bandas como The Who, Genesis, Spock's Beard e Pink Floyd, na composição de óperas rock sensacionais e que simplesmente te causam aquele arrepio na espinha! Será que ela é realmente o que o título propagandeia? Vamos descobrir.

Dream Theater - Mais Novidades

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Subindo no ombro de gigantes, tomando como exemplo, álbuns históricos e geniais, como as obras-primas The Wall, The Lamb Lies Down On Broadway, Snow, Tommy, e vários outros clássicos exemplos de discos que deixaram sua marca na história do Rock, o Dream Theater retorna para os holofotes com uma obra contundente, cujo tema soa bem interessante, mas que tem lá os seus tropeços; mas, apesar disso, podemos dizer que a banda resolveu ousar novamente, e por isso, este novo álbum do grupo americano irá enfrentar o teste do tempo.

Isso para mim foi uma tremenda surpresa, porque eu não achava que a banda poderia voltar um dia com um trabalho novo dessa magnitude. Eu já falei, em outras resenhas, como o Dream Theater esteve me decepcionando em seus trabalhos mais recentes, partindo lá do primeiro CD do Six Degrees Of Inner Turbulence, até o primeiro álbum com Mangini, A Dramatic Turn Of Events. Conseguiu uma boa recuperação com o disco auto-intitulado anterior, mas para mim, não iria passar mais daquilo alí. Felizmente, eu estava errado!

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Comparada às obras anteriores do grupo, eu diria que, se dissermos que Scenes From A Memory corresponde ao Dark Side Of The Moon da banda de Rock Progressivo, então The Astonishing seria o The Wall do grupo. E eu sou um dos maiores fãs de The Wall que você jamais vai encontrar por aí, fui ao cinema ano passado, inclusive, assistir ao espetacular show que Roger Waters gravou em 2014 de sua obra magnânima, e registrei minhas impressões no meu blog e no Whiplash.

Isso, sem dúvidas, é dizer muito. Eu não consegui escutar o novo álbum todo de uma só vez. Tive que fazer uma pausa após o término do primeiro CD, para deixar todo o Ato I da grande ópera rock que a banda elaborou mergulhar em meu inconsciente, para eu poder ter tempo de mastigar aquilo primeiro antes de prosseguir. Acabei o primeiro CD, larguei o álbum, estupefato, e fui fazer outra coisa. Em outro dia, após ter passado algum tempo, toquei tudo outra vez para relembrar, e continuei do segundo CD.

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Dessa forma, pude aproveitar este tempo para realmente mergulhar fundo nos detalhes da obra. Vamos então falar dela. A questão dos conceitos que permeiam o disco, eu já tratei antes, na matéria que eu publiquei onde abordo estes fatores, para que eu não precisasse fazer uma resenha longa demais abordando tudo de uma vez, então, se você não viu essa matéria, recomendo que acesse o link que vou deixar no final e confira, antes de ler a resenha. Aqui eu vou me focar nos aspectos líricos e musicais. Vamos falar primeiro da trama.

HISTÓRIA

A história do álbum foi inspirada em diversas fontes modernas de ficção-científica e fantasia. Eu já havia citado o livro Fahrenheit 451 na minha matéria; há também os aspectos dos robôs, das obras de Isaac Asimov, além de sua série Foundation, robôs estes que aqui são sentinelas que observam um povo em um regime autoritário, muito como na obra 1984, de George Orwell. Também podemos identificar aqui referências de outras obras de fantasia, como Dune, elementos das obras de escritores como George R. R. Martin e J. R. R. Tolkien, entre muitos outros. Há também elementos do teatro operístico, com traços de tragédia e redenção dos personagens, o que justifica certas passagens da obra.

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Em essência, não é nada assim original ou que já não tenhamos visto antes, você com certeza já viu diversas histórias de ficção-científica e fantasia parecidíssimas com essa; mas como uma peça musical, fica bastante interessante. O bom contador de histórias não é somente aquele que relata algo, mas também o que sabe escolher o tom da história, o formato que será apresentada, enfim, tem uma gama de variáveis a serem consideradas. E o Dream Theater aqui realmente soube colocar peso na narrativa.

A história começa com narração de Arhys, o rebelde. Em um futuro distópico, o rei Nafaryus desce de seu reino para conhecer o salvador do vilarejo de Ravenskill, Gabriel, que o impressiona com sua música. Mas o imperador não se intimida e lhe dá um prazo para se entregar ou então destruiria o vilarejo. Nesse meio tempo, a esposa e filha do imperador tentam mudar sua cabeça, mas ele permanece irredutível. Seu filho Daryus coloca Arhys em uma calça curta, tendo que escolher entre seu filho Xander e a lealdade de seu irmão Gabriel. Este é um resumo do primeiro ato.

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O segundo ato nos mostra a grande reviravolta desta história, em que uma série de consequências trágicas dão vazão a um novo mundo. Basicamente, é isso. E isso não é spoiler algum, você já viu isso antes, várias vezes. Em suma, o final da história é meio corrido, eu achei que eles poderiam ter gasto um tempo um pouco maior nos ritos finais, mas o que ocorre é o esperado, com uma consequência trágica que irá gerar um novo reino e um novo império onde Gabriel cumpre a sua função de escolhido através de seu dom da música e reúne a todos através de seu poder, fazendo com que o imperador tenha se arrependido de sua arrogância, para permitir nova vida aos habitantes do reino, e finalmente desligar os NOMACS e acabar com seu governo autoritário.

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Confesso que, apesar de achar tudo muito grandioso e interessante, a história deixa uma ou outra ponta solta no final, e não explica a natureza do poder de Gabriel, achei esse aspecto meio vago; também tem alguns trechos meio breguinhas, se compararmos com outras obras da banda mesmo, mas essa breguice é realmente emprestada da ópera, então está dentro da proposta que o grupo quis empregar. Em linhas gerais, achei a história muito boa, mas ainda prefiro as articuladas insinuações e o sarcasmo de The Wall, do Floyd. Mas enfim, são propostas diferentes. Vamos falar da música.

MÚSICA

Em relação aos aspectos musicais, a banda retornou com os seus interlúdios instrumentais cheios de melodia e produção, exemplo é uma das faixas de introdução, a fantástica "Dystopian Overture"; os singles também estão presentes, como no caso de "The Gift Of Music"; pequenas passagens de delicadeza musical e calmaria, elementos que sempre engrandeceram o som da banda, seja em trechos de épicos, seja nos álbuns conceituais, como podemos apontar em "The Answer" e "When Your Time Has Come", assim como o peso e progressão características do grupo, como em "A Better Life" e "Three Days".

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Há muitos momentos em que a banda evoca suas influências. Há passagens que remetem muito a Pink Floyd, como no caso de "Brother, Can You Hear Me?", o próprio álbum The Wall está aí para provar; "A Life Left Behind" simplesmente começou e já gritava Yes e Steve Howe na minha cabeça. E se pegar algo como "A New Beginning", é impossível não pensar na constante que sempre foi uma das maiores influências da banda, o Rush.

No segundo ato, muitos destes temas são repetidos, mas ainda podemos destacar temas ótimos como "Moment Of Betrayal" ou a acústica "Heaven's Cove", que lembra Floyd novamente. O peso retorna em "The Path That Divides" e "The Walking Shadow". Mais um momento orquestral digno de menção é "Hymn Of A Thousand Voices", que nos leva aos ritos finais da narrativa que fecham esta obra musical de grandes proporções que o Dream Theater nos oferece no início do ano.

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CONCLUSÃO

Apesar dos erros apontados anteriormente, lá em cima, considero todo este trabalho muito bem elaborado e pensado. Os caras tiveram o cuidado e a paixão de criar todo um universo com regras, lugares, personagens, uma narrativa, na sua maior parte, coerente, digna da proposta musical. Não só isso: uma narrativa moderna, que através da ficção e da fantasia, retrata a própria indisposição do homem moderno de mudar, de seguir outros rumos em sua vida.

E isso não é tudo! Ainda farão um game sobre este disco! Sim, um game! Sairá em abril, para Android, IOS e computadores. Olha o quanto os caras acreditaram nessa nova proposta deles!

E ainda por cima uma campanha de marketing no próprio site que divulgava toda esta proposta. Este disco, se bem trabalhado, daria um filme muito bom. Eu recomendo a todos que são fãs de boa música, que escutem e divulguem este disco. E se você ainda está um pouco confuso com a narrativa, sugiro mais uma vez que volte ao meu artigo sobre os conceitos do álbum, para melhor apreciar o disco, ou então acesse o link do próprio site da banda que lá tem todas as informações. Vou deixar o endereço aqui na própria matéria. E se você é fã de longa data do Dream Theater, ou de Rock Progressivo, vá atrás do disco que vale a pena. Não chega a ser "astonishing", como o disco diz ser, mas definitivamente, é uma obra contundente e que te deixará pensativo por algum tempo, além de plantar boas sementes para futuras leituras e referências.

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- Link para a matéria sobre os conceitos e personagens da obra:

WHIPLASH:

MEU BLOG:

http://acienciadaopiniao.blogspot.com.br/2016/02/materia-os-conceitos-por-tras-de.html

- Link para o site do álbum:

http://www.dreamtheater.net/theastonishing

- Notícia sobre o game (em inglês):

http://www.blabbermouth.net/news/dream-theater-the-astonishing-game-coming-in-april/

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The Astonishing (2016)
(Dream Theater)

Tracklist:
Act I
01. Descent Of The NOMACS
02. Dystopian Overture
03. The Gift Of Music
04. The Answer
05. A Better Life
06. Lord Nafaryus
07. A Savior In The Square
08. When Your Time Has Come
09. Act Of Faythe
10. Three Days
11. The Hovering Sojourn
12. Brother, Can You Hear Me?
13. A Life Left Behind
14. Ravenskill
15. Chosen
16. A Tempting Offer
17. Digital Discord
18. The X Aspect
19. A New Beginning
20. The Road To Revolution

Act II
01. 2285 Entr’acte
02. Moment Of Betrayal
03. Heaven’s Cove
04. Begin Again
05. The Path That Divides
06. Machine Chatter
07. The Walking Shadow
08. My Last Farewell
09. Losing Faythe
10. Whispers In The Wind
11. Hymn Of A Thousand Voices
12. Our New World
13. Power Down
14. Astonishing

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Selo: Atlantic Records

Dream Theater é:
James LaBrie: voz
John Petrucci: guitarra
John Myung: baixo
Jordan Ruddess: teclados
Mike Mangini: bateria

Discografia anterior:
- Dream Theater (2013)
- A Dramatic Turn of Events (2011)
- Black Clouds & Silver Linings (2009)
- Systematic Chaos (2007)
- Octavarium (2005)
- Train of Thought (2003)
- Six Degrees of Inner Turbulence (2002)
- Metropolis Part 2: Scenes From a Memory (1999)
- Falling Into Infinity (1997)
- Awake (1994)
- Images and Words (1992)
- When Dream and Day Unite (1989)

Site oficial:
http://www.dreamtheater.net

Para mais informações sobre música, filmes, HQs, livros, games e um monte de tralhas, acesse também meu blog:
http://acienciadaopiniao.blogspot.com.br

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Sobre Ricardo Pagliaro Thomaz

Roqueiro e apreciador da boa música desde os 9 anos de idade, quando mamãe me dizia para "parar de miar que nem gato" quando tentava cantarolar "Sweet Child O'Mine" ou "Paradise City". Primeiro disco de rock que ganhei: RPM - Rádio Pirata ao Vivo, e por mais que isso possa soar galhofa hoje em dia, escolhi o disco justamente por causa da caveira da capa e sim, hoje me envergonho disso! Sou também grande apreciador do hardão dos anos 70 e de rock progressivo, com algumas incursões na música pop de qualidade. Também aprecio o bom metal, embora minhas raízes roqueiras sejam mais calcadas no blues. Considero Freddie Mercury o cantor supremo que habita o cosmos do universo e não acredito que há a mínima possibilidade de alguém superá-lo um dia, pelo menos até o dia em que o Planeta Terra derreter e virar uma massa cinzenta sem vida.
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