O Retorno da Serpente: O Alice Cooper Group Ressurge com Veneno Novo e Alma Antiga
Resenha - Revenge of Alice Cooper - Alice Cooper
Por Neimar Secco
Postado em 03 de agosto de 2025
O mundo do rock precisava de uma sacudida. E quem melhor para fazê-lo do que uma das bandas mais seminais e perigosamente criativas da história? O Alice Cooper Group original está de volta — e voltou cuspindo veneno.
A mordida da "Black Mamba"
A jornada começa com "Black Mamba", onde Alice nos sussurra, com sua voz de narrador de filme B, o início de histórias que ficaram décadas hibernando nas sombras. A faixa tem clima de prelúdio sombrio, como se estivéssemos entrando em um novo ato teatral — mas com sangue no palco.
Em seguida, "Wild Ones" detona as caixas com energia e malícia, numa celebração da própria banda. Um riff pegajoso, um refrão grudento, e lá está Dennis Dunaway puxando o groove com um baixo gorduroso e pulsante, mostrando por que seu som é parte essencial da identidade do grupo.
Nostalgia com novas cicatrizes
A chama segue viva com "Up All Night", uma música que evoca, em espírito, "Big Apple Dreamin’ (Hippo)" — a faixa de abertura do injustamente esquecido Muscle of Love (1973). Não é mera referência: é como se o DNA da banda tivesse sido injetado em novas veias.
Mais adiante, "Kill The Flies" baixa o tom, mas mantém o clima denso. O título já nos joga direto para o universo do clássico Killer (1971), aquele disco que moldou o som e a estética do Alice Cooper Group como banda de culto e terror. A conexão com o passado se fortalece em "One Night Stand", que soa como uma irmã mais velha e endurecida de "Be My Lover" — cheia de charme venenoso.
A alma épica do velho grupo
"Blood On The Sun" é, sem dúvida, o clímax do disco. Um hino épico, com solo de guitarra que dilacera o silêncio e ecos diretos de "Halo of Flies" e trechos que flertam com a faixa-título de Killer. É grandiosa, dramática e pura Alice Cooper em sua forma mais sinfônica e perturbadora.
"Crap That Gets In The Way" nos joga de volta na garagem, com sujeira sob as unhas e espírito "faça você mesmo". Alice incorpora aqui o personagem de "Fantasy Man" (do álbum Dragontown, 2001), misturando ironia, sarcasmo e crítica social em um som que parece feito para ser tocado em porões abafados e perigosos.
Velhos parceiros, novas provocações
"Famous Face" é uma das poucas faixas assinadas em parceria com Michael Bruce neste novo álbum. Com refrão direto e eficaz, é uma pequena pérola de rock clássico com pegada moderna. Já "Money Screams"... ah, aqui temos uma piscadela carregada: Alice canta sobre a força do dinheiro e termina citando o icônico Billion Dollar Babies — momento que vai tirar sorrisos (ou lágrimas) dos fãs das antigas.
Glen Buxton vive — em espírito e som
"What a Syd" é o momento mais inusitado do disco: um rockabilly fora de órbita, que parece misturar Stray Cats, Pink Panther e devaneios psicodélicos. É uma homenagem vibrante ao lendário Glen Buxton, fã confesso de Syd Barrett, e o membro mais outsider da banda.
"Intergalactic Vagabond Blues" entrega o que promete: um blues espacial com gaita furiosa tocada por Alice e piano honky-tonk rasgado — como se Stevie Ray Vaughan tivesse invadido uma jam session interplanetária.
Mas é com "What Happened To You" que o disco atinge seu ponto mais emocional. A faixa traz um registro inédito de Glen Buxton, guitarrista original e espírito indomável do grupo. É uma viagem no tempo. Um presente para os fãs. Um reencontro impossível que, milagrosamente, acontece.
Despedida à altura de um legado
"I Ain’t Done Wrong" vem em seguida como uma declaração direta: a banda ainda tem gasolina — e garras. Neal Smith comanda a percussão com precisão, enquanto Alice sopra sua gaita como quem ri do tempo e das previsões.
E então chega o fim, com a pungente "See You On The Other Side". O título não poderia ser mais simbólico: uma homenagem não apenas a Buxton, mas também aos Hollywood Vampires de Alice — Keith Moon, John Lennon, Harry Nilsson — todos "do outro lado". A música encerra o álbum com beleza, melancolia e gratidão. É um adeus com sorrisos e olhos marejados.
Conclusão: Este álbum parecia impossível de acontecer, mesmo depois de reencontros esporádicos como o celebrado Live From The Astroturf (2022). Mas ele veio. E veio com força.
O Alice Cooper Group provou que ainda sabe fazer o que poucos ousam: resgatar o passado sem se tornar refém dele, e criar música nova com sangue velho e alma eterna.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



O primeiro tecladista estrela do rock nacional: "A Gloria Pires ficou encantada"
Axl Rose ouviu pedido de faixa "esquecida" no show de Floripa e contou história no microfone
A banda desconhecida que influenciou o metal moderno e só lançou dois discos
A melhor música dos Beatles, segundo o Ultimate Classic Rock
O convite era só para Slash e Duff, mas virou uma homenagem do Guns N' Roses ao Sabbath e Ozzy
Nicko McBrain revela se vai tocar bateria no próximo álbum do Iron Maiden
Documentário de Paul McCartney, "Man on the Run" estreia no streaming em breve
Slash quebra silêncio sobre surto de Axl Rose em Buenos Aires e defende baterista
Regis Tadeu explica por que não vai ao show do AC/DC no Brasil: "Eu estou fora"
Janela de transferências do metal: A epopeia do Trivium em busca de um novo baterista
Organização confirma data do Monsters of Rock Brasil 2026
O único guitarrista que, para Lindsey Buckingham, "ninguém sequer chega perto"
Megadeth tem show confirmado em São Paulo para 2026
Os 11 melhores discos de rock progressivo dos anos 1970, segundo a Loudwire
O que realmente fez Bill Ward sair do Black Sabbath após "Heaven & Hell", segundo Dio


A música que Jimi Hendrix estava de saco cheio de tocar ao vivo
É de tirar o pó da vitrola: 5 relançamentos imperdíveis para fãs de rock clássico
A banda que foi pioneira no Brasil e conseguiu chocar até Frank Zappa
Para Alice Cooper, Ozzy Osbourne sabia que estava "partindo"
O maior baterista de todos os tempos, segundo o lendário Alice Cooper
Pink Floyd: O álbum que revolucionou a música ocidental


