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Kurt Cobain: próximo de um estudo em definitivo sobre o músico

Por Guilherme Fernandes
Postado em 21 de junho de 2015

Existe uma infame piada no mundo corporativo que diz que o menino só descobre que é homem a partir do momento em que, ao abrir seu guarda-roupa, suas camisas do Nirvana foram trocadas por ternos e gravatas. Tal piada resume muito bem o que foi a banda de Kurt Cobain, sem sombra de dúvidas, a mais famosa do início dos anos 90. Cobain revolucionou a linguagem musical de sua época com melodias simples em detrimento às elaboradas composições musicais da década anterior, discurso desconexo ao invés do corriqueiro "sexo, drogas e rock and roll" que predominava nos anos 80, e, claro, ao expor todas as suas angústias adolescentes por meio de canções repletas de raiva, descrença e ideais juvenis.

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Muitos livros e documentários de menor e maior espectro tentaram investigar as razões pelas quais um rapaz loiro, nascido na cidade de Aberdeen em 20 de fevereiro de 1967, revolucionou a linguagem musical de uma geração, e, tempos após experimentar o sucesso em escala mundial, suicidou-se em Seattle, num fatídico 5 de abril de 1994. Teorias e mais teorias, das mais coerentes às mais esdrúxulas, permeiam a cabeça de seus admiradores, porém nenhuma delas chegou a uma conclusão aceitável que passasse longe do fanatismo exacerbado que a banda angariou durante sua pequenina – e, por vezes, superestimada – existência.

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Coube a Brett Morgen, respeitado documentarista musical, desvelar o imaculado mito da vida e morte de Kurt Cobain. Com acesso irrestrito a mais de 200 horas de canções inéditas, áudios e filmes caseiros, caixas cheias de obras de arte e mais de 4.000 páginas de anotações e desenhos para analisar, o diretor levou oito anos para finalizar Kurt Cobain: Montage of Heck, obra produzida pela própria filha de Kurt, Frances Bean Cobain, que deseja ser um registro definitivo, entre investigações e teorias malucas, sobre a história do fundador do Nirvana. E como colocar uma pedra no assunto Kurt Cobain em pouco mais de duas horas de documentário? Morgen opta por mostrar uma das facetas geralmente esquecidas pelo séquito de fans do Nirvana: um Kurt Cobain humano, falível e ciente de tudo que estava acontecendo.

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Esteticamente municiado por perfeitas animações, o diretor dá voz ao próprio Cobain, expondo fragmentos textuais e áudios de seus diários, mostrando o que a maioria dos fans do Nirvana tende a não enxergar: Kurt Cobain sangrava. Cobain tinha anseios adolescentes, dúvidas e angústias tão normais, nada complexas, somadas a capacidade inalterada que todo jovem tem de fazer besteiras insólitas – como, mostrado no filme, como Cobain perdeu sua virgindade com uma menina que apresentava uma leve disfunção mental. Kurt Cobain: Montage of Heck mostra um jovem que era capaz de fazer tudo pelo sucesso, e, quando ele veio, aproveitou o suficiente antes de sucumbir às drogas e a possibilidade do ostracismo musical. Contando com entrevistas de quase todas as pessoas que passaram pela vida de Cobain, o diretor consegue devolver a Kurt a aura humana que havia perdido por causa das constantes investigações e teorias esboçadas por seus admiradores e detratores.

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Quando digo quase é porque Dave Grohl aparece apenas nas filmagens da época em que estava no Nirvana. Segundo Brett Morgen, a oportunidade de entrevistar Grohl apareceu só quando o filme já estava pronto. Algo bem estranho de se acreditar em um documentário que demorou oito anos para ser finalizado, com acesso irrestrito a arquivos comprometedores à imagem de Courtney Love, viúva de Cobain, desafeto público de Grohl. Morgen afirma que existe uma entrevista feita com o líder do Foo Fighters, que possivelmente entrará no corte para o DVD do documentário, entretanto, a falta desse registro é um ponto a menos no quesito de "obra definitiva", tão divulgado pelos envolvidos.

No que tange a participação de Courtney Love, também vocalista da banda Hole, na película, o termo "bizarro" é pouco para expressar. Protagonista de algumas das cenas mais constrangedoras do documentário – onde, junto com Cobain, nitidamente drogados, tentam aparar algumas madeixas de cabelo de uma Frances Cobain com poucos meses de vida –, Love dá as mãos à madrasta de Kurt, Jenny Cobain, no topo dos momentos mais constrangedores da história de vida de Kurt, relatada de forma crua pelo documentarista. Suas afirmações sobre o uso de drogas enquanto estava grávida – em contraponto com as reportagens da época, onde negava veementemente o fato – choca até o mais petrificado espectador, pela naturalidade que Love fala sobre assuntos fortes, como, por exemplo, quando tentou trair seu marido, sendo surpreendida pela notícia que Cobain, em Roma, havia ingerido 60 pílulas de um potente medicamento, já flertando com o suicídio.

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Assim que a cartela sobre a morte de Cobain aparece em tela, por mais que saibamos que em algum momento essa informação iria aparecer, Brett Morgen consegue surpreender o espectador, completamente envolvido na história de um ser humano imperfeito que, munido de uma guitarra e algumas inquietações corriqueiras de sua idade, sucumbiu às críticas negativas e não conseguiu se manter psicologicamente forte em meio ao estratosférico sucesso que sua banda conseguiu. É difícil não esboçar nenhum sentimento ao ver Kurt Cobain nascer, crescer, fazer sucesso, definhar a olhos vistos e morrer. Por mais que não consiga ser um estudo em definitivo sobre o músico, Kurt Cobain: Montage of Heck mostra, de forma inteligente, um ser humano que foi alçado ao status de deus, porém, não soube a forma correta de renegar tal status.

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Filme: Kurt Cobain: Montage of Heck
Diretor: Brett Morgen
2015, 145', EUA, Documentário, Cinebiografia, Musical
Roteiro: Brett Morgen
Elenco: Kurt Cobain, Don Cobain, Jenny Cobain, Kim Cobain, Courtney Love, Krist Novoselic, Wendy O'Connor

* Nos cinemas a partir de 18/06

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