A invasão do Olimpo
Por Leonardo Carvalho
Postado em 03 de agosto de 2008
Era uma vez uma indústria que não era tão indústria assim. Na verdade tinha mais cara de manifestação artística. Com suas obras-primas eternas e seus respectivos autores semi-deuses. E também uma grande quantidade de aspirantes, pessoal que se identificava com o movimento, trabalhava forte e sonhava em um dia ocupar um lugar no Olimpo dos maiores e melhores. Não importa se tinham muito ou nenhum talento, a questão era que tinham muita força de vontade e eram autênticos. Isso bastava para ao menos receberem respeito.
O problema era que mesmo sem querer o movimento acabava por doutrinar pessoas. Afinal, os mais talentosos e inteligentes da geração embarcavam e levavam juntos grupos de seguidores. E todos esses seguidores tinham condição de não apenas bancar essa forma de arte, mas sim de gerar tanto dinheiro quanto algumas indústrias existentes na época. E foi aí que entraram alguns grupos de pessoas espertas que tinham duas características claras: um pouco de dinheiro e muita vontade de transformar esse pouco em muito.
Foi fácil convencer um grupo de aspirantes talentosos a trocar algumas poucas coisas, como alguns detalhes da arte que criavam, a forma como se vestiam e uma pequena parcela do que ganhariam no futuro por um patrocínio forte que os levariam das profundezas do movimento ao topo do Olimpo, ao lado de Zeus - ou de Zeppelin, tanto faz -.
A manobra deu tão certo e o grupo de pessoas espertas ganhou tanto dinheiro, que se multiplicaram e se organizaram, de forma que agora eram investidores que representavam grupos internacionais e se vestiam como simpáticas gravadoras. A regra de que a qualidade do trabalho separariam os mortais dos semi-deuses foi indo por água abaixo. Agora era o dinheiro. Quem conseguir chamar mais atenção e doutrinar mais pessoas ganharia. Os seguidores não estavam preparados e ficaram confusos. Frequentemente o Olimpo era invadido por meros mortais disfarçados.
Dentro de alguns anos a transformação estava completa. Agora sim dava pra ganhar dinheiro. A manifestação artistica tomou corpo e alma de indústria. Tudo padronizado, seguindo tendências pra renovar o faturamento de tempo em tempo. O único elo com o ínicio eram as obras eternas, capazes de separar o joio do trigo e trazer os excepcionais de cada geração à realidade e mostrar como tudo se transformara em uma indústria sem escrúpulos. E esse grupo de resistência faz tanto barulho que causa estranheza nas corporações.
Ora essa, o que aconteceu foi a mesma coisa que aconteceu a outras indústrias como o cinema. O grosso ficou na mão das corporações porque o que o povo quer é o simplista, o entretenimento rápido. Não há nada de mal nisso, é apenas uma forma de fuga temporária da realidade. Se querem fazer arte que façam entre vocês. O povo não precisa ser incluso.
A verdade é que essa indústria demorou a sucumbir, talvez pelo nível da paixão de seus expoentes, talvez pela força das suas obras eternas ou da inteligência de seus criadores. Mas enfim, sucumbiu. E agora é como as outras, o dinheiro está na mão dos poderosos, e é pequena a parcela da população que apoiará a abordagem artística. Isso é triste, porque quem quiser viver disso terá que enfrentar desafios imensos e viver de forma modesta. Modesta até demais pelo tamanho do talento, inteligência e capacidade que terão que demonstrar.
Mas ainda existe uma chance. Em breve as corporações perderão o controle da distribuição, e qualquer pessoa poderá faze-lo. E isso abre margem às melhores cabeças e às criações mais criativas, que chegarão às mãos de quem quer que queira apreciar. E talvez em um futuro próximo o Olimpo volte a ser povoado por novos semi-deuses, com obras monumentais, capazes de mudar a cabeça das pessoas e o mundo em que vivem.
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