Rock Está Morto e os Novos Rockstars
Por João O Escritor
Postado em 15 de julho de 2018
'O rock morreu' é um assunto batido, ainda mais considerando que era algo falado ainda na década de 60 por críticos como Richard Meltzer e Nic Cohn, mesma década que Jim Morrison gravou 'Rock is Dead', embora só tenha sido lançada depois de sua morte na década de 90. Os Ramones já haviam tentado ressuscitar o rock como eles achavam que deveria ser, sem as complexidades do progressivo nos anos 70...
Não deixem essa introdução histórica entedia-los, vou chegar ao ponto. A expressão 'o rock morreu' já representou sua aproximação com o pop; seu controle por parte das industrias; suas experimentações e agregações de outros estilos musicais em sua forma; o fim de seu espírito rebelde; a saída do rock do Olimpo das músicas das massas; mas sempre representou uma negação das novas faces do rock.
Os fãs do rock & roll dos anos 50 (Little Richard, Chuck Berry, etc) negaram o novo rock psicodélico dos anos 60, para eles sem a postura rebelde dos seus percussores e com a cultura de drogas e novas estéticas o rock morreu. Dessa negação do rock progressivo e psicodélico nasceu o punk rock, que por sua vez foi negado pelos fãs do já estabelecido rock psicodélico e progressivo principalmente por sua falta de complexidade, seus músicos não serem tão virtuosos e nem suas gravações terem a qualidade de captação do rock anterior. O rock deixou de ser rock quando se tornou metal; quando aderiu aos sintetizadores; quando se tornou glam rock; quando foi influenciado pela disco; quando misturou-se a eletrônica e virou industrial, ou a eletrônica e ao rap e se tornou nu metal...
Creio que agora já me fiz entender como o rock não tem uma musicalidade única, e como é fácil para as pessoas aceitarem todas as musicalidades antigas e negarem as novas, principalmente se as novas trazem novos elementos. O que é tão 'não rock' por parte de seu público que chega a ser embaraçoso. Rock é não só mudança, mas revolução. É uma negação das tradições; é questionar; é mudar; é another thing coming.
Então se rock é mudança até onde ele pode mudar? Até onde ele ainda é rock? Ele chega a algum momento que está tão longe do seu ritmo original que deixa de ser rock? Pegamos o exemplo da diferença absoluta entre Pink Floyd e Little Richard (o exemplo do original), Pink Floyd com todas as suas expansões e agregações musicais deixou de ser rock? Eu não creio que isso seja verdade, nem que seja algo do senso comum entre os fãs de rock (ao menos não até a saída do Roger Waters). Também podemos comparar o primeiro álbum do Beatles (sendo este o possível som original do rock) com o primeiro do Metallica, seria o Metallica uma banda que não é rock? O metal seria um gênero que não é rock? Não creio que esta seja uma opinião soberana dentro do público: metal é metal, não é rock, mas também não deixa de ser rock.
Então neste conceito do rock que não deixa de ser rock mesmo diluído em uma fórmula com diversos outros gêneros, o que seria o rock atualmente? Ou o que não seria? Qual seria o futuro do rock? Ghost B.C. seria o nome que levaria o gênero novamente as grandes paradas? À juventude? Seria a nova fórmula rock? Ou seu som por ser em grande parte homenagens aos antigas fórmulas consagradas com seu toque especial algo que agrada mais os saudosistas e o público mais velho em geral (eu incluso aqui)? Não podemos prever nada com certeza, mas precisamos ser frios e calculistas aqui, deixar nossas emoções de lado para analisar o cenário atual.
Novos Rockstars
Aqui começa a parte onde muitos começarão a virar a cara ao que tenho a dizer, mas é uma reflexão importante sobre adaptação do gênero e sua nova face. E se, deixando claro que começo com o 'e se' exatamente para não força-los a ler como se fosse a verdade inegável, e sim para faze-los considerar. Novamente, e se o rock continua no mainstream? E se apenas ainda não entendemos sua nova face? Lembrando aqui quando falei que apesar do metal ser metal ele não deixa de ser rock, então vamos analisar outros artistas atuais que não deixam de ser rock apesar de não deixarem de ser outros gêneros também. Começamos com o autor do hit que foi Top 1 da Hot100 da Billboard ano passado intitulado justamente 'Rockstar', sim estou falando de Post Malone. Sim Post Malone é trap, é pop, mas ele não é rock? A faixa citada já presta toda uma homenagem a história do gênero e a figura que mais comumente representa o gênero para as massas o 'rockstar', o que não diz muita coisa. Mas suas melodias vocais, as guitarras e baixos tocados em sua discografia, sendo mais evidente em faixas como 'Stay' e 'Over Now', há tanto rock ali quanto qualquer outro gênero presente na obra, basta estar atento. Não é o rock que estamos acostumados, como foi com todas as gerações antes de nós, mas é rock, não só rock, mas rock.
Afinal não a primeira vez que o rock usa bateria eletrônica, teclados, sintetizadores e efeitos na voz (olá anos 80). Na verdade nada mais 'rock' do que o gênero se reapresentar de uma maneira totalmente nova e diferente do que associamos a ele durante tantos anos. O próprio caminho dele nos últimos anos aproximava ele do eletrônico como o 'The Path Of Totality' do 'Korn'; 'Comedown Machines' do 'Strokes'; 'Mania' do 'Fall Out Boy' ou toda a discografia do 'Twenty One Pilots'. Outros expoentes do possível novo rock são Lil Peep que seria a maior aposta do emo revival, XXXtentacion e seu dois álbuns de folk-rock-emo-rap, embora ambos morreram cedo e podem possivelmente tenham só aberto caminho para um gênero do rock ainda não conhecido. Mesmo eles tocando com instrumentais prontos na maioria dos shows isso não é nada que o Todd Rundgren já não fez nos anos 70. E o Brasil já tem alguns representantes, nenhum consagrado, mas aqui as ondas sempre chegam depois.
O rock morreu? Ele está vivo e estes são os novos rockstars? Não podemos dizer com certeza, mas devemos ficar atentos. Os novos artistas merecem.
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