W.A.S.P.: doando sangue para terminar fita demo
Por Willba Dissidente
Fonte: W.A.S.P. - site oficial
Postado em 23 de dezembro de 2011
W.A.S.P. "30 Anos de trovão" é o nome da série de quinze textos que Blackie Lawless está publicando no "Official W.A.S.P. Nation Website" para comemorar o vindouro trigésimo aniversário de seu grupo, a se realizar em setembro de 2012. Todo mês o guitarrista, vocalista, produtor e lider do W.A.S.P. escreve um episódio contando o caminho que sua banda fez até se tornar umas das mais importantes do mundo do Heavy Metal. No Brasil, W.A.S.P. "30 Years of Thunder" é traduzida por Willba Dissidente e publicada primeiramente no Whiplash.net.
W.A.S.P. "30 Anos de trovão" - Parte quatro
"DINHEIRO ENSANGUENTADO"
Estamos no final do verão de 1983 e nós terminando nossa terceira demo. Você pode perguntar o que estava errado com as duas primeiras. Eu me faço a mesma pergunta. Aquelas primeiras demos eram fantásticas: cruas, ásperas, grosseiras e, na real, soavam melhor que nosso primeiro LP. Então, por que tanta tortura? Naquela época os maiores selos procuravam o som mais polido com a produção mais sofisticada. Assim fomos levados nessa sujeira. Quando finalmente era a hora de gravar o disco, todo nossa energia havia sido sacrificada na tentativa de satisfazer o que os selos procuravam naquele tipo de som. Mais tarde eu explicarei tudo isso. Lá estavamos nós (de novo) gravando a demo de "Love Machine" (e todo o restante do set) pela terceira vez. Havia só um pequeno problema: ficamos sem grana!!
Não tinha como pagar o estúdio. O A&M era um local muito caro, cerca de U$S 1,000.00 por dia. Nós estávamos no "Studio A" (a maior sala), o mesmo estúdio onde o vídeo de "We Are The World" foi feito um ano antes e também onde o vídeo para o Hearing Aind "We're Stars", iniciativa do falecido Dio, foi filmado (que Chris e eu participamos). Por não termos assinado com um selo grande ainda, o estúdio não nos dava tempo SEM pagamento adiantada. O dinheiro que tínhamos dos primeiros shows estava quase acabando. Estávamos lá há quase um mês e ainda precisaríamos de umas duas semanas. Enquanto tudo isso acontecia, eu estava ficando cada vez mais preocupado com a falta das maiores gravadores nos fazerem uma oferta séria de contrato. Sabia, entretanto, que eles nos observavam de perto para ver se conseguiríamos sustentar o momentum que havíamos construído. Era vital que se fosse para tocarmos ao vivo, deveríamos sempre fazer shows em lugares cada vez maiores. Não podíamos nos apresentar em lugares menores, ou pareceríamos um tipo de "novidade sem chance de se tornar um banda com potencial de vender discos". O problema era: nós já tinhamos ido o mais longe possível sem auxílio de alguém ou algo. Houve três momentos cruciais para essa banda. Tivessem estes momentos não ocorrido, o W.A.S.P. não teria sobrevivido. Falarei aqui do primeiro, os outros dois deixo para declarações futuras. Eu não posso exagerar a importância de onde estávamos para o desenvolvimento de nossa carreira. Veja, em Los Angeles, tudo tem a ver com percepção (por isso eu não moro mais lá). Se a percepção que as grandes gravadoras tinham da gente é que devíamos 'andar para trás' e tocar em lugares menores, então, estava tudo acabado para o W.A.S.P... a não ser que... houvesse uma ótima razão!!
O Troubadour vinha nos oferecendo GRANDES somas de dinheiros para voltarmos a tocar lá. Eu recusava as ofertas por causa desse "lance da percepção". Tudo ia mal e eu precisando de dinheiro quando Cheri Curry me ligou perguntando se eu não estaria interessado em fazer um filme. Perguntei do que se tratava ela disse "não se preocupe, eles querem o cara 'mais metal' que eu conheço, então falei de você para eles". O filme era SPINAL TAP e eu ganhei cerca de mil dólares (*). O cara que fazia agendamento no "Troub" era Mike Glick; sujeito de que não se tem muito conhecimento, porém, posso dizer aqui e agora, sem o qual todo movimento metal 1982/83 de Los Angeles nunca teria existido. Glick era o responsável por achar toda banda que veio à Costa Oeste e que mais tarde seria famosa. Ele tinha um faro fantástico para demo-tapes e descobrir as reais bandas. Continuava recebendo ofertas dele, mas agora estava ficando desesperado. Precisávamos de dinheiro, e muito, para terminar a demo do A&M. Foi quando Mike falou as palavras mágicas... "10,000.00 para voltar ao Troub e fazer três shows". Não conhecíamos esse tipo de dinheiro em 1983, então precisámos de uma "desculpa" para volta a tocar em lugares menores. Dois dias depois eu ví na tevê que o número de doadores de sangue no E.U.A. diminuira. Naquela época HIV/AIDS estava começando a cair na consciência pública, mas as pessoas ainda achavam que você pegaria AIDS doando sangue. Foi assim que me veio a idéia para o "Doação de Sangue Heavy Metal". Combinava perfeito com a nossa imagem, era diferente e nunca havia sido feito no mundo do Rock. Mas, só faltava um grande patrocinador se envolver. A Cruz Vermelha Americana era perfeita, pois a ajudaria... e nos ajudaria também!! Eles tinham o nome, a grande estrutura, e além do mais, eles tinham os caminhões cheios de enfermeiras para tirar o sangue da garotada. A idéia era perfeita demais! Só um problema: convencer a poderosa Cruz Vermelha Americana a vir com toda sua engrenagem e se envolver com a banda que bebe sangue, atira carne crua na audiência e tem um rack de tortura com uma mulher pelada. SEM PROBLEMA!!!
O "Troub" queria o show tanto quanto a gente, então Mike foi a uma reunião no centro de L.A. (onde ficavam os escritórios) e encontrou a Cruz Vermelha para tentar vender-lhes essa idéia insana. Sinceramente, eu nem imaginava que chegaria a tanto. Lá foi ele de terno e gravata (coisa que ele nunca tinha usado). Eu não fui à reunião, já que se eles me vissem a coisa toda poderia desabar antes de começar. Após esperar a tarde toda o retorno de Mike, ele chega falando, "Acho que consegui fazer com que topassem"! Eu disse "você tá de brincadeira, que besteira você falou para fazê-los concordar"? "À princípio", ele disse, "eles deram OK para a idéia toda, mas conversamos por mais umas duas horas e no final da reunião, eles pareciam muito céticos e perguntaram que tipo de garotada vai a esses shows de Rock com toda bebida e drogas rolando e tive de pensar numa resposta boa bem rápido". Eu perguntei o que ele havia dito e ele me contou, "Disse a eles, bem, eu não tenho certeza, mas os garotos que vêm a esses shows devem ser mais saudáveis que os meliantes que vocês estão sugando no bairro dos vagabundos"!!! "SIM", eu esbravejava! Não conseguia acreditar de onde ele tirara essa. ABSOLUTAMENTE O GOLPE DE GÊNIO!!!!
Como nota de rodapé, dois dias antes deles trazerem os caminhões para nosso primeiro show, eu assistia tevê e ví o chefe da Cruz Vermelha Americana com o Presidente Regan. Ele recebia um prêmio presidencial pela Cruz Vermelha no valor de UM MILHÃO. Desnecessário dizer que isso chamou minha atenção, mas nem pensei mais nisso naquela noite. Às 9 da matina do dia seguinte o telefone tocou. Eu ainda estava adormecido (típico de músico), e pensei, "seja quem for, é melhor ser bom"!! Peguei o fone ainda meio sonolento e a voz do outro lado perguntava se era o Blackie Lawless e eu disse que sim. A voz dizia "meu nome é Sr. Xxxxxxxx (deixarei seu nome de fora) e sou o chefe da Cruz Vermelha Americana". WOW, pensei, "é o cara que acabei de ver ganhar um milhão do Presidente Regan!" Perguntei como podia ajudá-lo. Ele começou a gritar comigo, perguntando "é verdade que você bebe sangue de animais no palco, porque se for, eu estou cancelando todo esse fiasco aqui e agora. Não envolverei a Cruz Vermelha em algum tipo de encenação infiel assim"!! Ele foi e foi e eu comecei a falar MUITO RÁPIDO. Levei cerca de meia hora para acalmar o sujeito, o tempo todo pensando que veria tudo que fizemos virar fumaça. Estranhamente ao final da conversa ele pareceu ser um cara legal e desejou que tudo fosse OK pra gente. Eu desliguei o fone, deitei e dei um ENORME e libertador suspiro de alívio. Na verdade, houve ainda algumas outras vezes que o "Doadores de Sangue" chegou bem próximo de ser cancelado por uma razão ou outra.
Lembro bem de estar lá na tarde do primeiro show com o gigante caminhão de sangue na porta do "Troub". Toda garotada com todas as enfermeiras dentro, era incrível. Junto com Mike em estupefação frente a lógica desafiante do espetáculo. Não dava para acreditar em nosso golpe de mestre!!!
Perguntei a ele, "você acredita no que esta vendo aqui"? Ele respondeu, "nós conseguimos, parceiro"!!!
Acreditem, porém, no que digo, essa coisa toda não foi uma façanha menor. Eu não posso sobrestimar quão importante estes shows nos foram na época. Tudo passou perto demais de nunca acontecer. Ademais, se qualquer dos eventos, que necessitavam de pequenos milagres para ocorrer, não tivessem rolado, é bem possível que o mundo nunca tivesse ouvido falar do W.A.S.P. Dizem que o destino pode ser mudado por perder um ônibus. Palavras mais verídicas nunca foram faladas!
Ganhamos os U$S 10,000.00 e terminamos a demo. Alguns meses depois voltamos a tocar no Troubador para um show de Halloween. Nunca imaginei que os selos de gravação fossem questionar o W.A.S.P. por fazer um show de "Halloween". Foi o nosso último show por uns 07 meses. Fizemos a apresentação de Halloween, que foi tudo que todo mundo podia esperar: o lugar abarrotado, o show foi ótimo; mas, em minha cabeça eu sabia que o relógio estava contra a gente. NÃO HAVIA MAIS para onde corrermos!!!
Chega o empresário... completo com os chifres em sua cabeça... quão apropriado!!!!
Mais mês que vêm.
Merry Christmas!!!!!! Happy Christmas!!! Feliz Navidad!!! Happy New Year!!!!!
B. L.
Nota do tradutor:
(*) Em Spinal Tap, toda vez que Lawless aparece ele está com a "roqueira loira".
W.A.S.P.: 30 anos de trovão
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