W.A.S.P.: Lawless teve "a mesma coisa" que Michael Jackson!
Por Willba Dissidente
Fonte: Site oficial da banda
Postado em 31 de julho de 2012
W.A.S.P. "30 Anos de trovão" é o nome da série de quinze textos que Blackie Lawless está publicando no "Official W.A.S.P. Nation Website" para comemorar o vindouro trigésimo aniversário de seu grupo, a se realizar em setembro de 2012. Todo mês o guitarrista, vocalista, produtor e lider do W.A.S.P. escreve um episódio contando o caminho que sua banda fez até se tornar umas das mais importantes do mundo do Heavy Metal. No Brasil, W.A.S.P. "30 Years of Thunder" é traduzido EXCLUSIVAMENTE por Willba Dissidente e publicado primeiramente no Whiplash.net.
W.A.S.P. "30 Anos de trovão" - Parte Onze.
"VIDA LONGA AO REI DA PIEDADE"
Antes do lançamento de "Crimson Idol" eu fiz uma turnê mundial de promoção (sem apresentações ao vivo) de dois meses e meio. Nesse tempo, fui entrevistado mais de 800 vezes. Isso dá 15 entrevistas por dia durante dois meses e meio. Eu passei por toda Europa, Japão, Coréia, América do Sul e Estados Unidos (Nota: Blackie Lawless esteve no Brasil em 1992). Se eu já estava louco antes disso começar (ver edição anterior), então você pode imaginar meu estado ao final do giro. E AGORA era hora da verdadeira turnê começar!! Basicamente, eu fiz uma turnê para poder sair em turnê!!
O primeiro show era no Monsters of Rock alemão, em Manheim, mas eu tive de voltar a Londres uns dias antes para assinar 5.000 cópias de uma edição autografada do "Crimson Idol". Isso levou três dias. Ao final disso eu senti que algo psicológico estava errado comigo. Comecei a ter calafrios e febre, então chamamos um médico ao meu quatro de hotel. Este me examinou e disse: "bem, eu não sei o que se passa contigo, mas eu examinei Michael Jackson há dois dias e ele tinha a mesma 'coisa' que você"!! Como nota de rodapé, Jackson acabara de cancelar as duas noites de show que ele faria no Wembley em Londres. Poucos dias depois eu entendi o porquê. Isso foi numa quarta-feira e o show de Manheim era no sábado. O médico me deu três comprimidos e me disse para tomar um na quinta, um na sexta e que guardasse o outro (que era especial) para tomar no sábado. Mais tarde, naquela mesma noite, eu comecei a vomitar e ter dores, tremendo inteiro. Acordei na quinta de manhã e não conseguia ficar em pé. Toda vez que tentava levantar eu caia para trás. Eu estava gripado, como todo mundo, mas posso te asseguar que isso não era gripe. Continuava a pensar sobre o que o médico disse "eu não sei o que você tem", e conclui que eu também não sabia; mas isso era pior do que qualquer coisa que eu já tive.
Sexta-feira chegou e eu ainda não conseguia me levantar. Chamei de novo o médico ao meu quarto e lhe contei o que acontecia comigo e ele disse, "não se preocupe, o que eu te dei mataria um elefante, e além do mais, o último comprimido que indiquei te fará enfrentar QUALQUER COISA"!! Cara, quando eu escrevi sobre o "Dr. Rockter" - música do Crimson Idol em que o médico receita morfina, cocaina e outras drogas à personagem Jonathan - eu não imaginei que conheceria um tão rápido!
Chega a manhã de sábado e pelo menos eu consigo ficar de pé, ainda que me sentindo péssimo. Eu preciso agora tentar chegar de Londres a Manheim. Nós fomos ao aeroporto e a decolagem foi ok, porém quando tentamos pousar em Frankfurt, o tráfego aéreo estava congestinado; tivemos de circular o aeroporto por mais de uma hora. O médico havia me dito para só tomar o "compromido misterioso" duas horas antes do show. Eu o engoli quando ainda estávamos no ar, não sabendo que teríamos de esperar tanto para pousar. Manheim fica, em condições normais, a cerca de uma hora e meia de Frankfurt, então quando tomei o comprimido, achei que era na hora certa. Lembre-se, eu NÃO FAZIA IDÉIA de que efeito essa coisa teria em mim. Na hora que pousamos, eu NÃO sentia dor. Começou a piorar dai em diante. Eu estava, basicamente, entorpecido. Nosso pouso atrasou demais, então o motorista me colocou no carro e "decolou". Olhei, por cima do seu ombro, para o velocímetro e este indicava mais de 220 Km/h. Eu estava tão chapado que nem liguei!! Ele me fez chegar na cidade em cerca de 45 minutos.
Na hora que chegamos eu estava um estrago total. Não foi uma "viagem legal". Eu estava alucinando e com dificuldades de enxergar. Finalmente nós subimos no palco e eu lembro de chegar perto da beirada pensando "faça o que fizer, MAS NÃO PISE EM FALSO NA BEIRADA". Foi assustador porque eu pensei que fosse algo que eu não poderia me impedir de fazer. Tinha agora por volta de três horas que eu havia tomado aquele comprimido; e quando mais o tempo passava, pior eu ficava. Tudo foi ficando em camera lenta e bem distorcido. Era como um pesadelo ruim. Encarei fixamente o chão o tempo todo que ficamos lá em cima do palco. Foi só na quarta música que levantei a cabeça e ví a platéia pela primeira vez. 180 mil pessoas lá e eu não olhei para eles nos primeiros vinte minutos. Eu lembro de fixar a vista neles e pensar "wow, olha quanta gente"!! Essa é minha última recordação desse show. Minha última memória neste dia foi voltar ao meu quarto de hotel. Eu deitei na cama e comecei e suar e tremer incontrolavélmente. Acordei na manhã seguinte e a cama tava lavada de suor. Ainda assim eu realmente me sentia um pouco melhor. Esse foi o primeiro show daquela turnê mundial.
À partir dai as coisas só melhoraram!!!
Tudo rolou bem no restante da turnê, que se encerrou no Japão. Eu voltei para casa e pensei, "OK, e agora"? Eu morava num casarão em Hollywood nessa época e meu quarto era no andar de cima com vista sobre a Sunset Boulevard. Eu andei pela varanda e sentei lá alguns minutos. Devia ser 23 horas. O quanto mais eu ficava sentado lá, mais uma tristeza esmagadora se apossava de mim. Pensei em tudo que eu passei criando o disco, então fazendo a turnê e tudo que aquilo havia tomado de mim. Eu havia começado a viver aquela personagem do Jonathan por mais de três anos e agora ele despencava em mim qual uma avalanche. De pé na varanda, ao olhar a cidade, eu comecei a berrar e chorar. Eu berrava o mais alto que conseguia. Foram uns 10 minutos em que eu fiquei completamente histérico. Foi uma maravilha que ninguém chamou a polícia. Tenho certeza que o barulho era como se eu estivesse sendo assassinado. Passados alguns minutos eu comecei a me acalmar. Foi uma verdadeira catarse.
Posteriormente, eu entendi que estava exorcizando aqueles demônios bem ali. Fiquei sentado ali pelas próximas horas e aquilo se abatia em mim. Parte do que eu estava passando foi chegar à conclusão que alcançara o fim de uma jornada. Jornada esta que eu não somente cheguei muito próximo à personagem... eu vivi aquela persona!! Fui tão atormentado e falho quanto Jonathan era que cheguei a amá-lo... e agora eu tinha de me separar dele!!!
Levei muito tempo para verdadeiramente entender o porquê de tantas pessoas se sentirem tão passionais a respeito deste disco. Eu não compreendia, elas podiam ver a estória do mesmo modo que eu. Veja bem, eu estava tão focado na trama que nunca imaginei que alguém a enxergaria igual a mim porque na minha cabeça eu a havia feito tão complexa... mas no fim o enredo era muito simples. Era só um garoto procurando amor.
Algumas vezes eu olho em retrocesso para o Jonathan. É como pensar num velho amigo. Ele mudou definitivamente minha vida... e para melhor!!!
Mais mês que vêm,
B.L.
W.A.S.P.: 30 anos de trovão
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