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Fúria: questão de vida ou morte no universo do Heavy Metal

Por Adriano Alves Fiore
Postado em 17 de setembro de 2010

Os gregos criam as Eurínies (as) ou as Eumênides, que os romanos transformam nas três Fúrias (Tisífone, Megera e Alecto) e, há milênios, as sobras da humanidade vêm incumbindo-se, diga-se de passagem, com inexorável maestria: de espalhar o ódio, a cólera e o furor (ruim) por todos os cantos do nosso manjado admirável mundo novo

Fúria, o "Aurélião" (dicionário) define-a como: ira, agitação violenta ou entusiasmo; Ambrose Gwinett Bierce (pensador e jornalista americano, 1842 – 1914) como: ódio ou "o sentimento reservado para ocasião de superioridade de alguém", isto é, da vantagem de alguém sobre outros pobres mortais.

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Os antigos gregos – que pensam muito e têm resposta para quase tudo – costumam arremessar o furor (ou a raiva) contra as pessoas sob a forma da própria divindade alegórica Fúria ou através de um convite às Harpias (seres alados monstruosos, sempre famintos, com: corpo de abutre, rosto de senhoras pouco sociáveis, garras medonhas e um péssimo humor) ou às Eurínies. Tem-se um exemplo clássico na loucura que atinge o maior herói semideus de todos os tempos: Hércules (ou Alcides, ou ainda Héracles em grego), quando Juno (Hera) ordena à deidade Fúria e à Demência que o castiguem, insuflando-lhe um desejo incontrolável de matar a flechadas alguns de seus filhos.

Gottfried Wilhelm Leibniz (filósofo alemão, 1646 – 1716) - em sua obra Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano, Livro II, capítulo XIX - enuncia que o entusiasmo do homem está ligado ao seu espírito de dominação no subconsciente. Os gregos, pra variar, já diziam que ficar entusiasmado seria o mesmo que possuir um deus ou uma divindade "dentro de si" e que o êxtase, que pudesse segui-lo, seria um estado de euforia ou embriaguez que, literalmente, significava "sair de si", para fora. Muito interessante essa coexistência de dois sentimentos humanos tão íntimos e ambivalentes, podendo tornar-se opostos ao mesmo tempo.

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A fúria (benéfica, não a destrutiva) é uma questão de vida ou morte no universo do mais denso e impetuoso gênero musical que se tem notícia: o Heavy Metal. Faz-se vital a perpetuação de uma imagem de puro dinamismo para aqueles veteranos grupos desejosos de manter a sua clientela de fãs ou para as bandas principiantes ansiosas de construir o seu próprio público. O visual é essencial, mas a performance em concertos "fechados" ou festivais ao ar livre é determinante, mesmo que as músicas (composições) atuais sejam infinitamente inferiores aos grandes clássicos já produzidos.

Por motivo de consciência pessoal, não vou listar os grupos que perderam a vontade ou o tesão de tocar e, por conseguinte, também a sua criatividade. Ocorre que a maioria dos músicos perdeu o entusiasmo e a empática interação com as plateias, estes artistas não se expressam mais com a natural alegria necessária. Posso apenas citar alguns grupos do Heavy Metal (como também do Hard Rock), que continuam a encantar pela "agressiva" postura em palco e pelo som "furioso" que ainda produzem, tais quais: o AC/DC, o Slayer, o Exodus, o Metallica, o WASP e o Judas Priest, e, outros que retornaram à ativa, carregando a mesma paixão de outrora, como: o Raven, o Foreigner, o Krokus e o Accept.

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A vida sem ira, emoção e vontade, simplesmente, não se manifesta em toda a sua plenitude, pois se extingue o interesse na criação. E fúria e entusiasmo são elementos indispensáveis na constituição do Heavy Metal. É por isso que não se consegue amordaçar o Rock Pesado, nunca, ele é livre, independente; por isso ele vive a conquistar posições de destaque em vendas - a despeito da discriminação ainda sofrida por boa parte da crítica e da mídia nacional e do exterior -; e por isso, eternamente, ele cresce e adquire reformada robustez, granjeando o amor (simpatia) das novas gerações e prostra toda a teoria que o censura como causador de todos os problemas da juventude, e também da minha meia-idade.

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Sobre Adriano Alves Fiore

Possui graduação em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL, conclusão em 1992 e colação de grau em 1993) e em Comunicação Social e Jornalismo pela Faculdade Pitágoras, Campus Metropolitana de Londrina, em 2009. Tem participado, como aluno especial na UEL, dos cursos de: Estudos da Linguagem (2004 e 2006), Ciências Sociais (2006) e História (2010). Obtém o título de mestre em Comunicação (área de concentração: Comunicação Visual) pela UEL (Universidade Estadual de Londrina) em 2011. Atualmente, é doutorando em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e pesquisador sob os auspícios da bolsa CNPq no Programa de Estudos de Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da mesma Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP, Brasil).Tem experiência na área de Letras, Literatura e Comunicação Social/Jornalismo com ênfase em: História, Filosofia, Psicologia, Semiótica, Música (sobretudo dos gêneros: Clássico ou Erudito, Heavy Metal e Hard Rock), Sociologia, Antropologia e Mitologia Clássica Greco-Romana. Atua em revistas e sites especializados em Rock qual crítico de Música e Comportamento Social (e do indivíduo). Também participa em variados tipos de sites e/ou periódicos impressos como colunista tratando dos mais diversos assuntos.
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