W.A.S.P.: ofendido com o empresário do Iron Maiden
Por Willba Dissidente
Fonte: Site oficial da banda
Postado em 27 de janeiro de 2012
W.A.S.P. "30 Anos de trovão" é o nome da série de quinze textos que Blackie Lawless está publicando no "Official W.A.S.P. Nation Website" para comemorar o vindouro trigésimo aniversário de seu grupo, a se realizar em setembro de 2012. Todo mês o guitarrista, vocalista, produtor e lider do W.A.S.P. escreve um episódio contando o caminho que sua banda fez até se tornar umas das mais importantes do mundo do Heavy Metal. No Brasil, W.A.S.P. "30 Years of Thunder" é traduzida por Willba Dissidente e publicada primeiramente no Whiplash.net.
W.A.S.P. "30 Anos de trovão" - Parte cinco.
"ALTO LÁ PARCEIRO... DEIXE A BERRALHEIRA COMEÇAR"
O show de Halloween em 83' foi na véspera do 30 de Outubro. Como eu disse antes, o rolê foi matador e o Troubadour estava tão louco quanto de costume. A revista Kerrang já tinha nos colocado em destaque em edições anteriores, então Ross Halfin estava lá fotografando o show; mas ele não estava sozinho... ele levou um amigo!
Acordei na manhã seguinte me sentindo legal a respeito do show, mas ainda prolongava um pensando atrás da orelha. Esse era: nós NÃO TINHAMOS mais pra onde ir. Literalmente a gente chegou no fim de nossa corda Rock'n'Roll! Essa coisa toda da percepção dos selos de gravação de Los Angeles (ver edição anterior), nos colocou grandão no paredão. Jogamos esse jogo tão bem quanto poderíamos, talvez melhor que qualquer outra banda antes, porém ainda nenhuma gravadora estava apta a nos assinar um contrato.
Vendo agora em retrocesso é fácil perceber o porquê. As maiores gravadoras sofrem do mesmo mal que topamos na Cruz Vermelha Americana... protecionismo de suas preciosas imagens!!!!
Eles não queriam se envolver com qualquer banda que pudesse sujar sua imagem conhecida com outros rótulos de mercado, especialmente galera como a gente, ou os grupos de Thrash da época. Lembro que a primeira vez que ouvi algo assim foi o Chris (Holmes, guitarrista do W.A.S.P. )dizendo que o Eddie VAN HALEN havia sido lesado por sua gravadora, a Warner Brothers. Era final de anos 70 e quando o VAN HALEN estava em L.A. e ia fazer entrevistas, eles eram tratados pela Warner de maneira embaraçosa, como se eles fossem crianças. O fato é que a gravadora era muito mais interessada e respeitosa se qualquer outro artista como Ricki Lee Jones (cantor de muito sucesso na época) estivesse no prédio ao mesmo tempo. Como nota de rodapé, eu sei disso tudo já que Chris cresceu na mesma vizinhaça que Eddie e eles permaneceram amigos; anos antes, foi Eddie que ensinou a Chris como tocar guitarra.
Isso é a razão toda de MUITAS bandas que deveriam estar no Rock and Roll Hall of Fame serem deixadas de fora: eles têm a mesma mentalidade das grandes gravadoras. TODOS ELES querem parecer "respeitavéis" para seus pares. Isso me deixa doido, porque é chamado "Hall da Fama do Rock and Roll", NÃO "Hall da Fama do POP"! Se eles quiserem se auto homenagear, ÓTIMO, que façam um Hall próprio, mas não humilhem a genialidade Rock and Roll com sua idéia paternalista de música!!
É engraçado como o W.A.SP. e todas aqueles grupos THRASH conseguiram contratos com grandes gravadoras. Foi só aquelas viboras sentirem o cheiro do dinheiro para elas virem correndo como as verdadeiras prostitutas que são (ouça a música 'Chainsaw Charlie')!! Você deve lembrar que nesta época o W.A.S.P. não era do mesmo jeito do restante das bandas de Los Angeles. Tinhamos nossas bordas musicais mais trabalhadas, nosso show, bem, ele falou por sí mesmo. Nosso problema era similar à interpérie que empurrou o METALLICA a ir para São Francisco. Nos conhecemos num show em Palo Alto em 83'. Passados dezoito meses a gente tava junto em tour pelos E.U.A. Foi divertido demais!!
Como eu ia dizendo, na noite posterior ao show de Halloween eu fui ao Rainbow tentar afogar as mágoas. Nas noites de dia das bruxas o Rainbow Bar & Grill era até mais doidera do que já em noites comuns.
Então, lá eu entrava pelo restaurante tentando chegar na minha mesa e um braço me alcança e me segura. Olho pra baixo e lá vejo um cara sentado usando um capacete Viking completo... com chifres e tudo. Ele me puxa para sentar ao lado dele e imediatamente começou a me contar o que eu estava fazendo de errado com a banda e como nossa apresentação não funcionaria fora de L.A.
Após cerca de três minutos ouvindo (sem dizer uma palavra) ele termina seu depoimento. Eu digo ao cara: "Quem diabos é você"?
Eu nunca tinha visto o sujeito na vida e ele lá como se a opinião dele importasse. Não sabia quem ele era e, francamente, eu fiquei ofendido pela atitude dele, então, logo fui pra minha mesa. Nem pensei mais no caso. Noite seguinte e eu no Rainbow denovo. Estou andando, um braço me agarra de novo e outra vez me puxa pra baixo. Adivinha quem? Yep, o mesmo cara, dessa vez sem o capacete Viking. Ele começa o mesmo discurso da vez anterior, "você tá fazendo TUDO errado" etc. Dessa vez eu fiquei MUITO OFENDIDO. Lembre-se, a banda tinha atingido um patamar impressionante até aquele momento e PELO MENOS ALGO havíamos acertado. Não tinhámos apoio, gravadora ou empresário e mesmo assim éramos a banda número um em Los Angeles; que é um grande mercado, saturado além da imaginação! L.A. já viu de TUDO umas 20 vezes! Cidade dura de impressionar!
Voltando, não gostei mesmo da verdade que o cara 'vomitou' em mim e comecei a levantar para ir embora. Uma garota que tava lá, que percebeu quão me desagradava aquela linha de questinamento, inclinou-se e me disse "ele é o empresário do IRON MAIDEN". Eu já sabia do IRON MAIDEN, mas eles ainda não estavam nem perto da fama gigante que teriam nos E.U.A. Randy (Pipper, guitarrista do W.A.S.P. na época) ouvia algumas músicas do Maiden e curtia bastante, mas eu mesmo não conhecia muito deles. De novo, eu estava sentado lá (pela segunda vez) e tomei consciência que nem sabia o nome do cara. Logo, eu perguntei: quem é você?
"Sou Rod Smallwood... eu sou empresário o IRON MAIDEN", afirmou. Ele foi com o Ross (contra a vontade dele) no show de Halloween no Troubadour. Acrescentou ainda que vira fotos nossas e pensou que fossemos um tipo de piada que ele não poderia levar a sério, mas Ross (Halfin) insistiu que ele fosse ao show. Ele disse a Rod que achava que éramos algo que precisava ver. Rod era um grande fã de THE DOORS e, naquela época, nós usávamos a canção "The End" na introdução de nossos shows (nota: algo que Lawless repetiu no primeiro show do W.A.S.P. no Brasil, que ocorreu em 2005). Rod então pensou "bem, talvez essa não seja uma tão ruim afinal". Acabando nossa apresentação ele estava reforçando a idéia!!
Então continuamos a falar e o papo ficou um pouco quente. Digo, estava um pouco nervoso, pois não queria mais ouvir o que esse cara tinha a dizer. Não estava muito impressionado pelo fato dele empresariar o MAIDEN. Lembre, eu ainda estava em contato com Bill Aucoin (empresário do KISS - ver edições um e dois) e naquele momento parecia que iríamos assinar com ele. Rod (Smallwood) já era uma estrela no Reino Unido, o que não sabia então, e sinceramente não ligava.
Quando comecei a levantar de novo, numa voz mais calma e sincera, ele me diz: "ouça garoto, você tem algo especial com sua banda, que tem chance de ficar grande, mas você não vai conseguir por sí só". Aquelas foram palavras mágicas. Provavelmente todos têm um momento em que quase deixaram alguém e que esse alguém fala UMA coisa que te faz parar e muda tudo. Esse foi um desses momentos!! Então eu relaxei e ficamos falando e falando o restante da noite. Nos desligamos em tudo o que os outros falavam e aquela noite ficamos focados um no outro. Em algum lugar no meio da conversa eu me liguei que ele estava interessado mesmo no que a banda fazia.
Logo que o bar fechou, fomos ao seu quarto de hotel e o papo foi até umas 07 da matina, debatendo sobre o mercado musical, a teoria das bandas de rock teatrais, como vender discos e esse tipo de coisa. Não percebi que ele estava me sentindo. Tipo, ele me avaliava para saber se eu tinha cabeça para fazer uma carreira nesse meio. Fazia o mesmo com ele. Com tudo o que falávamos aquela noite, parecia que algo especial ia acontecer. Você podia sentir isso, era como aqueles encontros de pensamento. Era louco, de tudo o que conversávamos nossos pensamentos estavam alinhados um com o outro. O que aconteceu foi que no começo eu não acho que imaginavamos que fossemos mesmo trabalhar juntos. Foi algo que aconteceu enquanto falávamos. Passamos muito tempo juntos a seguir. Ele teve de voltar à Inglaterra 04 ou 05 dias depois e quando Rod foi embora, eu instintivamente senti que havia encontrado uma coisa que passei a vida toda procurando... UM VERDADEIRO PARCEIRO!!
Eu devo a Ross um bocado de gratidão por ter arrastado Rod até aquele show.
Mais uma vez, o destino é mudado por NÃO perder um ônibus.
Eu gastei muito tempo aqui escrevendo sobre minha parceria com Rod porque era assim que isso foi. Pelos próximos 14 anos ele foi minha caixa de ressonância mais que todo mundo, inclusive na banda. Nós tinhamos um relacionamento baseado em quem gritasse mais alto ganhava a discução. Isso não é uma coisa ruim. Aprendemos que com personalidades fortes, aquele que está diposto a lutar mais pesado em qualquer problema ou idéia dada é geralmente aquele que está correto! Ao menos a maioria das vezes. Mas, me deixe contar, tivemos alguns absolutos knock out algumas vezes!
Éramos muito bons em colocar nossos egos de lado e confiar em nós mesmos, até nas vezes em que não tinhamos certeza do que era correto. Você deve lembrar, quando você faz coisas que nunca foram feitas antes, você literalmente cria as coisas pelo caminho. Temos de confiar nos instintos uns dos outros e a única maneira de conseguir isso é com respeito mutuo.
Falei muito aqui sobre ter um parceiro, entretanto, nunca conseguiria enfatizar a importância disso para mim. Não importa o quanto minha carreira tenha se desenvolvido ao longo dos anos, EU NUNCA quis estar nessa sozinho. Isso é tudo que alguns caras querem. Não eu!!
Eu sempre tive inveja da parceria que Gene e Paul (KISS) tem. Vejo isso desde o começo da banda. Ainda que Ace (Frehley) seja meu amigo, aqueles dois tinham A REAL PARCERIA na banda. Era tudo o que eu sempre quis. Tinha dezoito anos e estava pensando muito em desistir da carreira musical, tão pra baixo estava em não chegar a lugar algum; então liguei para o Ace. Eles (o KISS) estavam na sua primeira tour estadunidense e o Gene (Simmons) pegou o telefone e me perguntou o que havia de errado. Ele sabia a banda que eu estava então e me disse "você precisa ficar longe desses perdedores que você está tocando. Você tem algo especial. Encontre alguém que tenha o mesmo foco que você. Não importa o que fizer... SIMPLESMENTE NÃO DESISTA"!!!
Ele foi muito convincente. Desliguei o telefone e me sentia muito melhor. Se ele não tivesse me dito isso definitivamente eu nunca estaria no lugar certo para entrar na coisa do NEW YORK DOLLS que aconteceu duas semanas depois.
Isso me levou até a Califórnia, para o W.A.S.P. e para o Rod... meu parceiro!!!
Feliz Ano Novo!!!
Mais mês que vêm.
B. L.
W.A.S.P.: 30 anos de trovão
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