'68 entrega noise rock que nasceu do hardcore
Resenha - Yes, and... - '68
Por Patrick Raffael Comparoni
Postado em 03 de fevereiro de 2024
Nota: 8
Para quem chegou ao ‘68 por sua colaboração em "All This And War", do Every Time I Die, presente em "Radical", último álbum da finada banda de Buffalo, é natural associá-lo ao ETID. Um dos seus dois únicos membros integrou o The Chariot e o Norma Jean, essas sim bandas que têm mais semelhanças com o Every Time I Die, mas o ‘68 não oferece música na mesma direção do hardcore, por vezes brutal, do ETID. A banda, porém, também aposta em agressividade e compartilha vocais parecidos com os de Keith Buckley, na medida em que entoa uma espécie de tom de voz irônico.
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"With Distance Between" até inicia "Yes, and…" com algumas das passagens mais pesadas da discografia do ‘68, ecoando o post hardcore pesado do Norma Jean, e, mais timidamente, algo como o doom impregnado de sujeira sludge do Thou. "The Captains Sat" dá sequência ao álbum, que nos mostrará, contudo, que o duo segue fazendo noise rock, ainda que o peso mais intenso retorne, por exemplo, em "Then Got Bored".
Um ponto de partida para nos situar talvez seja o Queens Of The Stone Age em seus momentos mais experimentais e barulhentos. Diferentemente do QOTSA, entretanto, que é repleto de elementos que o catapultaram ao mainstream, a música do ‘68 insiste em se manter torta, com sutis e esparsas passagens que a tornam minimamente mais acessível, como em "Removed Their Hats".
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Essa faixa ainda exemplifica como "Yes, and…" também nos remete às músicas mais garageiras, com efeitos experimentais e guitarras ruidosas, da obra de Jack White. O álbum mais recente do ‘68 parece conversar com Jack desde suas faixas da era White Stripes, como "Blue Orchid", a "Taking Me Back", de "Fear Of The Dawn", lançado em 2022.
Ao final, podemos dizer que o ‘68 soa como uma versão torta do Black Keys nascida do hardcore. Na realidade, "Yes, and…" entrega um noise rock marginal, não só distante de embelezamentos que o empacotam para o mainstream, mas turbinado com a rudeza própria da música que nasceu em meio ao hardcore pesado.
Ainda, merece atenção a artística capa do álbum, assinada por Michele Guidarini. Apresentando a rispidez da arte de rua de uma maneira descolada, a arte dialoga com a música do ‘68, em sua marginalidade com esparsos momentos mais acessíveis, como na ótima "They All Agreed".
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