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Metallica: Questões nebulosas no topo do mundo

Por Don Roberto Muñoz
Fonte: mtv.com
Postado em 12 de setembro de 2016

"Eles ganharam bastante com T-shirts e concertos e outros itens comerciais. Eu acho que não é um comportamento aceitável para um artista fazer isso aos seus fãs."
(NIKKI SIXX sobre a ação judicial do METALLICA contra o Napster)

Uma das idéias mais enigmáticas sobre o "efeito" METALLICA no mundo do Heavy Metal foi lançada por Chad Bowar: "O METALLICA não inventou o thrash, mas eles certamente trouxeram-no para as massas, e este álbum foi o que começou isso tudo.". Mutatis Mutandis, o primeiro disco teve, em termos de repercussão, a mesma força do "Black Album".

Não gratuitamente a banda pode ser catalogada como "The BEATLES" do Rock Pesado. Quase impermeável a críticas, o METALLICA continua angariando milhares de fãs pelo planeta. As massas... O primeiro movimento em falso foi a saída de DAVE MUSTAINE. Levá-lo na viagem da Califórnia até Nova Iorque, para, quase que instantaneamente, devolvê-lo bêbado e sozinho? Não teve a banda uma atitude honesta na maneira como demitiu MUSTAINE.

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Após lamber as feridas, MUSTAINE cresceu, e lançou o inigualável "Peace Sells... but Who's Buying?", 1986. Mas quis o destino que "Master of Puppets", 1986, se transformasse num hino do Heavy Metal. Enquanto o "Peace Sellls..." apresenta-se mais viril, reto e sereno, o "Master..." oferece um fervor juvenil na certeira apelação aos sentidos. Na comparação cinematográfica, o MEGADETH remeteria a Kubrick, enquanto o METALLICA próximo estaria de Spielberg. São tipos diferentes de genialidade. E cada uma com a sua própria escuridão.

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Ainda sobre o "Master of Puppets", a letra de "Leper Messiah" conduz a uma imediata conexão com a capa. Claro, há na capa do álbum o capacete de guerra encaixado na cruz de uma tumba, ornamentando o imenso cemitério repleto de cruzes, que relembra a loucura do embate no Vietnam. Por sinal, guerra muito bem explicitada por Marlon Brando em "Apocalipse Now", 1979, de Francis Ford Coppola. Entretanto, outros símbolos na capa apontam para questões religiosas, ressaltando uma problemática espiritual.

No caso, trata-se d’algo mais transcendente, na relação entre capa e letra. É a maneira como Deus é encarado. Por pura infelicidade, o americano típico percebe o Christianismo basicamente sob o viés protestante, logo, moralizador por natureza. A leitura rasa dos protestantes deriva da ausência de visão a respeito de como o ser humano pode ser christão sob o prisma metafísico. A Igreja Ortodoxa russa, por exemplo, não foi engolida pelos comunistas devido à consistência simbólica. Assim, os garotos crescem nos EUA ouvindo moralismos infantis sobre o religare.

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Simbolicamente, a capa é herética. Realmente, por muito menos Javé destruiu nações inteiras. E tal apelo comercial – de ganhar ibope com críticas pueris à Religião através das letras – é muito sedutor para o fã, quando adolescente, logo, muito vendável do ponto-de-vista mercadológico. Há também a foto principal do encarte, que incomoda, pois além da banda, os jornais também posam. Aí fica difícil... De qualquer maneira, a popularidade foi para os céus com o disco, mas o preço foi o retorno de CLIFF para Deus.

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Sim, a banda desmontou com esta morte, muito próxima das antigas tragédias gregas em termos conjunturais. O baixista era o idealista da banda, aquele que vestia um jeans contracultural dentro e fora do palco, e que amava ZZ TOP. Luto. Tempos depois, veio "...And Justice for All", 1988, que facilmente poderia ser catalogado como um excelente disco, não fosse o som do baixo surrupiado. Talvez seja uma das maiores humilhações que um músico pode passar. O pior, JASON NEWSTED soube da novidade posteriormente.

Com o "Black Album", 1991, veio a comoção internacional. Vendeu tudo o que podia vender, e a banda conseguiu ombrear com IRON MAIDEN em renome e popularidade. Mas, sinceramente, um "black album" não precisa ter confirmação didática de sua proposição sombria com o desenho de uma cobra estampada na capa. Considero um álbum dissociado da raiz, e eles ainda encarnam aquela pose de bad boys no clipe de "Enter Sandman". Noutro artigo discorro sobre a incompatibilidade entre o Heavy Metal e o mainstream. Infelizmente, as conjunções peso/ rapidez e crueza/ lirismo captadas em "Ride the Lighting" foram deixadas de lado.

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"Load", 1996, foi o surto. As fotos do encarte do álbum com a banda repleta de maquiagens e purpurinas sentenciam a situação. Tudo o que a banda criticava, em letras e atitudes, retornou para ela, e o álbum foi uma das maiores decepções dentro do gênero Heavy. Quando a sombra do estabilishment musical transparece... "METALLICA maquiado nas fotos do encarte???" Esta foi possivelmente a pergunta mais feita sobre o disco. "Black Album" não é um disco de thrash metal, trata-se de um hard rock bem acessível, mas ainda é Rock. Já "Load" é histérico.

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E o que dizer do caso Napster? Aqui, a banda, em especial o baterista LARS ULRICH, agiu como um legítimo businessman. Aí a pessoa se pergunta: pô, os caras sempre criticaram o mundo inteiro em seus discos, contra a opressão, tirania, etc. e agora agem contra os garotos do Napster de maneira acusatória? Justamente os caras do METALLICA contra garotos que também lutam contra outros tipos de opressão? Algo está fora do lugar.

Roberto Muñoz, escritor

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