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Rush: Para Neil Peart, com amor e respeito

Por Roberto Schiavon
Fonte: Roberto Schiavon
Postado em 12 de janeiro de 2020

"Acorde todas as manhãs como se fosse viver para sempre
Vá dormir à noite como se fosse o último dia da sua vida"
(Neil Peart – Longe e Distante – 2011)

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No começo da década de 80, quando eu tinha 12 ou 13 anos, e já amava os Beatles, comecei a me aventurar por outras vertentes do rock, o que me levou a descobrir bandas como Iron Maiden, AC/DC, Deep Purple, Led Zeppelin e Black Sabbath. Mas uma das bandas que rapidamente entrou em meu radar chamou bastante a atenção, por diversas características que a tornavam singular. Era o trio canadense Rush.

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Formado por Geddy Lee (baixista, vocalista e tecladista), Alex Lifeson (guitarrista) e Neil Peart (baterista), o grupo fazia um som que era pesado mas não era heavy metal, era progressivo mas não era sinfônico, era melodioso mas não era pop e era tudo isso ao mesmo tempo, com uma personalidade única, facilmente reconhecível, por mais que a carreira do grupo tenha tido diferentes fases.

Ainda que os três músicos sejam geniais, a entrada de Neil Peart, em julho de 1974, pouco depois da gravação do primeiro disco e duas semanas antes da primeira turnê nos Estados Unidos, transformou a banda no que ela viria a ser nas décadas seguintes. Seu talento monstruoso como baterista e autor de letras influenciadas pela sua rotina de devorador de livros extraiu o melhor de Geddy e Alex, que talvez nunca teriam se desenvolvido tanto como músicos sem um parceiro do quilate de Peart.

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Para muito além das dezenas de discos maravilhosos lançados pelo Rush ao longo dos anos, Neil Peart foi se transformando com o tempo em uma figura mítica, pela personalidade reclusa e pela variedade de interesses que a vida na banda lhe proporcionou. Assim como Geddy e Alex, nunca foi um típico "rock star" e, sendo assim, em vez de usar o dinheiro que conquistou com o sucesso na música em álcool e drogas, passou a se concentrar em atividades que lhe trariam mais conhecimento, além daquele que os livros já proporcionavam. Passou a viajar pelo mundo, para conhecer novas culturas e absorver novas experiências.

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Desde o início dos anos 90, vinha se dedicando a um de seus principais passatempos: as longas viagens de motocicleta, que fazia inclusive durante as turnês com a banda. Enquanto os companheiros iam de uma cidade a outra de ônibus, Peart aproveitava o percurso entre uma e outra parada da excursão para andar de motocicleta. Participar de shows com uma das bandas mais importantes da história do rock já não o preenchia totalmente, ele precisava de mais.

Quando sua filha Selena morreu em um acidente de carro, aos 19 anos, em 1997, e sua esposa Jacqueline, consumida pela tristeza, morreu de câncer apenas dez meses depois, Peart percorreu em sua moto mais de 90 mil quilômetros entre Canadá, Estados Unidos, Alasca e México, para tentar deixar para trás os fantasmas de sua tragédia e voltar a encontrar motivação para viver.

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Cerca de quatro anos depois, Peart conseguiu voltar a trabalhar e o Rush gravou o disco Vapour Trails, que trouxe a banda pela primeira vez ao Brasil. Foi em 2002 que realizei meu grande sonho de ver o trio, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Alguns anos depois, em 2010, a banda voltou ao país com a turnê Time Machine, e novamente eu estava lá nos shows, também em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Em 2015 haveria outra chance de ver o Rush ao vivo, mas para Peart era o fim da linha. Aos 62 anos, após uma última excursão pelos Estados Unidos, ele foi o motivo pelo qual a banda não aceitou novas datas na Europa e América do Sul. Tocar havia deixado de ser um prazer. Todos os anos de turnês, fazendo shows de três horas de duração, haviam cobrado a conta e Peart estava fisicamente e mentalmente esgotado, sentindo-se incapaz de seguir tocando no mesmo nível que o público esperava vê-lo noite após noite. E nunca quis entregar menos do que sabia que era capaz de fazer. Era o fim da fase de atividades da banda.

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Agora, cinco anos depois, período em que aproveitava para ficar mais próximo de sua esposa Carrie Nuttal e da filha Olivia Louise Peart, hoje com dez anos de idade, chega a notícia da morte de Neil Peart, vítima de um câncer no cérebro diagnosticado há três anos.

Às vezes subestimamos um pouco o poder da arte sobre nossas vidas. Mas tenho certeza que aquele adolescente que eu era nos anos 80 nunca teria se transformado no homem que sou hoje se não tivesse devorado as letras do Rush, em uma época sem internet, com os encartes dos discos de um lado, o dicionário inglês-português do outro, e no meio meu caderno de traduções de letras do Rush, que guardo até hoje, com duas fotos grandes de Neil Peart, uma na capa e outra na contracapa.

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Talvez sem Neil Peart eu nunca teria tido forças para implorar ao meu pai que comprasse minha primeira bateria, aos 15 anos, e mantenha até hoje a mania de "bater em coisas com um pedaço de pau", como o próprio Peart descrevia seu ofício.

E certamente a própria banda Rush não teria tido a obstinação de construir uma carreira tão solidamente calcada em princípios como lealdade às próprias ideias se Peart não tivesse se juntado ao grupo. Sua personalidade teimosa e perfeccionista certamente ajudou a tornar o Rush aquilo que sempre será, pois a música não morre nunca, apenas cresce com o tempo.

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Eu li dois dos livros publicados por Neil Peart: "Ghost Rider – A Estrada da Cura" (2002), no qual ele narra a viagem que se seguiu à morte de sua família e a reconstrução lenta e dolorosa de sua vida após essa tragédia, e "Longe e Distante" (2011), no qual ele conta diversas histórias de suas viagens de moto entre um e outro show da banda, incluindo as que fez no Brasil, Uruguai e Argentina. No livro, ele faz também diversas reflexões sobre a vida, como a que escrevi acima desse texto.

E foi nesse livro também que ele escreveu o seguinte: "Amor e respeito são os valores na vida que mais contribuem para a ‘busca pela felicidade’ – e, depois, são o maior legado que podemos deixar para trás. É uma elegia que você gostaria de ouvir com seus próprios ouvidos: ‘Você foi amado e respeitado’. Se até mesmo uma única pessoa puder falar isso de você, é uma realização de valor, e se você puder multiplicar várias vezes, bem, é um verdadeiro sucesso".

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Quando admiramos tanto e por tantos anos uma pessoa, parece que a conhecemos, pois de certa forma ela faz parte de nossas vidas. Eu ouço Rush praticamente todos os dias e uma parte muito grande da música da banda são as letras de Neil Peart, que expressam sentimentos de forma avassaladoramente precisa e bonita.

Não dá pra não sentir uma grande tristeza quando caras assim vão embora. Mesmo que ironicamente ele tenha sido um músico e escritor totalmente avesso ao jogo das "celebridades", que se recusava a mudar sua rotina por qualquer fã que encontrasse na rua. E, pelos fãs de verdade, era respeitado por isso. Ele sempre quis viver sua vida em paz, apesar de ter feito um barulho enorme em sua passagem por esse mundo. Mas nunca deixou de expressar gratidão por tudo que conquistou.

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"Para aqueles que dizem que os inspirei a começar a tocar bateria, a primeira coisa que tenho a dizer é: peço desculpas aos seus pais. Dito isso, é maravilhoso ser uma pequena parte na vida de alguém", disse Peart em 2013, quando o Rush foi incluído no Rock and Roll Hall of Fame.

A julgar pelos milhares de músicos que sempre amarão e respeitarão Neil Peart mundo afora, ele pode descansar em paz.

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Sobre Roberto Schiavon

Roberto Schiavon é jornalista, ouvinte de música e toca bateria nas horas vagas. Entre as bandas que ama estão Beatles, Rush, AC/DC, Led Zeppelin, Iron Maiden, Deep Purple e Saxon.
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