Tomahawk: Mike Patton novamente experimental
Resenha - Anonymous - Tomahawk
Por Thiago Zanetti
Postado em 11 de agosto de 2007
Nota: 9
Ao ouvir o nome de Mike Patton, a maioria das pessoas se lembra do extinto Faith No More e de seus maiores hits, como Epic e Edge Of The World. Entretanto, Patton não tem mais os 21 anos que tinha ao entrar para o Faith No More e gravar o aclamado The Real Thing com sua (então) voz anasalada e acrobacias malucas no palco.
Paralelamente ao Faith No More, Mike Patton tocava com o Mr. Bungle, uma banda formada nos tempos de colégio com seus amigos Trey Spruance e Trevor Dunn. As bandas eram bem diferentes. Enquanto o Faith No More seguia um estilo criativo dentro do rock and roll, o Mr. Bungle rompia a barreira do gênero e misturava elementos de diversos estilos, como música tradicional cigana, psicodelismo, jazz, entre muitos outros estilos, e era exatamente por isso que Patton via o Faith No More como um ganha pão e era apaixonado pelo Mr. Bungle. Mas as duas bandas acabaram em meados do ano 2000, e Patton começou um trabalho frenético com inúmeras bandas. A menos excêntrica delas é o Tomahawk.
O Tomahawk foi fundado no ano 2000, justamente quando o Mr. Bungle terminou. Mike Patton e o guitarrista Duane Denison (ex-Jesus Lizard) começaram um intercâmbio de idéias musicais e juntamente com o baterista John Stanier (ex-Helmet) e com o baixista Kevin Rutmanis (ex-Melvins) fundaram a banda e lançaram o primeiro álbum auto-intitulado pelo selo da Ipecac Records (gravadora que Mike Patton fundou após o fim do Faith No More) em 2001. Dois anos mais tarde a banda lançaria "Mit Gas" e já tinha fãs fiéis (e não apenas saudosistas do tempo do Faith No More). Quatro anos depois de "Mit Gas", o Tomahawk lança seu trabalho mais audacioso, "Anonymous", e divide opiniões.
"Anonymous" é um álbum conceitual, tendo sido inteiramente baseado em músicas de índios nativos dos Estados Unidos. Além disso, é o primeiro álbum sem o baixista Kevin Rutmanis, que deixou a banda por motivos desconhecidos. Até aí, tudo bem. O problema para muitos fãs é que o Tomahawk era a única das inúmeras bandas de Mike Patton que fazia algo mais próximo do rock mais acessível e linear. Os demais trabalhos, como o Fantômas e o Moonchild, são repletos de experimentalismo e elementos de estilos como noise, grindcore e death metal, que definitivamente não agradam a todos os fãs de rock. E o novo álbum do Tomahawk tem experimentalismo de sobra.
A faixa de abertura ("War Song") traz um clima sombrio que poderia muito bem abrir um álbum do Fantômas, com direito a encerramento com sample de chuva. Mas os fãs do estilo dos dois álbuns ficarão realmente chocados a partir da segunda faixa, "Mescal Rites 1".
A música traz um ritmo completamente quebrado, com todos os instrumentos muito sincronizados e coesos. É extremamente sólida e pesada, mas nada linear ou tradicional. É discutível se a faixa poderia estar presente em um disco do Fantômas, mas é difícil contestar a qualidade da faixa.
"Ghost Song", a terceira faixa do disco, é mais calma e menos quebrada, trazendo um timbre totalmente diferente da guitarra de Denison e um Patton mais calmo. O álbum segue com "Red Fox" e "Cradle Song", as músicas que mais se aproximam dos álbuns anteriores do Tomahawk - mas ainda assim trazem uma banda inovadora e inquieta, sempre tentando incorporar algo de novo ao seu estilo.
A sexta faixa é a divertidíssima "Antelope Ceremony", com seu riff de guitarra grudento e as ótimas vocalizações de Patton. É seguida pela ótima "Song Of Victory", que traz novamente a voz acompanhando a melodia dos instrumentos - característica marcante da música indígena norte-americana.
"Omaha Dance" é viajante e lembra um pouco o Tomahawk da época do "Mit Gas". "Sun Dance" traz diversas variações rítmicas, mesclando peso e leveza.
"Mescal Rites 2" pouco tem a ver com a primeira: é uma música extremamente calma, lembrando uma trilha sonora, com uma percussão marcante e diversas vocalizações.
"Totem" parece um rito de preparação para uma batalha, com um ritmo bem marcado. "Crow Dance" é profunda, muito bem trabalhada e traz um Mike Patton extremamente versátil e elástico, capaz de mudar sua voz em uma fração de segundo. O álbum termina com uma faixa solo de Denison.
É um álbum extremamente criativo e provavelmente um dos melhores de 2007, com elementos nunca explorados antes pelo Tomahawk. A banda amadureceu e, apesar do desfalque de Kevin Rutmanis, conseguiu criar o melhor trabalho de sua carreira. Entretanto, os fãs mais conservadores vão torcer o nariz para os diversos momentos de experimentalismo deste álbum.
Recomendado.
Integrantes:
Mike Patton - Voz, samples, teclados
Duane Denison - Guitarra, baixo
John Stanier - Bateria
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