A banda dos anos 1980 que ressignificou um termo distorcido pelos militares
Por Gustavo Maiato
Postado em 11 de março de 2025
O nome RPM (Revoluções por Minuto) se tornou um dos mais icônicos do rock nacional, mas sua relação com o contexto político do Brasil foi mais profunda do que muitos imaginam. Em entrevista resgatada pelo canal A História de uma Revolução, Paulo Ricardo explicou como a palavra "revolução" carregava um estigma na época, pois era usada pela ditadura militar para se referir ao golpe de 1964.


"Não se falava mais em revolução. Só os simpatizantes do regime usavam esse termo para se referir ao golpe. Começamos a usar essa palavra naturalmente. Roubamos de volta."
O impacto da escolha do nome foi além do simbolismo. A música "Revoluções por Minuto", que batizava a banda e o primeiro disco, foi censurada mesmo em 1985, já no governo José Sarney, no início da Nova República. Segundo Paulo Ricardo, a censura nunca foi justificada, mas ele tem duas teorias:
"Talvez tenha sido por um trecho que dizia ‘ouvimos qualquer coisa de Brasília e rumores falam em guerrilha’. Ou pelo verso ‘aqui na esquina cheiram cola’, que podiam considerar apologia. Nunca nos deram uma explicação oficial."

A origem do nome RPM
A escolha do nome RPM passou por algumas mudanças antes de se consolidar. Em entrevista ao MPB Bossa, Paulo Ricardo contou que a banda quase se chamou 45 RPM, uma referência aos compactos de vinil que antecederam os LPs de 33 1/3 rotações. "Pensamos que o '45' remetia a um som antigo. Tiramos o número, mas ‘RPM’ era legal, uma sigla internacional usada em motores, carros… Era forte."
A ideia de associar a sigla ao conceito de revolução surgiu em uma conversa com o jornalista Vladimir Soares, do Estadão: "Eu disse que o nome seria RPM. Ele sugeriu ‘Revoluções por Minuto’, que é um sinônimo, mas traz um duplo sentido. Falei: ‘Genial!’"

A confusão com um título público federal
A sigla RPM chegou a causar confusão em um dos primeiros integrantes da banda. O baterista Paulo "P.A." Pagni, falecido em 2019, contou no canal Vitrola Verde que, ao ser convidado para entrar na banda, pensou que o nome fosse ORTM, sigla de Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional, um título público criado para combater a inflação.
"No caminho, fui pensando nesse nome. Achei estranho. Só entendi que era RPM quando cheguei no ensaio." A confusão não impediu que ele se encaixasse rapidamente no grupo, ensaiando na casa do compositor Ciro Pessoa e criando uma química imediata com os outros músicos.

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