O momento do Led Zeppelin que Robert Plant preferia apagar da história; ele ficou sem graça
Por Bruce William
Postado em 03 de outubro de 2025
Improvisar sempre foi parte fundamental dos shows do Led Zeppelin. As jams instrumentais se estendiam por mais de meia hora, enquanto Robert Plant aproveitava os intervalos para arriscar comentários espontâneos, frases poéticas ou observações fora de hora. Em 1973, uma dessas falas se tornaria célebre - e também motivo de arrependimento.
O episódio aconteceu no Madison Square Garden, em Nova York, durante a turnê americana. A apresentação foi registrada para o filme "The Song Remains the Same," lançado três anos depois nos cinemas. Em meio à execução de "Stairway to Heaven," logo após o verso "And the forest will echo with laughter", Plant se virou para a plateia e improvisou: "Does anybody remember laughter?" ("Alguém se lembra da risada?").


Naquele momento, o público respondeu em êxtase. Para quem assistiu à cena nos anos 70, em tela grande, a frase não soava estranha: pelo contrário, reforçava uma atmosfera mística, quase psicodélica, em sintonia com a letra enigmática e etérea da canção. O improviso entrou para a mitologia da música e foi repetido em outras ocasiões - há bootlegs em que Plant insiste na mesma pergunta e até brinca com variações, como "Does anybody remember forests?".

Com o passar dos anos, porém, Plant passou a se envergonhar do bordão. A verdade é que ele nunca escondeu sua relação ambígua com "Stairway to Heaven", chegando a doar 10 mil dólares a uma rádio americana com a condição de que parasse de tocar a faixa. E, em 2007, quando o Led Zeppelin preparava a coletânea "Mothership" e relançava "The Song Remains the Same" em CD e DVD, tentou eliminar a frase de vez.
O biógrafo Mick Wall relatou na biografia "Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra" (Amazon) que, ao contrário do pacote "How the West Was Won," comandado por Jimmy Page em 2003, foi Plant quem assumiu o controle do projeto. O produtor Kevin Shirley lembrou que, ao revisitar a gravação de Stairway, o vocalista literalmente ficou sem graça ao ouvir seu improviso. "Ele pediu para cortar", contou Shirley. "Eu disse que não, era parte da história, algo que todos lembravam." Outros trechos menores foram removidos, mas o "Does anybody remember laughter?" permaneceu, relata a Far Out.

Curiosamente, o que Plant vê como um deslize virou, para muitos fãs, um detalhe mágico de uma das músicas mais marcantes da história do rock. Nos anos setenta, qualquer palavra que ele improvisasse já bastava para levar a plateia ao delírio, e o bordão acabou eternizado justamente por traduzir a intensidade do momento. Décadas depois, porém, o cantor passou a enxergá-lo como algo artificial, destoando da forma como gostaria de ser lembrado. Ainda assim, a frase sobreviveu no imaginário popular, gravada em discos, filmes e lembranças de quem esteve presente, um daqueles instantes em que a espontaneidade do palco se sobrepôs ao perfeccionismo do estúdio. Quase cinco décadas depois, o próprio "Golden God" preferia ter ficado em silêncio naquele instante, mas já era tarde demais para apagar a risada que ecoava em sua escada para o paraíso.

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