Twilight Aura - Uma jornada multivariada sob a regência do melhor do power metal e hard rock
Resenha - Believe - Twilight Aura
Por Marcelo R.
Postado em 03 de agosto de 2025
Nota: 10
Tornou-se lugar-comum, em minhas resenhas musicais, a advertência, logo ao início, de que as palavras nos tornam reféns de sua natural limitação. Afinal, a análise, por mais aprofundada e descritiva que seja, ou se pretenda, não esgota a experiência sensorial da audição. Não substitui o componente subjetivo, íntimo e pessoal que a degustação propriamente dita proporciona.
Esse comentário, anotado já na largada, soa a obviedade. E, de fato, o é. Seria [o seu registro], portanto, dispensável, economizando-se as linhas desse texto – saltando-se diretamente ao ponto – e poupando-se, ainda, a paciência e o tempo do leitor. Deixo destacada, porém, essa ressalva, com finalidade autoindulgente, tirando dos ombros, de antemão, eventual sensação de insuficiência ao, possivelmente, não alcançar, pela métrica das palavras, a grandeza do material que, nas próximas linhas, pretendo analisar.


Com essa ressalva, e sem mais delongas, à resenha.
Em 2022, o já veterano conjunto Twilight Aura deu vida ao álbum de estreia, For a Better World. Lancei-me, à época, à tarefa de resenhá-lo. Na ocasião, não apenas atribuí nota máxima ao material, como também lhe categorizei como o melhor lançamento de rock e de metal daquele ano.
Diante disso, recebi, naturalmente, com enorme expectativa e incontida inquietação, o anúncio do lançamento de um novo trabalho full-length do Twilight Aura. Em 2025, então, o conjunto gestou Believe.

Assim que acionei o play para início da imersão, as notas derramadas infiltraram-me pelos tímpanos e envolveram-me o espírito num estado de completo deslumbramento e de prostrada admiração, crescentes à medida que a audição avançava.
Essa síntese já confere o tom dessa experiência sonora, efusiva e entusiasmada na exata proporção da luminosidade que impera na música do Twilight Aura.


Não pretendo, aqui, esmiuçar cada faixa, individualmente. O intuito volve-se à análise do espírito geral do álbum, com algumas incursões pontuais mais específicas. Quanto ao mais, a contemplação competirá ao ouvinte, em sua experiência degustativa individual.
Believe abre as portas da audição com Real World, inspirada tematicamente no conceito das fake news e de seus danosos riscos. A faixa inicia-se com uma combustão sonora que incendeia e se alastra a partir de um riff de guitarra direto, pesado e agressivo, acompanhado por um arranjo de bateria visceralmente cortante.
Os primeiros momentos de Real World tonificam-se no estilo mais tradicional do heavy metal e, em certa proporção, em lampejos de thrash metal. Essa intensidade é preservada com a entrada, magistral e imponente, de Daísa Munhoz, que capitaneia o comando de voz com a sua já conhecida maestria e sua impressionante versatilidade.

Apesar do contorno e do andamento até então peculiarmente intensos, é no refrão que Real World sinaliza os primeiros elementos que resgatam aquela típica e saborosa aura identitária do conjunto, com sua verve épica e estimulante, sua energia pulsante e sua empolgante luminosidade, multicolorida e vivaz.
Real World conta, ainda, com um solo de guitarra de Felipe Andreoli (Angra). A faixa é um potente convite à imersão na audição de Believe, capturando o ouvinte e conduzindo-o, pelas mãos, à composição subsequente, Yourself Again.
Mantendo elevada a temperatura, Yourself Again rege-se sob ritmo galopante e brilhoso, mas em estrutura um pouco mais cadenciada. O refrão é um dos apogeus do trabalho, já na largada. Pegajoso – no melhor dos sentidos! – e cantarolante, os versos invocam aquela vibe tipicamente grudenta, que se impregna na mente e, claro, na ponta da língua do ouvinte.

Confesso que, em minha primeira audição de Believe, repeti Yourself Again por incalculáveis vezes, antes de prosseguir na peregrinação dessa jornada epopeica. Emperrei aqui, sem imaginar – embora já tivesse pistas! – de que o melhor ainda estava por vir.
Em sequência, Laws of Life emenda, arrebatando o ouvinte com o mesmo vitaminado estilo infatigável e calorosamente enérgico. A canção – a mais longa do álbum, com aproximadamente 7 minutos – congrega e enraíza os elementos que identificam o power metal em seu melhor estilo. Há andamentos pulsantes, refrães épico-empolgantes e um longo trecho instrumental moldado a estilos que ora remetem a nomes como Helloween e Stratovarius, ora à fase mais antiga do Iron Maiden (especificamente na segunda parte do trecho instrumental, após uma quebra de ritmo).

Na caída de tempo da faixa, Laws of Life reserva uma surpresa: a participação de Daniel Matos, irmão do Andre Matos, que emprestou brevemente sua voz, em alguns versos, contrapondo um tom dramático-melancólico ao espírito geral que, até então, imperava em Believe.
E ainda em Laws of Life, há outra emocionante surpresa, em sua insaturável fertilidade de camadas e de influências: o próprio Andre Matos congregou-se aos refrães, participando dos backing vocals, numa participação pré-gravada que vitalizou, nessa faixa, a memória do tão saudoso maestro.
Essa é, em síntese, a atmosfera do material, movida, essencialmente, por uma aura multicolorida de tons vivazes, arranjos vibrantes, estruturas técnicas e complexas (acessíveis e facilmente degustáveis/assimiláveis, porém) e andamentos que se alternam entre o cadenciado e o acelerado. Nessa verve, inserem-se outras faixas, como Right Thing (com uma cativante abertura ao estilo de guitarras-gêmeas) e One Day at a Time.

De todo modo, a teia epopeico-galopante (e, em geral, veloz) que imprime os contornos de Believe cede, por vezes, à regência de outras influências, bem alocadas, calcadas na imersão, na introspecção e na contemplação. Aliás, é justamente nas faixas com arrefecimento de ânimos, de humores e de ritmos que prodigam elementos sentimentalmente belo-românticos – e, por vezes, dramáticos –, magnetizando e emocionando, em sua formosura, o ouvinte.
Sem pretender, como já dito, esmiuçar o álbum, faixa-a-faixa – compromisso firmado ao início desse texto –, destaca-se, na ambiência desse contrapeso diretivo, a canção Coming Home: uma balada com belíssima introdução acústica, que, porém, evolve para matizes mais intensos e impactantes, sem perder a sua essência romântico-sentimental. Nessa faixa, estruturalmente mais simples, Daísa Munhoz alterna o protagonismo com Fábio Caldeira e, em alguns trechos, ambos se irmanam num dueto, tão doce quanto intenso, sobrepondo, em uníssono, suas vozes.

A inserção de vocais masculinos e femininos limpos, cristalinos e imponentes elevaram a faixa a uma esfera de contemplativa e imersiva beleza, características já citadas e que, aqui em Coming Home, são excelentemente representadas. Uma paisagem sonora bordada acima e para além de quaisquer clichês. A criatividade, o bom gosto e o feeling são a tônica de Coming Home, reverberando, porém, pelo fio-condutor de todo o material.
Como se não bastasse, em Believe, o Twilight Aura lançou-se também ao terreno do hard rock, campo que o conjunto já visitara e experimentara anteriormente, em For a Better World. E, nessas incursões, o conjunto foi novamente feliz e exitoso, salpicando e adoçando a audição de Believe com multivariados elementos, enriquecendo-a fertilmente a partir de uma colheita servida de várias fontes.

Nesse eixo de influências, citam-se as faixas Hold Me Tight, reverberada pela garganta do gigante e incensurável cantor Jeff Scott Soto, e Sacred Earth, regida, no comando de voz, pelo brasileiro BJ. O vocalista compatriota marcou Sacred Earth com brasa quente, com seu inconfundível timbre e potência, tornando-a uma das minhas faixas favoritas desse material.
Believe encerra-se com a faixa autointitulada. Cessando os vapores do ritmo geral, efervescido e galopante, essa canção amaina o espírito acelerado do ouvinte. Inicia-se, pois, numa ambiência obscura e taciturna, progredindo, porém, para uma explosão sonora sentimentalmente arquejante, sem abandonar, porém, o seu inato aspecto belo-dramático.

A faixa Believe é o cerrar de cortinas de uma jornada multivariada, que entrega e proporciona saborosas degustações, em movimentos pendulares, ora épicos e vivazes, ora líricos e introspectivos, bordados sob a regência do melhor do power metal e do hard rock. E tudo isso executado por músicos no apogeu técnico e criativo.
O Twilight Aura alcançou resultado que parecia, até então, meta indisputável: suceder-se a um lançamento com estatura tão elevada – For a Better World –, preservando a mesma qualidade. Fê-lo, porém. E com impressionante maestria, competência e extremo bom gosto.
Um deleite sonoro. Um verdadeiro presente aos apreciadores de heavy metal. Uma reafirmação, acima de tudo, de que a cena nacional está indiscutivelmente ranqueada à máxima estatura.

Uma sonora salva de palmas!
Boa audição.
Faixas:
1. Real World
2. Yourself Again
3. Laws of Life
4. Coming Home
5. Right Thing
6. One Day at a Time
7. Sacred Earth
8. Hold Me Tight
9. Believe
Formação:
Daísa Munhoz – vocal.
Filipe Guerra – baixo.
Claudio Reis – bateria.
André Bastos – guitarra.
Rodolfo Elsas – guitarra.
Leo Loebenberg – teclado.
Resenha publicada originalmente no site Rock Show

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