Pink Floyd: Indispensável, mas poderia estar no "Division Bell"
Resenha - Endless River - Pink Floyd
Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
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A semelhança com "More" vem de algumas peças curtas, nada mais que vinhetas grandes, canções que poderiam estar em um filme (o próprio "More" é a trilha sonora de um). Mas é com "The Division Bell" que "The Endless River" mais guarda semelhanças. Conhecidos acordes de canções de "Bell" aparecem novamente aqui, seja como alternativas não desenvolvidas, seja como arestas aparadas.
O disco é dividido em quatro lados. "Things Left Unsaid" tem a difícil missão de ser o agrupamento um neste novo disco. Assim como "Cluster One" é uma instrumental que preza mais pela delicadeza que por dizer as tais coisas não ditas. E o PINK FLOYD não manda recado, faz o que bem sabe fazer na belíssima "It's What We Do", que lembra tanto a suíte "Shine On You Crazy Diamond" (outra homenagem a um ex-membro) que poderia ser uma de suas partes. "Ebb and Flow" peca por ser curta demais. Quando começa a ficar boa, acaba. Uma pena. Há alguma coisa de "Take It Back" (T.D.B.) aqui, o que nos faz pensar que ela poderia ser parte da canção mais pop do PINK FLOYD (o que, obviamente, lhe tiraria este título).
O segundo "lado" é talvez o que trás as músicas mais empolgantes do disco. É o PINK FLOYD como todos nós conhecemos. Em "Sum", Nick Mason deixa de ser somente um velhinho figurante e mostra que ainda pode ser aquele mesmo barbudão do "Live At Pompeii". E continua dando as ordens na não menos que excelente "Skins", que lembra "Up The Khyber", do já citado "More". A curtíssima (curtíssima mesmo) "Unsung" mantém o clima e nos entrega completamente rendidos para a bela "Anisina". Esta fecha bem o "lado 2", mas também poderia ser um epílogo de "Coming Back To Life" ou "Wearing The Inside Out" (principalmente por causa da participação de Gilad Atzmon). Seria algo do tipo, "estou voltando à vida e olha o que mais eu tenho pra te contar" ou "estou usando o lado do avesso, mas não é bem assim".
Agora, vamos falar de não falar. "The Lost Art Of Conversation" é fria. Se esquecermos que é o próprio homenageado que nos entrega uma doce melodia no teclado, o que fica? Pouco em termos musicais, muito para alimentar os detratores e quem quer que venha (injustamente) chamar este disco de "música de elevador". Um leve respiro com "On Noodle Street", com boa intervenção de Guy Pratt, é o que temos antes de chegar a "Night Light" outra vinheta dispensável cujo maior mérito é nos entregar às maravilhosas "Allons-Y" (Vamos lá, em francês). separadas pela intrigante "Autumn '68" (seria ela um contraponto a "Summer '68", do "Atom Heart Mother")? As três juntas não chegam a cinco minutos. Poderiam durar três vezes mais.
O "lado" termina com "Talkin' Hawkin" que, mesmo com as exibições do talento único de Gilmour e da boa introdução, é uma bobagem. É certo que o físico Stephen Hawking e o PINK FLOYD são alguns dos nomes que serão lembrados do século XX pelos estudantes dos séculos que não viveremos, mas, esta música não é nada mais que o excesso limado em "Keep Talking". A música é boa, mas, sejamos sinceros: uma extended version da canção do "The Division Bell" soaria bem mais honesta.
Chegamos ao último lado de uma forma bem agridoce. Quase chegamos lá várias vezes, mas, várias vezes fomos alvo de baldes de água fria. Tudo isso por causa do aspecto que o disco tem de uma longa colcha de retalhos. As músicas mais energéticas acabam antes que possamos colocar o carro pra andar. As mais contemplativas são curtas demais. Não dá pra viajar como numa música do PINK FLOYD. E enxergar cada "lado" como uma música é complicado, uma vez que não há muita unidade entre cada parte. Mesmo quando falamos de rock progressivo, um tema que vá e volte unindo partes de uma canção é algo de que não podemos prescindir. A vinheta "Eyes To Pearls" é mais um momento bom, mas que pouco se desenvolve. "Surfacing", um pouco mais longa, tem mais chance de se tornar memorável. Lembra "Marooned", principalmente pelo que David Gilmour com as seis cordas. Não seria melhor uma música só de sete minutos e meio que uma canção dividida em duas partes, separadas por vinte anos, uma de cinco minutos que tira lágrimas dos olhos e outra de dois minutos cujo título dificilmente será lembrado ano que vem? "Louder Then Words" parece querer explicar restante do conteúdo do disco, mas, lhe faltam palavras. Algumas de suas antecessoras até falam mais. Crucifiquem-me pelo que direi: que falta que um Roger Waters faz.
A versão deluxe vem ainda com as "TBS9" e "TBS14" (o que significaria isso? To Be O que? E o que seriam e onde estariam as TBS1, TBS2 etc). E se você, claro, já vai meter a mão no bolso, "Nervana", bem atípica para uma canção do PINK FLOYD, vale um esforço maior e optar por esta versão do álbum.
Com tudo o que dizemos, o álbum chega, no máximo, a uma nota 8. Isto é uma nota boa para muitas bandas, mas, para o PINK FLOYD, que tem mais de um disco com nota 15 numa escala de 0 a 10, é quase o fundo do poço. O álbum é indispensável para todo e qualquer ser-humano que goste de PINK FLOYD, mas, poderia muito bem ser uma versão "Immersion" ou "Experience" de "The Division Bell".
Sobre a capa? Falamos bastante na matéria abaixo. Confira:
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Embora já tenha sido divulgado como o último disco do PINK FLOYD, ainda podemos manter a esperança de que haja pelo menos mais um conjunto de obras guardado em algum baú. Explico: "The Endless River" é o penúltimo verso de "High Hopes", ultima faixa de "The Division Bell". Isso é o suficiente para alimentar esperanças de que um "Forever and Ever" possa aparecer para arrematar a carreira desta banda que faz parte de nossas vidas. Se isso vai mesmo acontecer, só podemos esperar. Eu não quero encarar um mundo sem "altas esperanças" de pelo menos mais um disco do PINK FLOYD. E você?

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