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Dream Theater: É só isso? Tanta tempestade pra isso?

Resenha - A Dramatic Turn of Events - Dream Theater

Por Ricardo Pagliaro Thomaz
Postado em 09 de outubro de 2011

Nota: 5 starstarstarstarstar

Muito já se foi falado sobre o Dream Theater durante esses anos todos. Bem, mal, goste ou não goste dos garotos de Long Island, eles estão por aí e vão continuar por mais uns tempos, acredito, independente do que aconteça. Sua base de fãs só pode ser equiparada à base de fãs que o Iron Maiden detém, e tal fato traz tudo o que isso tem de bom e ruim.

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O que posso dizer a vocês de imediato é o seguinte: eu já fui um grande fã desses caras um dia. Minha iniciação se deu com o álbum Scenes From a Memory. Esse disco simplesmente explodiu minha cabeça de tantas maneiras que mesmo pra mim, que já não faço mais parte da base de fãs do grupo e sim de uma porção que continua admirando o que eles costumavam representar no passado, escolher uma ou duas músicas como destaque desse brilhante disco desses caras é uma tarefa absolutamente impensável. Pra mim, o disco inteiro é uma música descomunalmente brilhante e se tornou um grande clássico do final dos anos 90. Ele representa, junto com trabalhos como Images and Words, Awake e até o execrado Falling Into Infinity que eu aprecio bastante e o EP A Change of Seasons, o que a banda fez de melhor em sua carreira, compondo assim na minha humilde opinião, a melhor era da banda sem sombra de dúvida.

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Mas após essa era brilhante, começou a decadência daquela que era uma banda que eu realmente admirava. Disco após disco eu me convencia de que a máquina do Dream Theater já não operava mais na potência total, e isso resultou em uma série de desapontamentos, que começaram timidamente no álbum Six Degrees (exceto pelo CD 2 que é ótimo e ainda chuta bundas) e terminou bucolicamente no álbum Black Clouds & Silver Linings. Em todos esses discos, mesmo não sendo mais um fã, eu ainda tinha um fiapo de esperança de encontrar uma gema da banda aqui ou ali, e realmente isso se mostrou bem verdade. Em cada disco da banda a partir do Six Degrees, apenas uma ou duas músicas mostravam pra mim que aqueles caras responsáveis pelo Scenes From a Memory ainda estavam por lá, mas já não tinham o mesmo brilhantismo. Eu assumo que aliens chuparam a criatividade e ousadia deles, mas enfim...

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Até que tudo isso culminou com a inesperada saída do baterista Mike Portnoy, o terceiro membro fundador a deixar a banda e a ausência mais sentida até agora pelos fãs. Particularmente eu assumo que Portnoy pesou na balança o quanto estava se divertindo (ou não, se preferir) com o material mais recente de seu ex-grupo e chegou a conclusão de que não havia mais futuro alí. Entra no processo, o baterista Mike Mangini, após longas audições que a banda promoveu para substitutos de Portnoy. Sério, os caras nem mesmo pensaram em dar a Portnoy uma segunda chance de voltar (e olha que ele tentou), foram simplesmente empurrando ele na prancha e já escolhendo outro cara para o trabalho. E tudo o que ele queria era dar um tempo com a banda, nada mais. Quanta consideração, hein? "Não concorda mais conosco?? Aos tubarões com você! Yarrrr!!"

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Enfim, Mangini, conhecido pelo seus trabalhos com Steve Vai e também por fazer breves aparições em discos do Extreme e outros, entra alegremente para a família Dream Theater e assume seu posto rapidamente, fazendo shows-teste com a banda e participando das gravações do novo álbum do grupo que iremos discutir aqui, "A Dramatic Turn of Events", lançado em setembro de 2011, título bem apropriado, aliás, visto que ninguém, nem mesmo a própria banda imaginava que Portnoy planejava abandonar o navio.

A Dramatic Turn of Events é o 11º trabalho de estúdio da banda a ver a luz do dia, e nos traz na capa um equilibrista no céu, acima das nuvens, acima de um avião, pedalando uma roda de bicicleta numa corda bamba prestes a desfiar. Uau! Se isso não for o prenúncio para um dos trabalhos mais geniais já feitos por uma banda em sua carreira, eu não sei o que é! Será que com a entrada do novo baterista a banda ganhou nova inspiração, será que recobraram de alguma forma sua antiga força? Vamos conferir.

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O disco começa com a faixa "On the Backs of Angels" e... sinceramente gente... eu tenho que admitir, após ter escutado a música pela primeira vez no Youtube, tudo que me veio a cabeça foi: é só isso? Tanta tempestade pra isso? Parece a mesma coisa que eles vem fazendo em discos anteriores, nada mudou, e isso não é um elogio! Mas enfim, a banda tem tido realmente idéias ruins para músicas de introdução. A última vez que tiveram uma idéia realmente bacana foi no Systematic Chaos. Por mais chato e monótono que esse disco possa parecer, a faixa de introdução chuta bundas! Aliás a de introdução e a final, que é Parte 2 da anterior são realmente as únicas duas gemas desse disco. Mas enfim, "On the Backs of Angels", faixa passável, nada de novo, nada de especial, apenas passável e outras audições dela não me fizeram mudar de opinião. Clipe de divulgação legal e é só. Nada mais a acrescentar.

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A segunda faixa é "Build Me Up, Break Me Down" e... AAAAHHH! Bateria eletrônica num disco do Dream Theater!!! Socoooorro!! Mas é só um susto que deram na gente... outra vez... sério, isso está virando um hábito! Em Train of Thought assustaram a gente com aquelas passagens que pareciam new metal! Depois foi o visual gótico em Black Clouds, daqui a pouco vão fazer cover de Baby do Justin Bieber no disco... brrr!! Que nojo! Enfim, outra música sem sentido e sem inspiração, parece mais música de rádio, colocaram uns climinhas sombrios aqui e alí, uns vocaizinhos gritados de background no refrão e pronto. Puro piloto-automático.

Próxima faixa: "Lost Not Forgotten". Uma introdução complexa pra fazer queixo de músico nerd cair, depois recaem em idéias antigas de arranjos e passagens, letrinha clichê e pronto, e eu aqui me pergunto: quantas vezes uma banda que se julga progressiva pode escrever a mesma música à exaustão? Isso aliás não é ser progressivo, certo? Claro que não! É ser monótono e chato. Aliás, progressivamente monótono e chato. Mas a questão não é somente escrever a mesma música, se fosse só esse o problema, tudo bem. Neal Morse continua fazendo o mesmo disco há anos mas mesmo assim é legal ouví-lo. Um pouco enjoativo às vezes, é verdade, mas legal de qualquer forma. O problema é o Dream Theater fazer a mesma coisa chata e no piloto automático. E isso é muito ruim.

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Chegamos na quarta faixa, "This is the Life", e aqui o Dream Theater resolve atacar de Pink Floyd, aliás, isso é realmente um alívio, considerando que até agora a banda talvez só tenha se preocupado em mostrar como toca bem. E até que a faixa não é das piores, claro, nada que Roger Waters já não tenha feito bem melhor em sua longeva carreira, mas é inegavelmente uma bela canção.

Hora de mais uma longa, "Bridges in the Sky". O começo parece diferente. Mas é só o começo... aliás, belo início Dream Theater, saúde! Brincadeiras à parte, o refrãozinho dessa longa é até bacana, mas a música em si ainda segue aquela mesma fórmula chata dos álbums anteriores, sem grandes alterações aqui, até então. Puxa vida, nem o canto do Shaman ajuda essa banda!

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Em "Outcry", meu Deus, que coisa essa bateria eletrônica, o que é que a banda tem com esse negócio afinal de contas? Sério, o Genesis às vezes usava isso nos anos 80 e eu achava um desperdício de talento, porque a banda tinha DOIS bateristas, Phil Collins e Chester Thompson. Mas voltando aqui, a música soa como uma sobra do Awake, e isso não é ruim de forma alguma, mas é aquele negócio, eles já fizeram melhor que isso no passado. A seção instrumental intermediária "ó, que lindo nós tocamos!" também não ficou ruim, apenas meio alongada e deslocada. Sério, a banda precisa voltar a ouvir coisas como "Machine Messiah" ou "The Fountain of Salmacis" pra se recordar de quando e como fazer uma seção instrumental difícil na música, na minha opinião isso faria um bem danado aos caras.

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Estamos quase chegando no final do disco, faltam 3 faixas. Espero poder encontrar aquela gema que tanto procuro, do contrário foi tempo perdido, porque até agora não vi aquela música "life changing" do Dream nesse disco. Será que ela existe? Vamos descobrir. Contagem regressiva, 3,2,1...

Somos abordados agora pela balada "Far From Heaven", somente ao piano de Jordan e vocal de James. Música bonita, realmente, não há como negar, delicada e sutil, ganhou pontos, parece algo saído do "Falling Into Infinity". Não é a melhor balada da banda, mas é realmente um daqueles momentos bacanas em que a banda larga um pouco o shredding para se concentrar mais na melodia, no momento, nos climas suaves. Depois de anos sem uma música dessas da banda, sente-se uma falta danada!

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Penúltima faixa, mais uma longa, essa tem um nome até interessante, "Breaking All Illusions", início meio Maiden, ok, ritmo, pegada e... MEU DEUS... nesse momento, dou um sorriso de uma orelha a outra! Esforço, finalmente, caras! Esforço!! São de temas assim que a banda precisa! Essa faixa poderia muito bem ter saído de um Images and Words! E não é menos que qualquer música desse disco, é tão boa quanto! Essa é aquela música que te põe um sorriso na boca, te faz lembrar do tempo em que você podia ouvir um disco inteiro do Dream Theater e dizer "caramba, que banda foda!" Essa é a faixa gema do disco, a pepita de ouro em meio ao lamaçal, muito bem caras, muito bem! Obrigado por esse bom momento!

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E pra fechar o trabalho, a faixa "Beneath the Surface". E o que me parecia impossível, ocorreu! A banda volta a compor uma balada maravilhosa, linda demais, evocando os tempos de Images and Words e Scenes from a Memory! Sério gente, essa balada está no mesmo patamar de uma "Another Day", de uma "Through Her Eyes". Coisa maravilhosa, fechando o disco com categoria. Letra linda também, muito poética, eu arriscaria dizer que talvez até com o mesmo teor poético que algo feito pelo Poets of the Fall, banda finlandesa de altíssimo calibre musical e lírico, principalmente. Canção pra trazer lágrimas nos olhos de qualquer marmanjo.

Em seu 11º trabalho, a banda entre erros e acertos, mais uma vez, mais erros do que acertos faz a estréia do seu novo baterista, porém mostra que pouca coisa mudou em relação a seus outros trabalhos. Ou seja, quem não estava gostando da direção musical da banda já anteriormente, vai continuar torcendo o nariz aqui. Mas, com a adição de um novo ingrediente, há sempre a esperança de que algo bom saia disso. Será no próximo disco? Vamos ter que esperar. No momento, ainda é o mesmo e cansado Dream Theater de antes. Não recomendo pra quem está descobrindo a banda pela primeira vez e definitivamente não recomendo a compra desse disco, talvez baixar no ITunes, no máximo poderia até ser, o que me faz ter apenas mais uma coisinha a dizer pra fechar esta resenha: Portnoy me up, guys! Ele realmente poderia estar certo, talvez a banda precisasse mesmo de algum tempo fora dos bastidores. E isto é tudo que eu tenho a dizer sobre esse disco.

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Dream Theater - A Dramatic Turn of Events (Roadrunner Records)

01. On the Backs of Angels
02. Build Me Up, Break Me Down
03. Lost Not Forgotten
04. This is the Life
05. Bridges in the Sky
06. Outcry
07. Far from Heaven
08. Breaking All Illusions
09. Beneath the Surface

James LaBrie - Vocais
John Petrucci - Guitarra
John Myung - Baixo
Jordan Rudess - Teclados
Mike Mangini - Bateria

Discografia anterior:

10. Black Clouds & Silver Linings (2009)
9. Systematic Chaos (2007)
8. Octavarium (2005)
7. Train of Thought (2003)
6. Six Degrees of Inner Turbulence (2002)
5. Metropolis Part 2: Scenes From a Memory (1999)
4. Falling Into Infinity (1997)
3. Awake (1994)
2. Images and Words (1992)
1. When Dream and Day Unite (1989)

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Sobre Ricardo Pagliaro Thomaz

Roqueiro e apreciador da boa música desde os 9 anos de idade, quando mamãe me dizia para "parar de miar que nem gato" quando tentava cantarolar "Sweet Child O'Mine" ou "Paradise City". Primeiro disco de rock que ganhei: RPM - Rádio Pirata ao Vivo, e por mais que isso possa soar galhofa hoje em dia, escolhi o disco justamente por causa da caveira da capa e sim, hoje me envergonho disso! Sou também grande apreciador do hardão dos anos 70 e de rock progressivo, com algumas incursões na música pop de qualidade. Também aprecio o bom metal, embora minhas raízes roqueiras sejam mais calcadas no blues. Considero Freddie Mercury o cantor supremo que habita o cosmos do universo e não acredito que há a mínima possibilidade de alguém superá-lo um dia, pelo menos até o dia em que o Planeta Terra derreter e virar uma massa cinzenta sem vida.
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