O que Mutantes quiseram dizer como clássico "Meu Refrigerador Não Funciona"
Por Gustavo Maiato
Postado em 28 de abril de 2025
O hit "Meu Refrigerador Não Funciona" tem sem dúvidas um dos títulos mais bizarros da história da música brasileira. Lançado pelos Mutantes no aclamado álbum "A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado" (1970), a canção é uma das obras primas da histórica banda que reuniu Rita Lee, Sérgio Dias, Arnaldo Baptista, Liminha e Dinho Leme.
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Mas afinal o que essa curiosa frase quer dizer no contexto da música? Com letra bilíngue e seis minutos de experimentalismo, a música mistura humor, desespero e crítica social em uma das obras mais simbólicas do grupo.
À primeira vista, a repetição quase cômica de "o meu refrigerador não funciona" pode parecer apenas uma excentricidade. No entanto, como aponta o site Letras.mus, o eletrodoméstico se torna uma metáfora para a solidão e a ausência de algo essencial, como o amor ou a presença de alguém querido. "O refrigerador, que deveria conservar o que é vital, deixa de funcionar, refletindo o vazio emocional do eu-lírico", explica o texto.

A canção, que alterna versos em português e inglês, também expõe esse sentimento com frases diretas como "I miss you" e "Don’t wanna be alone", revelando a urgência de uma conexão perdida. Há um apelo emocional evidente, que transforma o cotidiano em símbolo da fragilidade humana.
Mas a leitura não para aí. Para Jeane do site Jota de Jeane, colunista e entusiasta da banda, a música também carrega uma crítica velada ao consumismo exacerbado. Segundo um trabalho acadêmico citado por ela, os gritos de desespero por um eletrodoméstico quebrado funcionam como uma denúncia irônica da "relação doentia com os bens de consumo" no auge da influência cultural dos Estados Unidos no Brasil dos anos 1960. "Aproveitando a fama de Janis Joplin e o exagero típico do tropicalismo, Os Mutantes ironizam essa febre consumista com uma faixa que zomba da dependência a objetos", afirma o texto.

A performance vocal de Rita Lee, lembrando justamente a intensidade de Joplin, reforça a atmosfera dramática e teatral. "Era como se ela estivesse parodiando a diva do blues em um contexto completamente absurdo e brasileiro", comenta Jeane.
Hoje, mais de 50 anos após o lançamento, a letra continua provocando interpretações. "Dá até para trocar o refrigerador por um smartphone com 4G e WhatsApp", brinca Jeane. A força da música dos Mutantes está justamente aí: em transformar o banal em arte crítica — e o absurdo em reflexão.

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