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Resenha - Nothin' To Lose - A Formação do Kiss (1972-1975)

Por Felipe Cipriani Ávila
Postado em 25 de julho de 2014

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

O Kiss é uma banda única e até hoje não muito compreendida por parte do público e crítica especializada. É conhecida, além da caracterização dos personagens através de maquiagens inspiradas no Kabuki (forma tradicional de teatro japonês, que se caracteriza pela utilização de maquiagens elaboradas por parte dos atores), dos malabarismos e vários efeitos de pirotecnia no palco, dentre outras coisas, pelo seu séquito fiel de fãs, que vangloria a banda a todo o custo e a acompanha desde sempre, nos bons e maus momentos. Para muitos dos seus críticos mais ácidos e céticos não passa de uma empresa, que visa apenas o lucro, nada além disso. E os críticos e detratores não surgiram há pouco tempo, já que estiveram presentes desde o início da carreira do grupo, tanto através de revistas especializadas, como "Rolling Stone" e "Crawdaddy!", assim como nos meios dos músicos e artistas de um modo geral, com uma parcela que julgava o aspecto visual e teatral do quarteto exagerado e privilegiado demais, relacionando-o a uma suposta limitação técnica dos instrumentistas. O livro "Nothin’ To Lose – A Formação do Kiss (1972-1975)" (cujo título original é: "Nothin’ To Lose – The Making Of Kiss (1972-1975)"), lançado oficialmente em setembro de 2013, de autoria do jornalista musical Ken Sharp, juntamente com dois membros fundadores do Kiss, Paul Stanley e Gene Simmons, é uma coletânea de mais de 200 entrevistas, que narra de maneira detalhada toda a trajetória da banda desde o seu surgimento em 1972 (quando ainda se chamava Wicked Lester) até 1975, ano que marcou o lançamento do clássico álbum ao vivo "Alive!", que colocou a banda numa posição magnânima de popularidade.

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Quando uma banda faz muito sucesso, a ponto de ser considerada gigantesca em termo de popularidade, muitos são os que procuram desmerecer a qualidade do trabalho realizado, como se todo o sucesso houvesse surgido do dia para a noite, sem muito trabalho, esforço, foco e determinação. É justamente nesse ponto que o livro "Nothin’ To Lose – A Formação do Kiss (1972-1975)", disponibilizado para o Brasil através do selo Benvirá, da Editora Saraiva, chama a atenção não apenas do fã mais ávido e entusiasmado do conjunto, mas de qualquer pessoa interessada na cultura pop como um todo. O Kiss foi um fenômeno, já que elevou o padrão de entretenimento puro e simples a um nível até então estratosférico e inédito, angariando uma quantidade crescente de fãs e seguidores por onde passava. Contudo, nada ocorreu por mero acaso e coincidência, já que foi necessária muita perseverança e fé por parte não apenas dos músicos, mas de todos os envolvidos.

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A banda que teve como embrião o Wicked Lester, formada por Gene Simmons e Paul Stanley, que, apesar de todas as disparidades de personalidades, compartilhavam o mesmo ideal e sonho de serem reconhecidos pela própria música, trocou de nome posteriormente para Kiss e passou a ser um quarteto, solidificando uma sonoridade totalmente voltada a um rock’n’roll direto, bruto, simples e com fortes refrães. Muitos criticam o contrabaixista e vocalista Gene Simmons, citando-o frequentemente como um narcisista megalomaníaco, mas certamente a sua confiança e fé no próprio talento e capacidade, assim como no do restante do grupo, o manteve focado e determinado em relação a concretizar o sonho de se tornar estrela no show business. O Kiss não foi, entretanto, um sonho de apenas um, dois, três ou quatro músicos, mas de outros indivíduos que acreditaram no poder e singularidade do conjunto, mesmo em uma época que a proposta de entretenimento deste não era compreendida por grande parte dos outros músicos e da indústria musical como um todo, que a julgava deveras exagerada e presunçosa. Seria injusto, então, contar a história do quarteto sem citar nomes como Bill Aucoin (RIP – 2010), que foi empresário do conjunto entre 1973 e 1982, Neil Bogart (RIP – 1982), proprietário da Casablanca Records, primeira gravadora a assinar um contrato com o Kiss, Sean Delaney (RIP – 2003), primeiro coreógrafo e produtor de turnês, e Joyce Bogart-Trabulus, co-empresária entre 1973 e 1975, entre vários outros. Um dos grandes méritos do livro é justamente contar com ideias e relatos de diversas pessoas envolvidas na história do grupo, funcionando como uma espécie de "mesa redonda", tornando, assim, a leitura leve e envolvente, apesar do razoável número de páginas. E as pessoas envolvidas nesses relatos vão desde a equipe técnica da banda, como os roadies, por exemplo, até diversos outros músicos que dividiram o palco com a mesma, além de críticos musicais e artistas de um modo geral. As opiniões são variáveis e distintas, o que torna tudo mais instigante, certamente. Através dos relatos, nos sentimos como se estivéssemos "passeando" pela história do Kiss, desde os dias que tocavam em clubes como o Coventry e Daisy, até o período que foram "descobertos" por Bill Aucoin, após um show que fizeram no dia 10 de agosto de 1973, no hotel Diplomat. Depois de tanta insistência por parte da banda para que o até então diretor de televisão fosse vê-la, este resolveu ceder e prontamente visualizou a mágica que a mesma já possuía, apesar de à época ainda estar rudimentar em vários aspectos, se formos compará-la com o desenvolvimento e criação de identidade posterior. O livro, então, narra toda a história inicial, com todas as turbulências, obstáculos, dívidas e contratempos que tiveram que enfrentar no seu decorrer, e como a mente e determinação incansáveis não apenas dos membros, mas de pessoas como Neil Bogart e Bill Aucoin, fizeram a banda se tornar essa instituição poderosa e bem conhecida nos dias atuais. O grupo estava disposto a crescer e angariar cada vez mais seguidores, de modo que tocava em todas as cidades possíveis dos Estados Unidos e nos locais mais estranhos e atípicos para um grupo de rock, fosse uma biblioteca local ou lanchonete de uma universidade. Para arcar com todos os gastos referentes aos efeitos de palco e pirotecnia que foram se desenvolvendo e se tornando com o tempo um dos grandes diferenciais do espetáculo do Kiss, os já mencionados Bill Aucoin e Neil Bogart se dispuseram a contrair dívidas, tudo com a certeza do retorno financeiro posterior, por terem convicção do êxito e reconhecimento que a banda ainda alcançaria. E assim o foi após o lançamento do multi-platinado "Alive!". O livro deixa mais do que claro que todos deram o sangue e alma para concretizar o sonho de tornar o Kiss respeitado e reconhecido mundialmente, já que confiavam no talento do grupo e, em momento algum, desistiram por um ou outro contratempo.

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"Nothin’ To Lose – A Formação do Kiss (1972-1975)" é, então, leitura obrigatória não apenas aos aficionados pelo quarteto de Nova Iorque, mas para os apreciadores da cultura popular musical. Independente de ser fã ou não da música executada por eles, é fato que mudaram e muito o contexto musical da época e continuam sendo relevantes até os dias atuais, mesmo depois de todas as mudanças de formação e direcionamentos da indústria musical.

Ficha técnica:
Título: Nothin’ To Lose – A Formação do Kiss (1972-1975)
Autores: Ken Sharp com Paul Stanley e Gene Simmons
Benvirá, um selo da Editora Saraiva
1ª Edição, 2013
560 páginas

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Sobre Felipe Cipriani Ávila

Headbanger convicto e fanático, jornalista (graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas), colecionador compulsivo de discos, não vive, de modo algum, sem música. Procura, sempre, se aprofundar no melhor gênero de música do mundo, o Heavy Metal, assim como no Rock'n'Roll, de um modo geral, passando pelo clássico, pelo progressivo, pelo Hard setentista e oitentista, e não se esquecendo do Blues. Play It Loud!
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