O limite que Phil Collins impôs a si mesmo como autor; "minha música ajuda de outra forma"
Por Bruce William
Postado em 03 de julho de 2025
Phil Collins nunca foi de fazer discursos inflamados. Ao longo de sua carreira, tanto no Genesis quanto solo, preferiu seguir um caminho mais emocional do que ideológico, e isso, por incrível que pareça, o colocava numa posição desconfortável. Especialmente quando tentava lidar com temas que fugiam do amor, do abandono ou da introspecção, que sempre foram sua zona de segurança.
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Não é que faltassem oportunidades para Collins se manifestar politicamente. Ele estava lá no Live Aid, por exemplo, atravessando o Atlântico para tocar nos dois palcos do evento. Mas, mesmo nesses contextos, ele sabia que havia uma barreira pessoal difícil de transpor. "Simplesmente não vem naturalmente pra mim escrever desse jeito", confessou, em fala publicada na Far Out. "Sinto que minha música ajuda de outra forma, ajuda as pessoas a entenderem mais umas às outras. Isso é o que eu faço melhor."
Essa limitação autoimposta não o impedia de tentar. A faixa "Long Long Way to Go", de 1985, chegou a ser apontada por ele como uma tentativa de tocar em assuntos mais sérios. Mas, na prática, a música não passava nem perto da contundência política de um Bob Dylan ou Joan Baez. Era mais uma observação melancólica do que um posicionamento direto.

Collins tinha plena consciência disso, e por mais que tivesse "opiniões fortes sobre o que é certo e errado", como ele mesmo dizia, não se via como alguém capaz de canalizá-las em forma de protesto. "Não sou motivado politicamente. Sequer voto." A frase, dita com sinceridade, revela mais sobre seu processo criativo do que qualquer análise crítica poderia oferecer.
Com o tempo, essa ausência de engajamento virou motivo de chacota. No auge do britpop, quando artistas se orgulhavam de soar crus, alternativos e provocadores, Collins passou a ser retratado como o símbolo do adulto desinteressante, que só falava de amor e dor de cotovelo. A crítica adorava diminuir seu trabalho como "música para elevador", mesmo quando ele ainda lotava arenas.

O que muitos não entenderam é que Collins nunca buscou ser o porta-voz de geração alguma. Ele escrevia sobre o que conhecia, e evitava forçar a mão quando não se sentia confortável. Justamente por isso, escrever letras com teor social ou político era, para ele, uma tarefa mais complicada do que qualquer arranjo de bateria em compasso composto.
Entre ser acusado de ser inofensivo ou soar desonesto, Collins preferia a primeira opção. E, no fim das contas, seguiu fiel ao que acreditava ser sua missão como compositor: emocionar, não doutrinar.

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