AC/DC em São Paulo: um show que fez a chuva parar
Resenha - AC/DC (Morumbi, São Paulo, 27/11/2009)
Por Fernão Silveira
Postado em 28 de novembro de 2009
Shows do AC/DC são épicos – quem já presenciou um, ou mesmo assistiu a um DVD da banda, sabe bem do que estou falando. O mais puro rock n'roll, a energia inesgotável de Angus Young e Brian Johnson, os muitos recursos visuais de palco e a química única daqueles cinco simpáticos senhores australianos com o público são ingredientes que tornam seus espetáculos verdadeiros épicos.
Fotos: Marcelo Rossi
E nesta sexta-feira (27/11/2009), num Estádio do Morumbi (São Paulo) tomado por mais de 65 mil fãs, o AC/DC conseguiu adicionar uma façanha em seu currículo já irretocável: até a chuva parou para vê-los e ouvi-los tocar. Precisa falar mais alguma coisa?
Como diria o poeta, "chovia a cântaros" na Zona Sul da capital paulista até por volta das 21h. Quem se encaminhava ao Morumbi, ou quem já estava no estádio à espera do show, foi castigado por uma chuva que não dava mostras de que poderia parar. Mas até São Pedro, o dono das chaves do Céu e comandante da grande central meteorológica da Terra, quis prestar o seu tributo ao AC/DC. Sim, pelas duas horas de espetáculo que viriam a seguir, não seria demais concluir que Angus Young e Cia. fizeram a chuva parar.
O primeiro – e único – show do AC/DC no Brasil após intermináveis 13 anos de espera tinha mesmo uma aura toda especial. Desde a batalha desumana para adquirir ingressos, comparável à vergonhosa venda de tíquetes para a turnê de Madonna em 2008, até o nosso inevitável ciúme em ver que a banda marcou três shows seguidos em Buenos Aires (2, 4 e 6 de dezembro, no estádio do River Plate) e apenas um no Brasil, tudo aumentava a expectativa para uma apresentação perfeita no Morumbi. Mas o final justificou todos os meios.
Se, por um lado, a escassez de datas no Brasil minou as oportunidades de milhares e milhares de fãs pelo país afora, a exclusividade do show em São Paulo transformou o Morumbi num bonito mosaico de sotaques. Desde o "paulistês" carregado do interior até os tons inconfundíveis de quem veio do Nordeste, era possível ouvir de tudo ao redor e dentro do estádio. Este cronista, por exemplo, teve a oportunidade de acompanhar um casal de amigos americanos ao show. Acostumados a grandes espetáculos em organizadas arenas de Chicago e Houston, eles se impressionaram (e também se assustaram, é verdade...) com o mundaréu de gente, com a civilizada baderna, com o trânsito simplesmente surrealista e com a devoção inflamada dos fãs brasileiros.
Mas falemos do show, que começou com espantáveis cinco minutos de atraso (nem dá para chamar isso de atraso). Às 21h35, os refletores se apagaram para revelar um mar de luzinhas vermelhas piscantes – as tiaras de chifrinhos vendidas a R$ 10 na porta do estádio, compradas por pelo menos um terço da platéia. Os telões, de resolução perfeita, começaram a exibir o desenho animado de abertura: uma aventura da banda dentro de um trem descontrolado e em altíssima velocidade – o "Rock N' Roll Train", música de abertura do álbum "Black Ice". Aos primeiros acordes das guitarras de Angus e Malcolm, uma gigante locomotiva abriu caminho no palco para mais um show do AC/DC.
"Não falamos bem 'brasileiro' (sic), mas falamos rock n' roll", disparou Brian Johnson ao saudar a platéia. Nem deu para rir com o erro macarrônico do simpático vocalista, pois "Hell Ain't a Bad Place to Be" e a espetacular "Back in Black" chegaram na sequência para tirar o fôlego da galera.
"Big Jack", a segunda das quatro músicas de "Black Ice" executadas, foi muito bem recebida e comprovou que os discos novos do AC/DC são trabalhados à perfeição – é por isso que a banda opta por hiatos de sete anos ou mais entre seus lançamentos recentes, em vez de se arriscar a soltar discos 'meia-boca' a cada dois anos (infelizmente, muitas boas bandas das antigas parecem ainda não ter aprendido esta lição...). "Dirty Deeds Done Dirt Cheap" (uma das melhores músicas da noite), "Shot Down in Flames", "Thunderstruck" (igualmente maravilhosa) e "Black Ice" (outra novidade do repertório) arrebataram o público, que se divertia como nunca em um Morumbi já completamente sem chuva.
"Esta música é sobre uma vagabunda... ", anunciou Brian Johnson, entre risos e acordes distorcidos da guitarra de Angus. "Esta música se chama 'The Jack'", completou, para delírio da galera. Mostrando estar no espírito da música, uma das moças da platéia não teve dúvidas ao se ver no telão: levantou a blusa e exibiu o sutiã para todo o Morumbi apreciar.
Que tal uma pausa para respirar? Nunca... O sino gigante desceu ao centro do palco para anunciar, com suas badaladas inconfundíveis, que "Hells Bells" estava prestes a começar. Depois dela, "Shoot to Thrill" manteve as gargantas aquecidas e abriu caminho para a animada "War Machine", último petardo da lista de "Black Ice" no set atual.
Fazendo jus ao seu caráter épico, o show entrou na reta final com uma sequência de clássicos inesquecíveis: "Dog Eat Dog", "You Shook Me All Night Long" (cantada em uníssono) e "T.N.T." (pesada e arrebatadora). Ao chamar "Whole Lotta Rosie", Brian Johnson brincou: "Trouxemos uma antiga namorada para o show de hoje..." – foi a senha para uma gigante e corpulenta Rosie inflável, de provocantes luvas, sutiã e cinta-liga vermelhas, tomar forma montada na locomotiva do Rock N' Roll Train que adornava o palco. Para o fecho perfeito, um clássico atemporal: "Let There Be Rock", ilustrada por um emocionante videoclipe com imagens dos mais de 35 anos de carreira da banda e ainda emendada por um insano solo de quase 20 minutos de Angus Young. Sim, àquela altura do campeonato ele ainda era capaz de correr para todos os cantos do palco, provocando os fãs e dedilhando acordes distorcidos em sua guitarra.
É claro que ninguém arredou o pé do estádio diante do falso adeus de Brian Johnson. Poucos minutos depois, um alçapão esfumaçado se abriu no meio do palco para mostrar Angus Young saindo direto da estrada do inferno: "Highway to Hell" abriu o bis com toda a autoridade possível. Lindo, mas também triste, pois todos sabiam que o show chegava ao fim, foi ver os canhões se posicionando ao som das notas de "For Those About to Rock". Execução perfeita, salva de tiros e muita ovação marcaram a despedida de Angus, Malcolm, Brian, Cliff Williams e Phil Rudd. Acabou? Não exatamente: uma queima de fogos estonteante foi a cereja do bolo de um show que beirou a perfeição. Não foi à toa que até a chuva pagou tributo e ficou calada durante todo o restante da noite.
Se o AC/DC saúda todos que curtem rock n' roll, o Brasil teve o privilégio de saudar, mais uma vez, uma das melhores e mais respeitadas bandas de todos os tempos. Tivesse São Paulo recebido mais shows do AC/DC ao longo dos anos, talvez o apelido de "Terra da Garoa" nem existiria.
AC/DC – São Paulo (Morumbi) – 27/11/2009
Rock N' Roll Train
Hell Ain't A Bad Place To Be
Back In Black
Big Jack
Dirty Deeds Done Dirt Cheap
Shot Down In Flames
Thunderstruck
Black Ice
The Jack
Hells Bells
Shoot To Thrill
War Machine
Dog Eat Dog
You Shook Me All Night Long
T.N.T.
Whole Lotta Rosie
Let There Be Rock
(Bis)
Highway To Hell
For Those About To Rock (We Salute You)
AC/DC - Informações sobre a tour no Brasil em 2009
Outras resenhas de AC/DC (Morumbi, São Paulo, 27/11/2009)
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



O fenômeno do rock nacional dos anos 1970 que cometeu erros nos anos 1980
9 bandas de rock e heavy metal que tiraram suas músicas do Spotify em 2025
David Ellefson explica porque perdeu o interesse em Kiss e AC/DC; "Foda-se, estou fora"
A dificuldade de Canisso no estúdio que acabou virando música dos Raimundos
A farsa da falta de público: por que a indústria musical insiste em abandonar o Nordeste
A lenda do rock nacional que não gosta de Iron Maiden; "fazem música para criança!"
Iron Maiden bate Linkin Park entre turnês de rock mais lucrativas de 2025; veja o top 10
Os 15 melhores álbuns de metal de 2025 segundo a Rolling Stone
Gene Simmons relembra velório de Ace Frehley e diz que não conseguiu encarar o caixão
A banda de rock nacional que nunca foi gigante: "Se foi grande, cadê meu Honda Civic?"
Justin Hawkins (The Darkness) considera história do Iron Maiden mais relevante que a do Oasis
Queen oferece presente de Natal aos fãs com a faixa inédita "Polar Bear"
A cena que Ney Matogrosso viu no quartel que o fez ver que entre homens pode existir amor
Max Cavalera aponta o que ele e Tom Araya tem o que IA alguma jamais terá
Show do Slipknot no Resurrection Fest 2025 é disponibilizado online

A canção de natal do AC/DC que foi inspirada em Donald Trump
Os 5 artistas e bandas de rock mais pesquisados no Google Brasil em 2025
A banda clássica de rock em que Ozzy Osbourne era viciado: "Eles são como carne e batata"
5 rockstars dos anos 70 que nunca beberam nem usaram drogas, segundo a Loudwire
O álbum do AC/DC que era o preferido de Malcolm Young, e também de Phil Rudd
Site americano aponta 3 bandas gigantes dos anos 1970 que quase fracassaram antes da fama
O Melhor Álbum de Hard Rock de Cada Ano da Década de 1980
A melhor música do clássico álbum "Powerage" do AC/DC, segundo Angus Young
Debate: "Highway to Hell" ou "Back in Black" - qual é o melhor álbum do AC/DC?
Bayley, Wilson e Cherone: grandes erros na história de grandes bandas
A opinião de Renato Russo sobre "O Senhor dos Anéis" e "O Hobbit" de Tolkien
Total Guitar: os 20 melhores riffs de guitarra da história
Os 20 maiores cantores de todos os tempos, na opinião de Ozzy Osbourne
Slash: Como ele largou os vícios em drogas, álcool e cigarro?
Guns N' Roses: As melhores músicas segundo a Ultimate Classic Rock


