Deep Purple: Uma verdadeira aula de hard rock setentista
Resenha - Machine Head - Deep Purple
Por Paulo Severo da Costa
Enviar Correções
10
"Machine Head" foi gravado em dezembro de 1971 em Montreux na Suíça no interior do Grand Hotel, um hotel de luxo abandonado. O hotel foi a terceira opção da banda; convidados pelo produtor CLAUDE NOBS para a realização da gravação no Cassino de Montreux, o local foi alvo de um incêndio acidental durante um show de FRANK ZAPPA (fato que originou a letra de "Smoke on the water" ).
O álbum é uma verdadeira aula de hard rock setentista, contando com todos os elementos que caracterizariam o estilo a partir daí. "Highway Star", a faixa que abre o disco surge de um fato prosaico: perguntado por um jornalista a respeito do processo de composição, RITCHIE BLACKMORE respondeu: " Assim"- com um banjo nas mãos passou a palhetar para baixo uma única nota no instrumento. Surge assim o riff incial da canção que foi completa pela banda naquela mesma noite.
O solo de guitarra da música é outro caso a parte. O próprio BLACKMORE em entrevista admite que, até então, a maioria de seus solos era improvisado por sobre a penta blues. Nesse canção, entretanto, o guitarrista se vale da alternância entre motivos blues e nos últimos compassos do trecho traz a famosa sequência de arpejos em uma corda, influenciando, a partir dali, a base do chamado metal neoclássico dos anos 80.
"Maybe I´m a Leo" surge a partir de um riff criado por ROGER GLOVER (durante as gravações o título provisório da faixa era "Blues riff") e traz uma idéia simples mas eficiente: a substituição da seqüência (até então) lógica de riff, partindo da tônica (no caso, C). Ainda, segundo o própria baixista, inspirado em" How do you sleep" (faixa de JOHN LENNON) o riff inicia-se no tempo fraco do compasso o que confere uma característica melódica diferenciada para essa excelente canção.
A faixa seguinte " Pictures of Home" põe em destaque a inacreditável bateria de IAN PAICE trabalhando em contrapontos inacreditáveis. Destaque também para o solo de JON LORD explorando cromatismos além de suas habituais passagens pelo modo frígio. "Never before" e a faixa mais comercial do disco (foi produzida para ser o single do PURPLE na época, mas não colou). Essa faixa apresenta uma incrível mudança tonal e de andamento no meio da canção, com os vocais de GILIAN gravados em double-tracking (técnica de sobreposição de vozes). Show!
Em seqüência vem "Smoke on the water". Não vou aqui repetir pela enésima vez a história sobre sua composição! O fato é que a música e, principalmente seu riff, estão entre os mais conhecidos da estrada do rock. Um fato interessante, contado no vídeo "Machine Head - Classic Albuns" é o detalhe semi-oculto no áudio em que GILLAN diz "Break a leg, Frank".
Por falar em riff, a faixa seguinte traz um dos mais brilhantes já criado pelo Purple: "Lazy". Em pouco mais de sete minutos a banda dispara um clássico no formato blues menor, conduzida pelo petardo pentatônico (alegria de todo guitarrista novato quando desvenda) acrescentado das dissonâncias espertamente espalhadas pela harmonia.
Fechando o disco a paródia do caminhoneiro espacial, cuja criação também merece destaque. Para aqueles que já ouviram "Space Trucking" 132.000 vezes como eu (se ainda não o fez, faça) a introdução (ao contrário do que muita gente pensa) saturada não é feita pela guitarra e sim com o órgão Hammond de LORD plugado em um amplificador Marshall ("a besta" nas palavras do próprio músico). Logo depois o sensacional riff cromático de BLACKMORE (que segundo o próprio foi inspirado na música tema da série Batman).
Track list:
1. "Highway Star"
2. "Maybe I'm a Leo"
3. "Pictures of Home"
4. "Never Before"
5. "Smoke on the Water"
6. "Lazy"
7. "Space Truckin'"
Outras resenhas de Machine Head - Deep Purple
Deep Purple: Obra prima escultural da genialidade do homem