Afinal o rock morreu?
Por Mark Ark
Postado em 07 de dezembro de 2025
A frase "o rock morreu" viaja de geração para geração. Cada época encontra motivos diferentes para repeti-la, mas nenhuma consegue enterrá-lo de verdade. Para entender essa sensação de declínio contínuo, é preciso olhar não só para a música, mas para as diferentes gerações, contexto histórico e para os meios que moldaram a forma como foi consumida.
O rock nasceu nos anos 50 e filhos do pós-guerra (Baby Boomers) o descobriram na rádio. Foi ali, que guitarras elétricas de pioneiros como Chuck Berry e batidas explosivas no piano de Little Richard e Jerry Lee Lewis começaram a criar uma tensão entre pais e filhos. Quando Elvis Presley apareceu na televisão, especialmente no Ed Sullivan Show, o país inteiro viu, ao vivo, o nascimento de uma nova forma de expressão corporal. Para muitos adultos da época, aquilo não era música, mas para muitos jovens era um estilo de vida.
A década seguinte se caracterizou pela invasão britânica que fez com que adolescentes americanos adotassem novos cortes de cabelo e uma estética totalmente diferente. Os Beatles mudaram tudo: não só o som, mas o modo como o mundo consumia música. O vinil virou objeto de culto. Colecionar discos tornou-se parte da identidade juvenil.
Logo depois, o rock psicodélico, movido por artistas como Jimi Hendrix, influenciado pelo blues, assim como o Cream e The Doors, transformaram a música em rituais sonoros longos, expansivos, imersivos, quase espirituais. A geração que cresceu assistindo guerras pela TV encontrou na música uma forma de expandir percepções quando o real parecia absurdo demais.
Nos anos 70, o rock se multiplicou. O hard rock de grupos como Led Zeppelin e Aerosmith, bem como o Rock Progressivo de bandas como Pink Floyd mostraram que o rock podia ser sofisticado, complexo e grandioso. O vinil, agora em LPs com capas icônicas, transformou o rock em arte visual. Mas enquanto o rock se tornava gigante, outra geração, a X, se sentia desconectada dessa grandiosidade. A resposta veio com o punk. Músicas rápidas, cruas, feitas com raiva e poucos acordes, mostraram que o rock precisava morrer um pouco para renascer autêntico.
Os anos 80 introduziram outro divisor: a televisão como palco. Com a chegada da MTV, a imagem ganhou tanta importância quanto o som: os videoclipes tornaram-se mini-filmes. O rock virou espetáculo. O glam metal lotou estádios. A estética exagerada dos clipes redefiniu a indústria. Ao mesmo tempo, surgiram contraculturas pesadas como o thrash de bandas como Metallica e Slayer mostrando que a Geração X queria intensidade verdadeira, não só brilho.

Mais um choque viria nos anos 90. Os Millennials encontraram no grunge uma linguagem para sua própria angústia. O excesso dos anos 80 parecia vazio para uma geração criada entre divórcios, ansiedade e instituições opressivas. O rock de Seattle, com bandas como Soundgarden, Pearl Jam, Nirvana e Alice in Chains trouxeram a introspeção, a dor, a vulnerabilidade. Ao mesmo tempo, o rock alternativo, o nu-metal e o indie tornaram o gênero mais amplo do que nunca. Bandas como Rage Against the Machine usavam a música como forma de protesto político. Os CDs dominavam as prateleiras e viraram desejo de muitos colecionadores, assim como DVDs com videoclipes, shows e versões acústicas.
O MTV Unplugged provou que o rock não morre, apenas se manifesta de diferentes formas; o formato retirou a distorção das guitarras e colocou bandas como Nirvana, Eric Clapton, Alice in Chains e Kiss sentados diante de um público pequeno, mostrando versões nuas das músicas e o impacto disso mostrou que, mesmo quando dizem que o rock perdeu sua força, ainda encontra maneiras inesperadas de revelar sua essência.
Então chegou a virada dos anos 2000, e com ela, uma grande transformação tecnológica: o MP3 desafiou a industria musical. A pirataria explodiu. Os CDs, antes objetos de desejo, tornaram-se em pouco tempo obsoletos. A geração Millennial, agora adulta, olhou para trás com nostalgia e o rock deixou de ser mainstream.
Mas foi o streaming que selou a sensação de descentralização. A Geração Z cresceu em um mundo onde todos os gêneros coexistem numa mesma plataforma. Sem rádio segmentado, sem TV musical, sem as mídias físicas como o Vinil e o CD, a música deixou de ser bandeira geracional e passou a ser playlist individual. As fronteiras desapareceram, e com elas, a hegemonia que o rock um dia teve.
Por isso tantas pessoas dizem que o rock morreu. Ele não desapareceu. Não perdeu potência. Mas voltou a ser underground. Atualmente vive em nichos, em festivais, em fusões com outros gêneros. Vive também na nostalgia e no renascimento do vinil, que tornou-se símbolo afetivo num mundo saturado pelo digital.
E ainda sempre surgem bandas novas, com guitarras distorcidas, em porões e garagens. O rock nunca morre, apenas deixa de ser o que era para se tornar o que sempre foi: uma metamorfose contínua, sempre morrendo para ressuscitar.
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