Massageie sua mente com este ácido orgasmo auditivo
Por Bento Araújo
Postado em 23 de abril de 2006
A Bíblia. Se uma viagem de ácido tivesse uma trilha sonora definitiva ela seria "Seven Up". Amparados pelo guru Timothy Leary, o Ash Ra Tempel lançou seu álbum definitivo em 1972.
O Ash Ra Tempel nada mais era do que um bando de freaks alemães que formaram a banda na Berlim de 1970. Eles tinham o maior equipamento da cidade, já que em 1967, Harmut Enke, um moleque de 14 anos, se mandou para Londres com uma grana e lá comprou quatro caixas enormes que pertenciam ao Pink Floyd. "Arrastou" tudo de trem e balsa para casa e chamou um amigo chamado Klaus Schulze (que estava abandonando o Tangerine Dream) para conferir seu novo equipamento. Schulze fica impressionado e monta ao lado de Enke e Manuel Göttsching o Ash Ra Tempel.
Schulze não ficou muito e partiu para uma carreira solo experimental, eletrônica/ambiente. Isso não impediu que o Ash Ra Tempel continuasse criando épicos espaciais em sua insanidade, tornando-se rapidamente um dos pilares do Krautrock.
A banda já havia lançado dois álbuns e para o terceiro estavam a caça de Allen Ginsberg, ídolo absoluto dos caras, que sonhavam com uma participação do poeta beat norte-americano em seu novo registro. Não localizaram Ginsberg mas ficaram sabendo que Leary havia fugido de uma prisão nos EUA e que está passando uma temporada na Suíça. Enke foi então ao encontro do guru psicodélico, que adorou a idéia, já que estava de saco cheio das bandas tradicionais inglesas como o Pink Floyd.
Leary andava nessa época muito envolvido com um escritor inglês chamado Brian Barritt e ambos estavam loucos para criar uma interpretação musical para o "mapa da mente", os sete níveis de consciência em que a mente humana é dividida. O lado A do vinil seria batizado de "Space" e correspondia aos quatro níveis iniciais. O lado B é o "Time" e seria composto de instrumentais representando os três níveis superiores. Cada música corresponderia a um dos níveis.
O pessoal do Ash Ra Tempel se impressionou muito com as idéias de Leary e Barritt e logo assinaram um contrato com ambos em um café chamado Juker Café, em Berne, onde Leary sentou na mesma cadeira que tinha pertencido a Albert Einstein. Leary não poderia se mover até Berlim, pois corria o risco dele ser capturado pela polícia alemã. O pessoal do Ash Ra Tempel veio para a Suíça e se instalou por uma semana em uma grande casa nos Alpes. Amigos, visitantes e até alguns músicos amadores participaram também das sessões do novo álbum. Tudo ia muito bem até que o filho de Leary carregou uma garrafa do refrigerante Seven Up com potentes ácidos cristalizados e foi oferecendo para a galera. Daí surgiu o nome do disco - "Seven Up".
Em três dias a turma produziu intensamente uma das maiores viagens sonoras. Trabalhavam letras, escreviam todas as idéias em pedaços de papel e Leary ia para o microfone espontaneamente. Todos esperavam que ele iria apenas recitar algo, discursar algumas idéias, mas a viagem era tanta que Leary começou a cantar, para o espanto do pessoal. O álbum foi mixado pelo experiente produtor alemão Dieter Dierks que aproveitou para incluir algumas 'camas' de sintetizadores juntando as faixas, deixando o álbum todo como uma longa peça musical única, apesar de conter os sete temas do 'mapa da mente'.
Apesar do alto valor histórico, "Seven Up", pode ser uma surpresa desagradável para algum desavisado que ouvir o álbum sem saber de sua atraente história. Passagens serenas e ambientes se misturam com o punk mais visceral de dois acordes! O pessoal envolvido guarda boas lembranças das gravações, porém afirma que não costuma pinçar o álbum e jogá-lo no prato da vitrola nos dias atuais. Barritt chegou a declarar que "Seven Up" só faz sentido para quem tomar um tablete de ácido e esperar pelos efeitos da droga enquanto rola os 45 minutos de viagem sonora.
Ouvir "Seven Up" em estados alterados da mente soa como se fosse a experiência de se olhar um mapa antes de uma viagem de carro para saber onde se guiar sem se perder... Hoje em dia, que banda tem ambição e arrogância suficiente para lançar algo semelhante?
Na versão impressa da poeira Zine número 11, Beatles, Hendrix, The Who, Cream, Stones, Byrds, Doors, Grateful Dead, Os Mutantes, Jefferson Airplane, Stooges, Funkadelic, Beach Boys e muitos outros comparecem com suas peripécias lisérgicas. Essa edição traz também um Top 20 com as canções mais doidonas e ácidas além de muitas curiosidades sobre a influência desse componente na vida de vários ícones do rock.
Poeira
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