Pinhal Rock Music: como foi a primeira edição do festival
Resenha - 1º Pinhal Rock Music (Clube Recreativo, Esp. Sto do Pinhal, 11/08/2012)
Por José Antonio Alves
Postado em 19 de agosto de 2012
A cidade interiorana de Espírito Santo do Pinhal, no estado de São Paulo, recebeu no último dia 11 de Agosto a primeira edição do Pinhal Rock Music Festival, primeiro festival do estilo em muitos anos na região e que teve apoio da Secretaria da Cultura local. Com um cast recheado de grandes bandas da cena atual do metal brasileiro, a Praça da Indepedência, no centro da cidade, localização do Clube Recreativo, ficou repleta do preto dos headbangers da cidade e também de vizinhos de Itapira, Mogi-Guaçu, Jaguariúna, entre diversas outras.
Ao chegar no Clube Recreativo, por volta das 13hs (o festival estava marcado para ter início às 14 horas) havia apenas a movimentação de alguns integrantes da Banda Filarmônica da cidade, que se apresentaria no evento, e também já se via a banda santista Shadowside no local. A estrutura do local escolhido para o evento não é ruim, confesso que achava que o festival seria ao céu aberto, mas o que se viu foi um local que se não encheria por completo, pelo menos ficaria bem ocupado e que atenderia os anseios básicos do público.
Já passavam das 15h30 quando a Banda Filarmônica Cardeal Leme começou a executar versões para grandes canções do rock como "The Final Countdown", do EUROPE, "Jump", do VAN HALEN e "Sweet Child o'Mine", do GUNS 'N' ROSES. Uma experiência diferente para um evento de Rock, e um grande trabalho instrumental em todas as músicas. Por volta das 18 horas a banda HALLOWED, tributo ao IRON MAIDEN, subiu ao palco. Este atraso é assunto para o final da resenha. Executando clássicos já "clichês" da discografia do Iron, como "Be Quick Or Be Dead", "Revelations", "The Trooper", e "Run To The Hills", a banda contou com o agito e vibração do público. Os músicos aparentam ser bem jovens, e sofreram com algumas falhas instrumentais que atrapalharam a banda, nada que não possa ser melhorado com tempo e experiência.
Em pouco tempo, a banda WOLFPACK, oriunda da própria cidade do evento, começou seu set baseado em clássicos, com covers de DEEP PURPLE ("Highway Star"), SCORPIONS ("Rock You Like a Hurricane"), LED ZEPPELIN ("Black Dog") e BLACK SABBATH ("Children Of The Grave"), esta última empolgando muito os presentes. Destaque para o vocalista da banda que consegue encaixar ótimas linhas vocais, com tons que não soam forçados em quaisquer uma das canções apresentadas.
Direto de Mogi Mirim, a banda BARBARIA também agitou os presentes com seu visual "pirata" que lembra a banda escocesa ALESTORM e que vai do metal tradicional para algo que chega a ser dançante nas canções. Destaque para a ótima "Under The Black Flag" e para o cover bem feito de "Under Jolly Roger", do RUNNING WILD. A banda é uma das atrações que se apresentarão no festival de Pagan/Folk/Viking Metal Thorhammerfest, no fim do ano em São Paulo.
Direto de Itapira, era a hora do Thrash Metal furioso da banda SLASHER. Com um vigor inpressionante, a banda com certeza cravou uma das grandes apresentações da noite, e contava com a estréia do vocalista Skeeter, que não deixou a desejar com uma presença de palco notável. Impossível não ir para a roda com faixas como "Hate", "Time To Rise" ou "Enemy Of Reality". A destruição total estava por vir com o Death Metal muito bem executado da banda DESECRATED SPHERE. O caos se instalou logo de cara com a matadora "Inquisitio Haereticae Pravitatis Sanctum Officium" e continuou com "Gospel Is Dead" e "Hell Is Here", entre outras faixas. O destaque vai sem dúvidas para o vocalista Renato Sgarbi, que é um monstro no palco, vocais brutais e presença marcante, além do baixista José Mantovani, que realiza uma performance no baixo com muito técnica.
Estreando uma nova integrante na banda, a vocalista Thalita, a banda campineira HELLISH WAR trazia seu Heavy Metal tradicional para o festival, após contornar problemas técnicos que acabaram por adiar o início do show por mais de 40 minutos. Não era missão fácil, pois tratava-se de substituir o excelente vocalista Roger Hammer, voz nos petardos "Defender Of Metal", de 2001 e "Heroes Of Tommorow", de 2008. Thalita demonstrou boa presença de palco, lembrando movimentos no palco a la Doro Pesch, apesar de considerar a voz baixa em certos momentos, não sendo possível mensurar o potencial vocal no show. "We Are Living For Metal", "Defenders Of Metal" e "Hellish War" são verdadeiros hinos, e a partir de agora basta aguardarmos para observarmos o direcionamento que a banda tomará.
Promovendo seu mais recente trabalho, o ótimo "Inner Monster Out", de 2011, os santistas do SHADOWSIDE subiram ao palco para demonstrar o motivo de figurar entre as bandas mais notórias do cenário atual brasileiro. Abrindo com "I'm Your Mind", do mais recente trabalho, passando por "Highlight" do debut "Theatre Of Shadows", e também executando a já obrigatória "Hideaway", o foco do set seria nas composições mais recentes, incluindo-se ainda as faixas "My Disrupted Reality" e as pesadíssimas "Gag Order" e "Waste Of Life", que só mostraram o quão entrosado o quarteto santista está no palco. A banda acabou encerrando antes do previsto devido aos já comentados problemas que mais adiante serão citados.
A clássica banda paulistana SALÁRIO MÍNIMO traria um pouco dos anos 80 ao Pinhal Rock Music Festival tocando clássicos como "Beijo Fatal" e "Delírio Estelar", entre outros que agitaram nova e velha guarda na madrugada de Espírito Santo do Pinhal. Não era o fim, ainda faltariam atrações para encerrar a noite, e a próxima foi a banda LOTHLÖRYEN. Já tive a oportunidade de presenciá-los ao vivo em outras oportunidades, e a cada show conseguem trazer algo diferente para o público. A banda promove o ótimo "Raving Souls Society", lançado este ano, registro este que considero ser o álbum mais maduro da banda, destacando-se a ótima "Face Your Insanity".
Ainda no show da banda Lothlöryen, foi anunciado o cancelamento do show da banda "Love Gun", que fecharia a noite com os melhores sons do KISS, por motivo de falta de tempo, em conseqüência dos atrasos que ocorreram. Ficou a cargo da banda paulistana TORTURE SQUAD fechar o evento, quando já se passava das 4 da manhã. O impressionante era ver a disposição do público neste horário nas rodas, agitando e curtindo o show. Por mais que se comente que sem o vocalista Vitor Rodrigues a banda perdeu presença de palco, o fato é de que a afirmação vai se tornando errônea a cada apresentação.
O trio está em grande forma, Amilcar Christofaro continua comandando a cozinha da banda com maestria, e a pegada continua intensa e mais "Torture" do que nunca. Orgulho, paixão e verdade fizeram parte do emocionante discurso do baterista já no final do show que ganhou aplausos de todos. A banda também precisou reduzir seu set e encerrar o show e o evento com "Horror And Torture", que contou com a participação especial do vocalista da banda Desecrated Sphere, Renato Sgarbi.
O evento ficou marcado pelos atrasos e por algumas situações. Muito se falou, de várias as partes, mas aqui fica a impressão que tive dos fatos. As bandas que são contratadas para participar de um festival assinam contratos, e claro, fazem suas exigências básicas para o bom andamento do evento. Em Pinhal não foi diferente, e com tudo teoricamente "nos conformes", as bandas vieram para o festival.
Ao chegar no local do evento, percebi a movimentação da equipe da banda Shadowside que já se encontrava no local desde as 11 da manhã, para que fizesse sua passagem de som sem qualquer problema, conforme acordado com a produção. O que ocorreu foi um atraso por parte da empresa que era responsável pelo som, que por sinal era de responsabilidade do Departamento de Cultura do município.
A não-entrega deste equipamento influenciou uma gama de acontecimentos negativos no festival. (Contingência é uma palavra que julgo ser essencial em qualquer segmento da vida, e talvez por inexperiência da produção, coisas assim poderiam ter sido evitadas se uma alternativa estivesse em "standby", caso houvesse algum problema como houve). Uma banda ter direito a uma passagem de som decente é um dos princípios básicos para se ter um bom show, e o Shadowside usou com razão deste direito. Até a apresentação deles, as bandas montavam suas baterias em frente ao local em que estava a bateria dos santistas.
O que é extremamente desagradável é o jogo de indiretas que foi criado. Em um cenário onde músicos pregam a "união do metal nacional", este fato parece que para alguns é utópico. Bandas conseguem subir e alcançar uma posição melhor por méritos, insinuar para estas bandas coisas do tipo "banda de filho de papai" soa como argumento pobre e que parte de uma situação onde não se conhecem os dois lados da história. Aliás, esta é uma constante, muitos acabam falando sem apurar os fatos, o que é extremamente imaturo e injusto. Requerer o básico para um show não é questão de estrelismo, é questão de querer fazer o melhor para um público que merece ter o melhor desempenho possível do equipamento usado pelos músicos. Se ficarmos nesse "chove não molha" de achar que toda banda NACIONAL que requer isso é estrela, então não vamos para frente nunca mesmo.
Boa parte das bandas tiveram que cortar seus sets devido aos atrasos, mas o desagradável mesmo foram situações que beiram o amadorismo completo...Querer partir para "vias de fato", desligar som de banda que está tocando, e um microfone parar de funcionar justo na hora que um músico iria dirigir uma crítica a organização são coisas no mínimo estranhas, que vocês, leitores, não são tão ingênuos para não saberem o que significa.
E uma salva de palmas, vai, sem dúvidas, para o TORTURE SQUAD. A banda vinha de uma viagem de Quito, no Equador, onde se apresentou em um festival por lá e mesmo tendo seu set cortado em Pinhal, não ficou distribuindo indiretas, executou seu show com o vigor de sempre, dirigindo-se diretamente à organização no final do show sobre coisas básicas que devem existir em qualquer festival.
O fato é que Espírito Santo do Pinhal presenciou um grande evento pelas bandas e público que lá compareceu. Aliás, este está de parabéns, foi legal ver uma molecada bem jovem (jovem mesmo, 16 anos para baixo) curtindo e agitando como se estivessem jogando para fora o grito preso por vários anos da não-existência de eventos de Rock por lá. Cabe a organização rever todos os conceitos acerca de contratos, e condições para as bandas, pois com certeza ela pecou, mas o que se deve tirar disso são as lições de como se proceder para melhorar e perpetuar o evento na cidade, afinal de contas, é louvável a iniciativa de realizar um evento deste porte. E fica a dica: antes de quererem achar um bode expiatório (ou banda expiatório) para as coisas, ver os dois lados da moeda, afinal, nunca se sabe se a sua banda não pode passar por situação semelhante um dia...
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